presidente, Jair Bolsonaro (PSL), se autointitula sarcasticamente “Capitão Motosserra”. A forma com que o chefe do Palácio do Planalto trata as questões ambientais tem gerado uma série de reações.
As mais fortes, até o momento, são os cortes de recursos da Alemanha e da Noruega. Segundo especialistas, contudo, a estratégia do governo brasileiro pode prejudicar o consumo de produtos nacionais.
Após declarações controversas, os principais financiadores de projetos de preservação da Amazônia começaram a mostrar em ações como o mundo tem percebido a atuação do “Capitão Motosserra”.
Para se ter dimensão, em uma semana o país deixou de receber R$ 287,6 milhões em investimentos estrangeiros.
A imagem e o “valor agregado” explicam a situação. Em muitos países, como na Europa, o reconhecimento de respeito ao meio ambiente e de produção sustentável representa muito. Quando os conceitos são colocados em segundo plano, os mercados se fecham.
O mercado está atento
Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da Universidade de São Paulo (USP), Rui Tavares Maluf frisa que os “estragos” pelas declarações do presidente podem ser irreversíveis.
“Não contribui em nada para a política externa. Naquilo que diz respeito rigorosamente ao meio ambiente, mas também ao mercado, que leva em consideração as exportações de mercadorias sobre as quais há dúvidas de como elas foram produzidas e industrializadas”, destaca.
Para ele, é preciso tempo para se dimensionar os impactos. “Precisamos saber como ficará a negociação dos fundos, como o da Amazônia. Se for cancelado, o estrago será muito grande. Sobretudo para a política internacional”, conclui.
Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy é ainda mais crítico. “O discurso do presidente é muito semelhante à ação dos degradadores. A repercussão disso é incalculável”, pondera.
O ambientalista acredita que, além do corte de recursos, as falas de Bolsonaro afetam as exportações. “O Brasil perde qualidade da imagem e fica associado à degradação ambiental. Isso é muito perigoso a médio prazo”, avalia.
Bocuhy pontua os recentes prejuízos com os cortes. “Temos a perda de proteção ambiental que visa a integração das comunidades para a proteção de áreas florestadas.
Além disso, ele cita o enfraquecimento de políticas públicas. “Em algumas cidades, o governo precisaria de dois anos de planejamento para inserir no orçamento que foi perdido com os cortes”, conclui.
“Medida compatível”
O governo brasileiro não vê problemas no recrudescimento da Alemanha e da Noruega. O Ministério do Meio Ambiente sustentou, em nota, que os cortes são naturais.
“A suspensão das doações é medida compatível com esse período de renegociação das regras de governança do fundo”, resume o texto.
Nessa sexta-feira (16/08/2019), o Instituto de Pesquisa Imazon publicou um relatório que aponta crescimento de 66% do desmatamento da Amazônia Legal em julho de 2019, em comparação com o mesmo mês de 2018. Os dados também mostram um aumento de 15% entre agosto de 2018 e julho de 2019.
De acordo com o relatório, o desmate na Amazônia Legal no período de um ano foi de 5.054 quilômetros quadrados. A área equivale a quase totalidade do território do Distrito Federal, com 5.760 quilômetros quadrados, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cortes recentes
O ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês, Ola Elvestuen, anunciou que, devido “aos impasses envolvendo a gestão do Fundo Amazônia”, o país fica impedido de enviar recursos ao Brasil. Nessa quinta-feira (15/08/2019), a Noruega decidiu reter o pagamento de R$ 132,6 milhões.
Bolsonaro minimizou os efeitos da decisão da Alemanha de suspender o investimento de R$ 155 milhões na Amazônia. “Vai deixar de comprar à prestação a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso”, minimizou o presidente, no domingo (11/08/2019).
Até então, a Alemanha financiava projetos para a proteção da floresta e da biodiversidade. De 2008 a 2019, o governo alemão liberou um total de 95 milhões de euros para diferentes projetos de preservação ambiental no Brasil.
Dados geram crise
A pauta ambiental está ao centro de uma crise no governo de Bolsonaro. A divulgação de números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que mostram o aumento do desmatamento no país desagradou ao presidente.
Bolsonaro acusou o ex-diretor do órgão Ricardo Galvão de agir a serviço de organização não governamental (ONG) internacional. O desentendimento público acabou em demissão.
A área da Amazônia com alerta de desmatamento subiu 278% em julho, em comparação com o mesmo mês de 2018. No ano passado, houve alerta em 596,6 km² na região. Em 2019, o número foi de 2.254,9 km², segundo o Inpe.
Após a demissão de Galvão, Bolsonaro disse o Inpe vai apresentar os dados para a Presidência antes de divulgá-los e alegou que “maus brasileiros” usam essas informações para prejudicar o país.