Os ataques verbais do presidente Jair Bolsonaro aos países europeus e o descaso com o desmatamento no país podem custar caro não só ao Brasil, mas também ao Mercosul, integrado por Argentina, Paraguai e Uruguai. A partir de segunda-feira até sexta-feira, em Buenos Aires, acontece nova rodada de negociações do acordo comercial entre o bloco sul-americano e a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA, na sigla em inglês), que está fora da União Europeia.
Fontes próximas às negociações demonstram preocupação com o fato de que Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein, que integram a EFTA, podem fazer exigências para firmarem o acordo, principalmente, na área ambiental como fez a UE, focando no desenvolvimento sustentável.
Entre os negociadores, tudo indica que o clima não está favorável, principalmente para o Brasil, para que o tratado de livre-comércio seja fechado nesta semana. As críticas de Bolsonaro à Noruega, uma das principais economias do grupo e maior financiadora do Fundo Amazônia, que acompanhou a Alemanha e retirou R$ 133 milhões de recursos destinados a essa carteira, nos últimos dias, contribuíram para esse clima desfavorável para o acordo entre Mercosul e EFTA. “As declarações do presidente foram infelizes e prejudicou o tratado”, afirmou o especialista em relações internacionais Wagner Parente, CEO da BMJ Consultoria.
As negociações para o tratado entre EFTA e Mercosul começaram no governo Michel Temer, em 2017. A expectativa de especialistas e fontes do governo era de que, após a celebração do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, no fim de junho, a assinatura com a EFTA ocorreria automaticamente.
Contudo, as esperanças de celeridade foram por água abaixo. Há um clima de tensão entre os parceiros. A UE, antes de anunciar o acordo com o Mercosul, exigiu que o Brasil respeitasse o Acordo de Paris, que definiu ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, entre elas, a diminuição dos desmatamentos.
Para piorar, a situação atual da Argentina, cujas eleições sinalizam derrota para o atual presidente, Mauricio Macri, que não conseguiu debelar a crise financeira do país, que afundou em uma recessão com inflação e juros na estratosfera, também não colabora para o acordo entre o bloco sul-americano e a EFTA. O comércio bilateral gira em torno de US$ 9 bilhões.
“O cenário atual mudou e piorou para que um entendimento fosse fechado rapidamente como o esperado no fim de junho”, ressaltou Parente. Ele lembrou que os principais produtos importados pelo Brasil dos países da EFTA são de química fina, como medicamentos para medicina humana e veterinária, matéria-prima de fertilizantes e derivados de petróleo.