André Crepaldi
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O cigarro eletrônico já é considerado o responsável por dezenas de mortes e mais de dois mil casos de doenças pulmonares graves nos Estados Unidos em 2019. No Brasil, já foram registrados três casos oficialmente, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Embora a venda do produto seja proibida no país, seu uso não é, e muitos usuários o adquirem em outros.
As causas da doença ainda são imprecisas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária criou um Grupo de Trabalho para analisar o assunto e audiências sobre o uso e a comercialização do produto estão sendo promovidas. Alertas foram dados a hospitais e entidades médicas sobre os sintomas da síndrome, que nos EUA recebeu o nome de “Evali” (sigla em inglês para E-cigarette, or Vaping, product use–Associated Lung Injury).
A síndrome provoca dificuldade para respirar, dores abdominais, tosse, náusea e vômito. Análises de amostras do tecido pulmonar de pacientes – incluindo dois que morreram – mostram que os cigarros eletrônicos provocam um tipo de lesão química direta nas células pulmonares semelhante às causadas por exposição a vapores químicos tóxicos, gases venenosos e agentes tóxicos.
Cientistas americanos não sabem precisar qual componente é responsável pela lesão pulmonar que pode levar à morte. Uma das hipóteses são os vapores tóxicos que o tipo de dispositivo pode emitir em determinadas situações.
Esse tipo de cigarro é uma espécie de dispositivo “vaporizador” de aromas, sabores e outros produtos químicos: álcool, glicerina, essências e, na maioria deles, nicotina. Os cigarros tradicionais funcionam por combustão. Já os eletrônicos – também chamados de vapes ou e-cigarettes – funcionam por vaporização e aparecem, também, na forma de “canetas” com um líquido interno. Utilizam bateria para evaporar a mistura de componentes. A suspeita é de que os componentes das misturas estejam provocando as síndromes respiratórias.
Uma das linhas de pesquisa analisa o uso de THC (Tetra-Hidrocanabinol), um componente psicoativo da maconha que está presente nas misturas de essências utilizadas. O THC poderia ser um dos responsáveis por provocar os casos registrados nos Estados Unidos. Mas, até agora, não se sabe o que exatamente causa essa síndrome respiratória e se está ligada a um tipo específico de aparelho, substância ou ingrediente usado.
Estudos recentes também associam o uso dos vaporizadores a tumores de pulmão. Em outubro passado foi divulgado um experimento da Universidade de Nova York que expôs camundongos a um preparado vaporizador idêntico ao usado em cigarros eletrônicos, causando a incidência de tumores de pulmão e hiperplasia de bexiga nos animais. O novo experimento é o primeiro a estabelecer, ainda em cobaias, uma ligação direta entre o fumo eletrônico e o câncer. Outros estudos já haviam mostrado que esses produtos são capazes de danificar o DNA das células.
O estudo joga por terra a estratégia das fabricantes de que o dispositivo seria uma alternativa ao cigarro comum oferecendo menos riscos. Os fabricantes contestam a pesquisa. O que estava acontecendo com o cigarro eletrônico foi o mesmo que aconteceu na década de 1970 – um estímulo ao uso do eletrônico como fizeram com o cigarro comum – com publicidade voltada para os jovens mostrando que não há riscos à saúde. Mas o que estamos vendo é que o dispositivo oferece os mesmos riscos dos cigarros tradicionais.
Nos EUA o cigarro eletrônico é comercializado e utilizado livremente. Estima-se que mais de 3,5 milhões de adolescentes usem os vaporizadores, movimentando um mercado de US$ 11,5 bilhões. Por conta dos casos graves de doenças, o governo americano analisa proibir as essências ou sabores nos cigarros eletrônicos, justamente para tirar o apelo para o público jovem.
O fato é que o pulmão não foi feito para receber nenhum tipo de sustância a não ser o ar que respiramos. Qualquer outra coisa ingerida pode provocar lesões e doenças graves. Os tumores malignos de pulmão são os mais letais entre todos os tipos de câncer, sendo a principal causa de morte por câncer tanto em homens como em mulheres na América Latina. A taxa de mortalidade é de até 82% dos casos. Em cerca de 90% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao tabagismo.