PROFESSOR JOÃO VALENTE
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A pandemia do coronavírus é um divisor de águas para o Brasil e o mundo. Não há como negar o impacto das mudanças na vida dos profissionais das mais diversas áreas. Em Mato Grosso, berço do agronegócio, mais de 15 mil profissionais da engenharia e agronomia devem ser impactados economicamente, e grande parte deles precisará de apoio durante e no período pós-pandemia.
Esse é justamente o papel do sistema à qual estão vinculados, oferecer suporte. Por isso, estou exigindo do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e da Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais que realizem, em caráter de urgência, programas de auxílio assistencial para profissionais registrados ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea).
Vale a pena esclarecer que outros conselhos de classe já tomaram essa decisão. O nosso sistema tem um braço com o nome de Caixa de Assistência aos Profissionais, que é a “Mútua”, para onde são destinados compulsoriamente os 20% da cobrança de ART (Anotação de Responsabilidade Técnica). Já passou da hora de implantarem o auxílio assistencial, sem demora, como forma de devolver o investimento feito.
Mesmo tendo protocolado o pedido junto às instituições competentes, acredito que isso não será suficiente. Então, venho conclamando os nossos engenheiros e agrônomos de todo estado para que cobrem junto à Mútua regional e a nacional. A taxa foi instituída justamente para que possam contar com apoio em momentos de necessidade e o momento é agora! Já!
Outro dia ouvi um empresário dizer que precisamos parar de “achar culpados” e encontrar oportunidades em meio à crise. Para o Crea Mato Grosso, essa é uma hora decisiva de mostrar uma gestão eficiente e moderna. Assim, será uma referência de instituição pública forte, estável e com credibilidade e representatividade para rediscutir os rumos da engenharia, agronomia e outras atividades econômicas vinculadas.
A principal “quebra de paradigmas” passa pelo uso da tecnologia sem que se precise deslocar longas distâncias. O Covid-19 nos mostrou que é possível desenvolver ações sem sair de casa e isso será importante para Mato Grosso, que possui 141 municípios e uma dimensão continental difícil de abarcar. Portanto, temos o desafio de aperfeiçoar a ferramenta e-Crea, que já disponibiliza a profissionais, empresas e sociedade serviço 24h em várias plataformas.
Deste modo, teremos meios de alcançar os mais diversos rincões diminuindo a necessidade da presença física nos moldes antigos, o que diminui custos e facilita muito a vida de todos. Também teremos chance de potencializar as discussões sobre o exercício profissional, no sentido de aplicar a técnica sem prejuízo, indo direto ao que interessa a cada um e conforme as necessidades regionais.
Neste momento difícil, ficou evidente a importância e a contribuição que o Crea pode dar aos profissionais e à sociedade. Tenho clareza que esse sentimento de “pertencimento” adormecido vai aflorar e que iremos enxergar, conjuntamente, a importância das entidades de classe e instituições de ensino. São elas o braço forte de apoio e sustentação do sistema, pois delas vêm os conselheiros que decidem, analisam processos, emitem e apresentam pareceres, individuais ou coletivos, em câmaras especializadas e em plenário.
Mesmo com todos os problemas e necessidades de melhoria, são os conselhos de classe que regulamentam a nossa profissão. As críticas são perfeitamente compreensíveis no campo da gestão democrática, porque historicamente, muitos não se sentem contemplados ou têm as expectativas atendidas. É como se contribuíssem sem obter retorno.
É fundamental neste momento termos entidade classista e conselho fortes, para que a profissão não fique solta e à mercê, concorrendo com aqueles que, sem competência técnica necessária, prestam serviço ou desenvolvam produtos que colocam em risco à saúde, à segurança e o meio ambiente.
João Valente, engenheiro agrônomo, professor Dr. aposentado da UFMT, presidente licenciado do CREA