ÍNTEGRA COMUNICAÇÃO / JULIANA SCARDUA E NATÁLIA LEÃO
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Ganhos em escala logística, em economia nos fretes e custos de operação e, além de tudo isso, efeitos positivos ao meio ambiente. São notórias as vantagens à adesão ao uso do gás como matriz energética às frotas de caminhões que atravessam o Brasil por todas as direções levando a produção nacional aos portos e ao consumidor em geral. A redução no custo do frete chega a gaps vultosos que ultrapassam a marca de 30%, apontam especialistas.
Corredores azuis são rotas que garantem autonomia para abastecimento de veículos movidos a gás natural veicular comprimido (GNC) ou gás liquefeito (GNL). O azul é uma referência direta à cor das chamas. O uso do gás natural para mover veículos pesados vem sendo cada vez mais estudado no Brasil, uma das propostas para um maior equilíbrio na matriz energética e de infraestrutura. O assunto foi densamente debatido em novo webinar promovido pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, reunindo estudiosos, empresários e representantes do governo federal.
A discussão passa pela incorporação do gás como opção energética no vai e vem de cargas dos corredores logísticos, as principais vias de infraestrutura no deslocamento dos produtos da economia brasileira. Nesse sentido, estudos sobre investimentos estratégicos no transporte do escoamento das cadeias produtivas acenam para o gás natural como uma alternativa sustentável, tanto no prisma econômico quanto ambiental. A análise considera, sobretudo, o uso de corredores bioceânicos como mecanismo de integração entre logística e eficiência energética.
Nas palavras de João Carlos Parkinson de Castro, ministro da Carreira Diplomática do Ministério das Relações Exteriores, os corredores bioceânicos podem ser compreendidos como um empreendimento multidimensional de infraestrutura, que gera novos investimentos de clusters industriais, criando fluxos de comércio e de investimentos. Isso estimula o desenvolvimento econômico-social do país e, no plano da geopolítica e da diplomacia, estabelece a integração entre povos, entre regiões e a aproximação das fronteiras.
“A integração da América do Sul pode ser desempenhada através de diversos vetores: político, econômico, cultural, comercial e energético. Pela proposta do corredor rodoviário bioceânico, ao combinar novas infraestruturas dos serviços logístico modernos entre Chile, Argentina, Paraguai e Brasil, entrando pelo Mato Grosso do Sul, isso possibilita que os países possam explorar o potencial energético dos corredores azuis, através do fomento do gás natural”, defende Parkinson de Castro.
Os números entusiasmam líderes empresariais de diferentes segmentos econômicos, a começar pela análise dos custos de importação de insumos utilizados pela agropecuária e indústria nacional. O preço pago pelo importador brasileiro para que uma tonelada saia de um navio em Singapura, passando pelo Canal do Panamá, chegando ao Porto de Santos e, do terminal, percorra de caminhão mais mil quilômetros até Campo Grande (MS), é de US$ 602,06. Caso a rota fosse alterada, utilizando o corredor bioceânico passando pelo Porto de Anfogasta (Chile), a mesma carga chegaria ao mesmo destino brasileiro por US$ 467,50 a tonelada. Uma diferença de 22,3%.
Conforme a apresentação feita pelo ministro, com a utilização estratégica de Anfogasta como novo portal na América do Sul rumo ao Brasil, o potencial de redução de custos generalizado com o frete de importação de bens intermediários da Ásia e redistribuição a partir de Campo Grande chega a 37%. Esse percentual calculado leva em conta as rotas rodoviárias Anfogasta-Uruguaiana-Campo Grande-Sorriso (Mato Grosso), a um custo generalizado do frete da ordem de US$ 1.359,61 ante US$ 850,57 ao final da rota Corredor Bioceânico-Campo Grande-Sorriso.
Considerando o mesmo ponto de partida (Anfogasta) e chegada (Sorriso), também foram calculadas as opções de translado com o entremeio por Foz do Iguaçu-Campo Grande (US$ 1.189,25 a tonelada) e Ponta-Porã-Campo Grande (US$ 968,93). As vantagens no uso de gás, nesses cenários, são praticamente incontestáveis.
O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, José Mauro Ferreira, atesta que o gás natural é um dos vetores essenciais para integração bioenergética na América do Sul. “A interligação entre os países a partir dos corredores azuis é importante não somente para movimentar o mercado de bens e produtos através dos veículos pesados, movidos à gás natural, como pode ser fundamental para transportar o gás liquefeito da costa do Brasil para o interior do país ou para os demais países da América do Sul, para pontos onde gasodutos não chegam”.
O tema corredores azuis está na pauta do Programa Pró-Brasil, cunhado pelo governo federal com o objetivo de integrar e aprimorar ações estratégicas para recuperação e retomada do crescimento socioeconômico frente aos impactos do novo coronavírus. André Pompeu de Amaral Mendes, gerente do Departamento de Gás, Petróleo e Navegação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destaca que uma das formas para viabilizar a injeção de investimentos será por meio de consórcios estruturantes, com o engajamento do poder público e iniciativa privada, com o objetivo de fomentar o aumento de postos de combustíveis e o número de caminhões GNL nas estradas.
“O BNDES tem entre os objetivos o de promover o escoamento e transporte do gás natural do pré-sal, desenvolver os investimentos de distribuidoras na ampliação da rede, fomentar o uso de gás natural em indústrias e termelétricas, e também, a ampliação do uso veicular especialmente caminhões e ônibus”. Foco estratégico bem recebido pela iniciativa privada. Para o diretor de Assuntos Internacionais e Governamentais da Scania Latim America, Gustavo Bonini, a incorporação do gás natural é símbolo de uma nova onda de tecnologia no setor de transportes. “Nossa empresa tem muito orgulho em divulgar e apoiar essa bandeira. Gerar produtos sustentáveis que sejam econômicos, com o olhar voltado para os impactos ambiental e social, é objetivo do projeto de transporte sustentável desenvolvido pela Scania”.
O webinar “Desafios para a Integração Energética e Logística Através da Proposta dos Corredores Azuis” contou com a mediação de Fabrizzio Cedraz Gaspar, presidente do Instituto Surear, e Marcelo Mendonça, diretor de Estratégia e Mercado da Abegás. É a 12ª edição da Aspen, Assembleia Permanente pela Eficiência Nacional, realizada pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia desde o início da pandemia, contribuição efetiva ao debate qualificado de questões de grande relevância nacional.
O conteúdo do webinar, na íntegra, já está disponível no YouTube e as apresentações dos palestrantes podem ser acessadas no perfil do Instituto no LinkedIn. Os eventos online contam com o patrocínio das marcas Aliança, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Câmara Brasileira de Contêineres (CBC), Dex Soluções Logísticas, Iochpe-Maxion, JSL, Movida, Scania e Repom S.A.