O começo de 2021 foi frustrante para quem acompanhava o projeto Loon. Na época, a Alphabet, dona do Google, encerrou o programa que levaria internet a lugares remotos a partir de balões por causa dos elevados custos operacionais. Mas existe a suspeita de um outro motivo para o cancelamento: o risco de os balões poluírem o céu.
Se o projeto Loon foi encerrado há pouco mais de um ano e meio, por que o assunto voltou à tona agora? Por causa de uma discussão levantada logo após a SpaceX anunciar o plano de levar internet a celulares por meio dos satélites Starlink.
Via Twitter, Jonathan O’Callaghan, jornalista especializado em temas aeroespaciais, questionou se não existe uma forma de impedir que os satélites da companhia fundada por Elon Musk dificultem atividades de radioastronomia.
De fato, desde que o projeto Starlink foi anunciado, astrônomos e especialistas da área alertam para o fenômeno da poluição luminosa no céu. O problema é causado pela quantidade crescente de satélites em órbita, que dificulta a observação do espaço a partir da Terra.
Também via Twitter, o astrônomo Ronald Drimmel comentou, quase que ao mesmo tempo, que os satélites Starlink também têm o potencial de causar poluição ambiental.
Isso porque a SpaceX tem planos de colocar 30 mil satélites em operação. Drimmel calcula que, para chegar a esse número, a companhia precisa fazer cerca de 250 lançamentos de satélites ao longo de cinco anos.
Existe um agravante. Cada satélite Starlink de primeira geração tem vida útil estimada entre cinco e sete anos. Isso significa que a SpaceX teria que continuar fazendo lançamentos regulares para substituir os satélites que deixarem de funcionar.
Em resumo, além do possível lixo espacial gerado pelas unidades inoperantes, as operações da Starlink poderiam aumentar a poluição do ar em razão da queima de combustível pelos foguetes em cada lançamento.
Mas e os balões do projeto Loon?
A discussão ganhou repercussão no Twitter. Foi quando Rick Altherr fez o seguinte comentário para complementar as mensagens de Drimmel:
“Fato perturbador: nós descobrimos isso [o risco de danos ecológicos] no Google e essa é uma das razões pelas quais interrompemos o programa [Loon]. Todos aqueles que deixaram o programa para começar a Starlink sabiam de tudo isso”.
Altherr é um engenheiro de software que trabalhou por quase dez anos no Google e conheceu de perto a iniciativa, tendo inclusive trabalhado em um sistema usado por lá.
Os balões do Loon não precisavam ser lançados com foguete, obviamente. Apesar disso, também poderiam causar problemas ambientais se caíssem e não fossem devidamente recolhidos ou se componentes se desprendessem deles.
É mais provável, no entanto, que os balões do projeto Loon, se operados em grande quantidade, também interferissem na observação do espaço ou em atividades relacionadas. Até porque eles voavam a cerca de 20 km da superfície, um altitude muito mais baixa que a dos satélites Starlink (aproximadamente 550 km).
Custos também pesaram para o fim do Loon
Em um tweet subsequente, Altherr fez questão de destacar que o fim do projeto Loon foi uma consequência de várias fatores, não de apenas um. “A falta de um modelo de negócio viável foi outro”, completou.
Esse discurso condiz com o argumento da Alphabet. Quando o projeto foi encerrado, a companhia apontou a dificuldade de encontrar uma forma de reduzir os custos da divisão Loon como o principal motivo para a decisão.
O projeto Loon foi anunciado oficialmente em 2013 com a proposta de, por meio de balões, levar internet a locais com pouca ou nenhuma infraestrutura de telecomunicações. Antes de ser encerrada, a iniciativa foi testada em vários países, incluindo o Brasil.
Fonte: IG TECNOLOGIA