Dois engenheiros veteranos do Facebook admitiram que não fazem ideia de onde os dados dos usuários são armazenados e o que exatamente é feito com eles. As afirmações foram feitas em uma audiência nos Estados Unidos relacionada ao escândalo Cambridge Analytica, no qual dados de 87 milhões de usuários do Facebook foram vazados para a empresa de comunicação política e possivelmente utilizados para manipulação.
Apesar da audiência ter acontecido em março, sua transcrição só foi revelada recentemente. As falas dos engenheiros vieram a público nesta quarta-feira (7), em reportagem do site The Intercept.
Na audiência, os engenheiros do Facebook, ambos com mais de 20 anos de experiência, foram perguntados sobre onde os dados coletados dos usuários são armazenados. “Não acredito que exista uma única pessoa que possa responder a essa pergunta”, respondeu Eugene Zarashaw, diretor de engenharia do Facebook. “Seria necessário um esforço de equipe significativo para poder responder a essa pergunta”, continuou.
Em seguida, os engenheiros foram questionados sobre como o Facebook rastreia dados de uma determinada pessoa, e a resposta foi similar. “Seria necessário várias equipes de anúncios para rastrear exatamente por onde os dados fluem. Eu ficaria surpreso se houvesse uma única pessoa que pudesse responder a essa pergunta estreita de forma conclusiva”, disse Zarashaw.
A audiência aconteceu pela impossibilidade da Justiça de obter dados do Facebook neste processo, que já dura quatro anos. Quandos os juízes pediram à empresa que enviasse as informações que havia coletado dos autores do processo, o Facebook enviou apenas aquelas disponíveis quando os usuários clicam para fazer o download de seus dados .
O que a rede social armazena, porém, vai muito além. Mas o Facebook não conseguiu enviar essas informações por não conseguir organizá-las. A transparência da plataforma, portanto, é impossibilitada por fatores técnicos.
Durante a audiência, Zarashaw e Steven Elia, gerente de engenharia de software do Facebook, afirmaram que a plataforma tem um aparelho de processamento de dados tão complexo que até os funcionários não conseguem compreender.
O responsável por fazer as perguntas na audiência chegou a comentar: “Alguém deve ter um diagrama que diga que é onde esses dados são armazenados”. Zarashaw, então, respondeu: “Temos uma cultura de engenharia um tanto estranha em comparação com a maioria, na qual não geramos muitos artefatos durante o processo de engenharia. Efetivamente, o código é frequentemente seu próprio documento de design. Isso também foi aterrorizante para mim quando entrei pela primeira vez”.
Em outro momento da audiência, os funcionários foram perguntados se é possível descobrir quais sistemas realmente contêm dados de usuários que foram criados por meio de inferência de máquina. “Não sei”, respondeu Zarashaw. “É um enigma bastante difícil”.
Ao The Intercept, a porta-voz da Meta Dina El-Kassaby disse que não é surpresa que os engenheiros não saibam onde os dados são armazenados. “Fizemos e continuamos fazendo investimentos significativos para cumprir nossos compromissos e obrigações de privacidade, incluindo amplos controles de dados”, afirmou.
Fonte: IG TECNOLOGIA