A nove dias do primeiro turno das eleições 2022 , pesquisas de intenção de voto divulgadas pelo Datafolha mostram que a corrida à Presidência da República deste ano é uma das mais disputadas desde a redemocratização do Brasil.
Análise feita pelo iG aponta que a diferença entre os dois primeiros colocados na pesquisa divulgada na noite dessa quinta-feira (22) é de apenas 14 pontos percentuais, mesmo número registrado nas eleições de 2018. Segundo os últimos dados do instituto , o e x-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece na frente da disputa ao Planalto, com 47%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL ) , que tem 33% das intenções de voto.
Em terceira posição, está o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) , com 7%, e, em quarta, a senadora Simone Tebet (MDB) , com 5%.
Antes da eleição de 2018 — a qual Bolsonaro ganhou do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) —, o número mais baixo registrado pelo Datafolha a aproximadamente 10 dias do primeiro turno foi em 1989.
À época, o ex-presidente Fernando Collor venceu Lula, que disputava sua primeira eleição presidencial. De acordo com os dados, 11 dias antes da votação, Collor tinha 21% das intenções, enquanto Lula apresentava 14%, isto é, os candidatos estavam com uma diferença de 7 pontos percentuais.
Já nas últimas eleições presidenciais, 17 dias antes do primeiro turno, Bolsonaro marcava 28% das intenções, enquanto Haddad, que aparecia em segundo lugar, tinha 16%.
Todos os candidatos que lideravam as pesquisas divulgadas pelo instituto a poucos dias das eleições venceram a disputa ao Planalto.
Veja, abaixo, os dados analisados pelo iG :
Campanha “vira voto”
Outro destaque das eleições deste ano é que, o candidato na terceira colocação da última pesquisa Datafolha apresenta um dos menores percentuais desde a redemocratização.
Segundo o último levantamento do instituto, Ciro Gomes apresenta 7% das intenções de voto. Antes disso, o número mais baixo registrado para um candidato na terceira posição foi em 2006, com a ex-senadora Heloísa Helena, que também tinha 7% das intenções a nove dias no primeiro turno.
Anteriormente, em 1994, o ex-deputado Enéas Carneiro estava na terceira colocação e marcou apenas 5% das intenções — menor percentual já registrado para a posição dentro do período analisado. Em 1998, Ciro apareceu em terceiro, com 8% a 14 dias das eleições.
Neste ano, nas redes sociais, tem crescido cada vez mais o número de adeptos à campanha pelo chamado voto útil. A pressão dos apoiadores de Lula e Bolsonaro se intensifica sobre os eleitores dos candidatos da terceira via, para que eles mudem o voto e ajudem a melhorar o desempenho dos dois candidatos que aparecem à frente das pesquisas de intenção de voto.
O eleitorado de Ciro e Tebet são os principais alvos, já que eles aparecem em terceiro e quarto lugar, respectivamente, nos levantamentos.
Segundo Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, a razão pela qual o ex-governador do Ceará apresenta percentuais baixos deve-se ao fato da polarização, que é a divergência entre extremos ideológicos políticos.
“O fato do Ciro Gomes ter baixas intenções de voto é o reflexo da polarização. As duas candidaturas mais bem colocadas estão polarizando os eleitores. Acho que nesse caso a questão da polarização e o acréscimo do esforço pelo voto útil é que tem drenado intenções de voto no caso do Ciro Gomes e Simone Tebet”, diz o professor.
Consentino acrescenta que estas são eleições presidenciais bastante acirradas, referindo-se a Lula e Bolsonaro.
“Eu acho que é uma das disputas mais acirradas que a gente tem claramente. Do ponto de vista das pesquisas, talvez a gente esteja assistindo um dos duelos onde os candidatos estão mais próximos”.
Segundo turno
Nos cenários de um possível segundo turno testados pelo Datafolha , Lula ainda assim ganharia contra todos os concorrentes, marcando 54% contra 38% de Bolsonaro, por exemplo.
De acordo com Consentino, uma importante decisão para um segundo turno é o índice de taxa de rejeição, a qual o atual mandatário lidera com 52%, segundo dados da última pesquisa Datafolha.
“A taxa de rejeição é um dado decisivo pensando em segundo turno isso sempre foi assim e no caso atual em que o atual presidente exibe um índice bastante alto de rejeição, ele pode também de alguma forma levar a derrota no segundo turno”.
O cientista político ainda explica que a decisão também depende daqueles candidatos que não chegaram ao segundo turno.
“No segundo turno os eleitores não votam no candidato que eles querem, mas eles votam muito mais para barrar aquele que eles não querem, sobretudo pensando naqueles que ficaram “órfãos” das candidaturas, que ficaram pela primeiro turno”.
Diferença entre eleições
As eleições de 2018 e as eleições de 2022 podem ser consideradas diferentes por dois motivos: a polarização exacerbada e a violência política.
Em 2018, havia também uma polarização, a maior disputa era entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, neste ano, é entre Lula e Bolsonaro. Há quatro anos, o então candidato e hoje presidente sofreu uma facada em Minas Gerais durante campanha eleitoral. Neste ano, a violência política apresenta um crescimento, dado os assassinatos entre os eleitores do atual mandatário e do ex-presidente justificados por diferenças políticas e ataques a jornalistas.
Um exemplo é o caso do eleitor de Lula, que foi morto, no dia 7 de setembro, no Mato Grosso, a golpes de faca e machado por um apoiador de Bolsonaro. Segundo a Polícia Civil, o assassino confessou que o motivo do crime foi divergência política.
Para o cientista político, falta debate pragmático nesta eleições.
“A gente vê muito pouco de debates programáticos sobre o que vão fazer depois, sobre direitos e muito mais uma disputa calcada numa popularidade, quase que por vezes Messiânica, entre duas candidaturas”, afirma Consentino.
O professor também atribui essas diferenças aos ataques de Jair Bolsonaro a democracia e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .
O atual presidente já atacou diversas vezes o Supremo Tribunal Federal, xingou o ministro do STF, Alexandre de Moraes em atos de 7 de setembro de 2021 e duvidou de confiabilidade das urnas eletrônicas.
Em julho deste ano, ele disse: “Quando se fala em eleições, vem a nossa cabeça transparência. E o senhor Barroso (Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE) , também como senhor Edson Fachin (presidente do TSE), começaram a andar pelo mundo me criticando, como se eu estivesse preparando um golpe. É exatamente o contrário o que está acontecendo”, afirmou Bolsonaro, sem provas. Ele virou alvo de investigações no STF e no TSE após as declarações anti-democráticas.
“Um ingrediente importante é a ameaça sistemática de uma das candidaturas no caso do atual presidente ao sistema de justiça eleitoral questionando a leitura do processo ou questionando as instituições que regulam o próprio processo eleitoral, isso é inédito. A gente já tinha visto candidatos debaterem questionar as eleições, o processo eleitoral, mas nunca a lisura da própria Justiça Eleitoral”, disse o especialista em política.
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Fonte: IG Política