Em seminário realizado nesta terça-feira (27/09), pelo Instituto Fórum do Futuro em parceria com o SEBRAE, representantes de universidades agrárias do país se reuniram para um debate sobre as oportunidades e avanço brasileiro nas questões voltadas à segurança alimentar e pesquisas sobre sustentabilidade existentes nos processos produtivos.
Em abertura do evento, Alysson Paolinelli, presidente do Instituto Fórum do Futuro, falou sobre a janela de oportunidades que há pela frente para transformar as crises na proposição de um novo diálogo, num Pacto Global do Alimento, que defina como os povos tropicais vão poder colaborar nas principais agendas da humanidade enfrentadas hoje.
Na sequência do debate, Durval Dourado Neto, diretor da ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP), pontuou que é possível estruturar modelos de governança de políticas públicas e privadas que permitam ao Brasil alimentar mais 1 bilhão de pessoas sem desmatar. De acordo com Durval, “a intensificação do sistema produtivo é o grande segredo, sendo que o foco seria organizar essa proposição numa visão de Estado”.
A ideia central é fazer um plano de ação de política pública para atender a demanda mundial no que diz respeito à segurança alimentar sem a necessidade de desmatar nenhum hectare.
Seguindo a linha de raciocínio dos demais participantes, o presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Evaldo Vilela, o principal desafio está em democratizar e disseminar o uso do conhecimento e das ferramentas tecnológicas entre os produtores. Para Vilela, “a questão da agricultura e da produção sustentável está ao alcance de todas as universidades que, de alguma maneira, contribuem para uma produção que respeita os biomas”, ressalta Evaldo.
Desafios no sistema de produção de alimentos
Antes de iniciar a fala dos representantes de algumas universidades federais, Márcio Miranda, diretor geral do Fórum do Futuro, destacou a difícil missão de articular todos os atores envolvidos no sistema de produção alimentar brasileiro com a agenda ESG, que pauta cada vez mais a governança dos negócios do setor.
Para Márcio, o mundo está em acelerada transformação ao mesmo tempo em que vive crises no campo civilizatório que vão impactar decididamente a forma como produzimos e consumimos alimentos. “As cadeias produtivas e os mercados serão cada vez mais influenciados por estas pautas civilizatórias, nas chamadas “bio based societies”, completa o diretor.
Panorama e soluções sustentáveis
Assessora especial da reitoria da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Maria Teresa apresentou o trabalho e ações conduzidas pela instituição relacionadas à sustentabilidade em sistemas de produção de alimentos no domínio fitogeográfico Amazonas.
Maria Tereza explicou que a UFAM trabalha com diversos parceiros, a fim de agregar força na busca de resultados para exploração do que possuem e do que acreditam que tenham maior potencial de mercado que agregue valor à agrobiodiversidade.
Com programas de pós-graduação que focam na questão da sustentabilidade, conservação e valorização dos recursos naturais e dinâmicas socioambientais, a assessora reiterou as particularidades que a universidade possui em relação a outras, por conta do fragmento florestal urbano presente dentro do local. “Procuramos aproveitar o que nós temos em termos de biodiversidade, com um diferencial de conhecimento desenvolvido com a nossa vivência na Amazônia”, aponta Maria Teresa.
Com trabalho importante no desenvolvimento de cultivares e pesquisas no setor do agronegócio, a UFU (Universidade Federal de Uberlândia) tem o objetivo de proporcionar o acesso a um alimento de qualidade e sustentável, possuindo diversos projetos que se relacionam com o assunto.
De acordo Thiago, diretor de inovação da UFU, a instituição possui 28 cultivares protegidos e cultivados, sendo a maior parte de legumes, hortaliças e biofortificados. “A universidade colabora com diversas iniciativas e traz real preocupação sobre o tema por conta da inserção local das diferentes características que cada região está inserida”, pontua o diretor.
Márcio Machado, pró-reitor da Universidade Federal de Lavras (UFLA), iniciou sua fala destacando a importância e destaques de projetos que a UFLA tem realizado ao longo dos anos, como a contribuição histórica dos estudos sobre fertilidade e correção de solo do cerrado realizados nas décadas de 60 e 70.
Entre as várias frentes de atuação que a Universidade Federal exerce, Márcio destacou as ações e projetos de pesquisas desenvolvidos na parte de microbiologia, conservação e resistência do solo, nutrição e fertilidade de plantas, pontuando o trabalho conjunto realizado com a Agência Brasileira de Operação do Ministério de Relações Internacionais, de projetos específicos com a África na área do algodão, solo, produção de alimentos vegetais e alimentos animais.
Para Machado, a parceria é positiva e o Brasil poderia explorá-la de forma mais eficiente. “O Brasil perde uma grande oportunidade ao não entrar na África de forma mais forte em nosso modelo de agricultura tropical. Gostaria que o Brasil fizesse e desenvolvesse uma agricultura tropical para que possamos tirar lucros e benefícios também, comercializando nossa tecnologia com os africanos”, concluiu o pró-reitor.
Finalizando as apresentações do dia, Clodoaldo e Alexandre Silva, ambos representando a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), falaram sobre a importância da universidade desenvolver ciências que tragam benefícios para Rondônia e região.
Com projetos e trabalhos na perspectiva da agricultura e do desenvolvimento sustentável local, a instituição possui cerca de 26 programas de pós-graduação, que visam contribuir para práticas mais sustentáveis na agropecuária, onde o estado, que é bastante forte nessa cadeia, enfrenta um problema muito sério sobre a questão ambiental e unidades de preservação, que estão sob ameaça.
Além da questão do reflorestamento, Alexandre citou a dificuldade de desenvolver tecnologias que permitam processos mais sustentáveis nas cadeias produtivas. “Um desafio grande para o estado de Rondônia, junto a universidade, que tem tentado fortalecer as linhas de pesquisa para mostrar que existem alternativas”, completou Silva.
Fonte: AgroPlus