Há pouco mais de dois anos, no segundo trimestre de 2020, os primeiros efeitos econômicos e sociais da pandemia da Covid-19 começaram a ser sentidos nas metrópoles brasileiras, com destaque para a redução da renda do trabalho. Após sucessivas quedas , a renda domiciliar per capita do trabalho nas metrópoles chegava ao pior valor da série histórica no primeiro trimestre de 2022: R$1.448,66. Agora, de acordo com os últimos dados liberados pelo IBGE, entre o primeiro e o segundo trimestres de 2022 houve aumento de 4,8% na renda domiciliar do trabalho, que alcançou a média de R$1.518,35. O valor ainda é 6,5% menor do que aquele encontrado no início de 2020.
As informações estão na décima edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo PUCRS Data Social, o INCT Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Os dados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita do trabalho, incluindo o setor informal. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o segundo trimestre de 2022, de acordo com o IPCA.
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Segundo Andre Salata, professor da PUCRS e um dos coordenadores do estudo, “o aumento recente da renda do trabalho deve ser explicado pela combinação da redução da taxa de desocupação com o arrefecimento da inflação”. Salata também destaca que “esse aumento ocorre após oito semestres seguidos de renda em patamares muito baixo, estando longe de ser suficiente para recuperar as perdas provocadas pela pandemia”.
Uma boa notícia, no entanto, é que para os 40% mais pobres de nossas metrópoles a renda do trabalho vem se recuperando desde o quarto trimestre de 2020, e agora, no segundo trimestre de 2022, alcançou o valor de R$ 250,64, chegando a um patamar muito próximo àquele anterior à pandemia.
Segundo Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR-UFRJ e um dos coordenadores do estudo, “no início da pandemia os mais pobres foram os que mais sentiram a queda em sua renda. Mais recentemente, no entanto, os prejuízos se tornaram maiores entre os 10% mais ricos, cuja renda hoje é ainda 10% menor do que no período anterior à pandemia”.
Para Ribeiro, “enquanto os mais pobres sofreram um grande choque no início, com aumento do desemprego e queda imediata da renda, os mais ricos sofreram perdas maiores recentemente, devido à dificuldade de manter o poder de compra de seus salários em meio ao processo inflacionário num contexto de crise econômica.”
Como resultado desse processo, após um pico no terceiro trimestre de 2020, no segundo trimestre de 2022 a desigualdade se estabilizou em um patamar próximo àquele do período anterior à pandemia. O coeficiente de Gini – quanto maior, mais desigual – ficou em 0,615 no último período, o que é um valor substantivamente menor do que aquele encontrado no auge da pandemia, quando o Gini chegou a 0,661. S
alata, no entanto, faz uma ressalva: “Por mais que o nível de desigualdade da renda do trabalho tenha retornado ao patamar pré-pandêmico, isso não se traduz em um mesmo nível de bem-estar. O que observamos foi uma recuperação das desigualdades combinada com uma redução do nível de rendimentos. Ou seja, estamos tão desiguais quanto no período anterior à pandemia, mas com um nível médio de renda ainda muito inferior.”
Por fim, o estudo mostra que apesar da melhora recente em alguns indicadores, os dados ainda são muito negativos quando colocados no contexto de toda a série histórica iniciada no ano de 2012. No ano de 2014 o Gini era de aproximadamente 0,58, a renda média chegava a R$ 1.621, e a renda dos 40% mais pobres ficava em R$ 320. São todos indicadores substantivamente melhores do que aqueles encontrados no segundo trimestre de 2022.
De acordo com Ribeiro, “alcançar novamente aquele patamar seria algo viável no médio prazo. Mas, para isso, seria necessário retomar políticas voltadas para a criação de emprego e a valorização real do salário-mínimo, conjugado com o controle inflacionário.”
Ranking da renda média por região metropolitana:
- Distrito Federal: R$ 2.131,77
- Florianópolis: R$ 1.999,19
- São Paulo: R$ 1.822,81
- Curitiba: R$ 1.693,36
- Porto Alegre: R$ 1.595,06
- Rio de Janeiro: R$ 1.542,05
- Belo Horizonte: R$ 1.517,73
- Goiânia R$ 1.453,33
- Grande Vitória: R$ 1.434,93
- Vale do Rio Cuiabá: R$ 1296,17
- Belém: R$ 1.156,51
- Aracaju: R$ 1.154,25
- Natal: R$ 1.093,18
- Macapá: R$ 1.025,11
- Salvador: R$ 1.071,40
- Fortaleza: R$ 1.019,87
- Teresina: R$ 962,21
- João Pessoa: R$ 957,50
- Maceió: R$ 939,09
- Manaus: R$ 912,05
- Recife: R$ 849,24
- Grande São Luís: R$ 832,58
Fonte: IG ECONOMIA