ROBSON FRAGA
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“Mentiram-me. Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente. Mentem de corpo e alma, completamente. E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente. Mentem, sobretudo, impune/mente.”
Quando ouvi Affonso Romano de Sant’Anna dizer isto, logo me dei conta da política do meu país. Por aqui, infelizmente, “mentem tão nacional/mente que acham que mentindo história afora vão enganar a morte eterna/mente.”
Mentiram quando disseram, em 1988, que o país era democrático e que o voto a partir de então seria livre. Mentira: ainda hoje os coronéis obrigam o povo ao cabresto quando chega “a urna.”
Mentiram quando disseram que a partir da Constituição os direitos seriam iguais. Mentira: ainda hoje, vemos crianças fora da escola; homens e mulheres passando fome; famílias inteiras sem ter onde morar; mendicância nas filas do atendimento público de saúde; milhões de brasileiros desempregados e outros tantos no subemprego.
Mentiram quando falaram da liberdade de expressão. Mentira: ainda hoje jornalistas são perseguidos. Gays, lésbicas e simpatizantes hostilizados nas ruas por que amam diferente daqueles que acham normal apenas uma forma de amor.
Mentiram quando disseram que educação era obrigação do Estado e direito de todo cidadão. Mentira: ainda hoje adultos morrem analfabetos sem sequer poderem assinar seus nomes. Crianças chegam ao ensino médio sem conhecer direito as básicas operações matemáticas. Professores nos rincões de pobreza do país são analfabetos funcionais.
Mentiram quando disseram que o Brasil é a pátria de todos. Mentira: ainda hoje Amarildos, Silvas, Marias vivem num país desigual onde a pobreza é vista por PMs despreparados como sinônimo de bandidagem. E por isso, estes desfavorecidos das favelas cariocas são presos, apanham e choram tentando provar inocência sob a acusação de tráfico.
Mentiram quando inventaram que brasileiro gosta de pão e circo. Mentira: não gostamos, aceitamos pra não morrer de tanto chorar vivendo num país tão desigual.
Mentiram quando disseram que através do voto mudamos um país para melhor. Mentira: acabamos de sair de um governo fascista, homofóbico, misógino e que nunca respeitou a liberdade de expressão da imprensa. Um presidente desumano que pregava o uso de armas e que posou fazendo “arminha’ com uma criança no colo. Um cara que foi contra a vacina da covid-19 e levou milhares de brasileiros à morte e que mesmo com tudo isso, quase foi reeleito presidente do Brasil. Quem tiver coragem, que mostre o que mudou para melhor com foco na sociedade nos últimos quatro anos de governo.
Esperamos que agora, com um governo mais humano, que quer combater a fome, a miséria e a desigualdade social; que promete criar empregos, investir na educação e na saúde pública, a coisa melhore. Mas já são 10 meses de mandato e suas ações ainda não refletem exatamente suas promessas. Tampouco sua posição política, com essa negociata de ministérios e secretarias. Esperamos que o novo governo de Lula não traga mais uma enxurrada de mentiras para os brasileiros. Acredito piamente que vai ser diferente. Por isso, votei 13!
“Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura. Mas não se chega à verdade pela mentira, nem à democracia pela ditadura”, já dizia o poeta Affonso Romano de Sant’Anna.
PS: Artigo publicado em 2016 e atualizado em outubro de 2023. Ainda há muito a se fazer para que o Brasil deixe de ser o país do futuro e das tão contadas mentiras politiqueiras.
*Robson Fraga é jornalista. Atua como assessor de imprensa na Assembleia Legislativa de Mato Grosso e é editor do site Fatos de Hoje.