Em um clima de tensão, os venezuelanos voltam às ruas na tarde desta quarta-feira (23) em Caracas para se manifestar contra ou a favor do governo do presidente Nicolás Maduro.
Durante a madrugada, foram registrados protestos em 63 distritos da capital venezuelana. Alixon Pizani, de 16 anos, morreu após ser baleado em um ato no bairro de Catia, de acordo com o Observatório Venezuelano de Conflito Social.
Segundo a Associated Press, jovens fizeram barricadas e gritaram palavras de ordem contra o governo Maduro no bairro, que fica próximo ao palácio Miraflores (sede do governo). O deputado da oposição Juan Manuel Olivares afirmou que cinco pessoas foram baleadas e pelo menos uma estava em estado crítico. A informação não pôde ser confirmada pela agência.
Oposição
A oposição, sob liderança do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, escolheu o dia 23 de janeiro para o protesto porque nesta data, em 1958, o ditador venezuelano Marcos Pérez Jiménez deixou o poder.
Do outro lado, estão os chavistas que sairão de três pontos de Caracas em defesa de Maduro e contra a “ingerência estrangeira” no país.
As duas marchas não correm o risco de se encontrar, mas os moradores de Caracas estão preocupados com o que pode acontecer ao longo do dia, segundo relato da RFI. Em 2017, violentos confrontos durante manifestações deixaram mais de cem mortos no país.
A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, afirmou que “o governo bolivariano está agindo” e será “muito rigoroso com as regras para evitar a perturbação da paz pública”, de acordo com o jornal “El Universal”.
Rodríguez disse ainda que grupos terroristas financiados por setores extremistas da direita “optaram pelo caminho do golpe de Estado, desestabilização e pretendem retornar às páginas escuras da violência”.
Crise
A situação sócio-econômica do país se degrada e motiva as manifestações, que antes eram isoladas e por motivos pontuais como a falta de fornecimento de água ou de gás. A população tenta sobreviver a uma hiperinflação, que neste ano deve chegar a 10 milhões por cento segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O aumento salarial de 400% anunciado por Nicolás Maduro fez com que os preços disparassem ainda mais. Muitos venezuelanos continuam fugindo do país como podem. Quem permanece se pergunta quando a situação irá melhorar.
Apoio dos EUA aos opositores
Os atos espontâneos ganharam força na segunda-feira (21) após a revolta de um dos regimentos da Guarda Nacional Bolivariana, em Cotiza, um bairro pobre no norte da capital.
À agitação provocada pela rápida insurgência se somou uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, que é governista), que declarou “nulos” todos os atos aprovados pela Assembleia Nacional desde 5 de janeiro.
Na terça-feira (22), o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, divulgou um vídeo em que reafirma o apoio aos opositores do regime e encorajou as manifestações contra o governo chavista.
Nicolás Maduro acusou o vice de Donald Trump de ordenar um golpe de Estado contra seu governo.
“O que fez o governo dos Estados Unidos através do vice-presidente Mike Pence, de dar ordens para a execução de um golpe de Estado fascista (…), não tem precedentes na história das relações entre Estados Unidos e Venezuela em 200 anos”, disse Maduro nesta terça-feira em mensagem à Nação.
Ele ordenou ao chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, que faça “uma revisão total das relações” com os Estados Unidos para tomar decisões nas próximas horas de “caráter político e diplomático” em defesa da Venezuela.
Maduro tomou posse para um segundo mandato presidencial no último dia 10. A oposição venezuelana e diversos países – entre eles Brasil, Estados Unidos, Canadá e os membros do Grupo de Lima – não reconhecem a legitimidade do novo mandato de Maduro, que vai até 2025. A Organização dos Estados Americanos (OEA)também declarou, no dia da posse, que não reconhece mais o governo bolivariano.