O debate sobre reforma da previdência desenvolvido atualmente começou no governo do PT, mas tornou-se mais radical com a adoção de conceitos do PSDB durante o governo Temer. É baseado na proposta do PSDB que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) tem defendido uma reforma que só foi apresentada ao país neste 20 de fevereiro. Portanto, os ataques à previdência social não têm origem em um partido exclusivamente, mas beneficiam um grupo muito pequeno de uma super elite econômica: os banqueiros.
O rombo da previdência é de fato uma farsa que a imprensa tem repetido baseada apenas nos depoimentos de políticos e de investidores do mercado financeiro. A reforma da previdência é apontada coma grande solução de toda a crise do Brasil. Como a compra de medicamentos para hospitais ou a construção de escolas ou viadutos serão viabilizadas com uma nova forma de arrecadação da previdência? Não faz o menor sentido!
A imprensa e a população são reféns de uma falácia: somente com a reforma da previdência poderemos dar início à retomada do crescimento. A repetição desta informação no meio jornalístico só é possível com o desconhecimento de conceitos de gestão pública e do sistema de seguridade social. O fundo da previdência tem diferentes formas de arrecadação e se destina a atender seus beneficiários em casos de aposentadoria, invalidez temporária ou permanente e pensão.
O suposto rombo foi desmentido pela comissão técnica do Senado Federal no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a previdência. A doutora Denise Gentil defendeu na pesquisa acadêmica “A Política Fiscal e a Falsa Crise da Seguridade Social”, validada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que o déficit é causado pelos governos, que retiram valores do fundo para complementar o orçamento. Paulo Guedes, defensor da reforma, sacou dinheiro da previdência neste mês de fevereiro. Vale lembrar que a ex-presidente Dilma Roussef foi destituída sob o argumento de que usou dinheiro de um fundo para outra função.
Somente o desconhecimento dos mecanismos contábeis desse sistema justificam a adesão da imprensa a uma falácia que é “o rombo que impede o desenvolvimento do Brasil”. Temos poucos economistas de verdade no jornalismo, temos menos ainda os que entendem tanto do mercado quanto de gestão das finanças públicas. A maioria segue o que dizem os jornalistas econômicos de referência. Muitas dessas referências defendem o ponto de vista por jabá.
A quem interessa a insistência no déficit?
A reforma da previdência é agora pauta de um grupo político em que estão os tradicionais PSDB, DEM e MDB. Para conseguir apoio dos velhos caciques, o PSL de Bolsonaro agora também é a favor, apesar do próprio Jair dizer, em campanha, que era uma covardia a idade mínima de 65 anos.
Esse grupo político tem como principais clientes os bancos privados. A reforma da previdência é o primeiro passo para a privatização. Os banqueiros sabem que a previdência não está no vermelho, pelo contrário, ela rende positivamente todos os anos. É visando esse lucro que os bancos financiam uma longa e insistente campanha para que a previdência privada seja a única possibilidade.
A reforma do PSDB/DEM/MDB/PSL é uma etapa de um processo que cria maneiras de dificultar o acesso aos benefícios e fazer o cidadão pensar que o único caminho viável é a previdência privada. Como a reforma trabalhista que já completou um ano sem gerar empregos, a reforma da previdência não vai melhorar a vida das pessoas. Em seguida, dirão que não funciona porque é pública, aí acabarão com o fundo para que ele seja explorado por bancos. A maneira que os governantes encontraram de entregar um serviço público para o lucro privado é o sucateamento do serviço. Primeiro cria-se a dificuldade para depois venderem a facilidade.
Augusto Pereira é jornalista.