A caminhada do Flamengo na busca pelo bicampeonato da Taça Libertadores da América começou muito bem para os rubro-negros: uma vitória suada por 1 a 0 sobre o San José , na altitude de 3.700 metros na Bolívia, com direito à atuação gigante de Diego Alves. Mas, além do goleiro paredão do dia, que construiu um muro em Oruro e virou herói, a partida da última terça-feira também serviu para mostrar uma outra face do time: ser copeiro.
O Flamengo de DNA ofensivo demonstrou que também sabe se defender e sofrer. Na base da vontade, os jogadores superaram os próprios limites contra os bolivianos na altitude extrema de Oruro. Foi só um primeiro passo, mas esse time de Abel Braga pode, por que não, vir a ser copeiro. O que não significa ter boas atuações, mas sim, na gíria do futebol, saber jogar as competições de mata-mata. Em suma, encontrar um equilíbrio entre uma marcação forte e um ataque letal.
No Estádio Jesús Bermudez, o time soube administrar o fôlego e bloqueou os bolivianos na maior parte, apesar da tímida atuação no primeiro tempo: foram só quatro finalizações e nenhuma chance clara – mas os 3.700 metros não podem ser relevados, atrapalharam bastante. Na etapa final, a equipe achou o tempo certo da bola no ar rarefeito e cresceu com a entrada de Everton Ribeiro: o número de conclusões mais do que dobrou, 11 arremates. Um deles, o gol de Gabigol.
O time, porém, ainda não convenceu. As grandes atuações no ano até aqui foram contra adversários de muita fragilidade no Carioca. A equipe não está totalmente encaixada e tem coisas a corrigir. Por exemplo: os buracos na defesa em que o San José quase aproveitou e as indefinições no comando de ataque. Enquanto isso, o próximo passo para ser copeiro é minimizar as oscilações de um jogo para outro. Raça, pegada e regularidade costumam fazer sucesso na Libertadores.
Outras observações:
* Diego Alves recupera prestígio: o goleiro não vinha tendo grandes atuações esse ano e foi até contestado pelo chute defensável no gol do Fluminense que eliminou o Flamengo na Taça Guanabara. Sua confiança estava intacta, mas ele precisava de uma partida assim, em que fizesse a diferença. E pensar que o herói da estreia quase foi embora em janeiro…
* Gabigol & Bruno Henrique cada vez mais afinados: para quem achou que a dupla de sucesso do Flamengo 2019 seria Gabigol & Arrascaeta, agora precisa substituir o uruguaio por Bruno Henrique. Os ex-atacantes do Santos estão se procurando cada vez mais, com gols e assistências em jogadas de um para outro. E que passe na régua foi esse contra o San José?
* Arrascaeta x Everton Ribeiro: não está fácil a vida de Arrascaeta no Flamengo. Ainda sem brilhar e com o peso de ser a contratação mais cara da história do clube, o uruguaio agora também está disputando posição com Everton Ribeiro, que entrou muito bem contra o San José e mostrou que tem vaga nesse time. Será que eles deveriam mesmo ser concorrentes?
* Léo Duarte & Rodrigo Caio ganhando espaço: a ausência forçada de Rhodolfo, com dor na panturrilha esquerda, vem dando brecha para a dupla de zaga formada por Léo Duarte e Rodrigo Caio. Apesar de mais jovens, eles estão indo bem e tiveram grande responsabilidade e personalidade na altitude de Oruro. Atuação de gente grande que pode valer a titularidade.
Com a vitória na estreia da Libertadores, o Flamengo lidera o Grupo D com tês pontos, mas LDU (Equador) e Peñarol (Uruguai) ainda vão entrar em campo na rodada. O próximo jogo pela competição será daqui a uma semana, diante dos equatorianos no Maracanã. Antes, porém, o Rubro-Negro tem pela frente o clássico contra o Vasco neste sábado, pelo Carioca. Após voltarem da Bolívia durante a madrugada, os jogadores se reapresentam na Gávea na tarde desta quarta-feira.