Tensões, verdades e lembranças dolorosas são revividas em meio às sessões de Constelação Familiar que estão sendo aplicadas para cerca de 40 famílias de adolescentes que transgrediram a lei. Os encontros estão sendo desenvolvidos no Centro Judicial de Solução de Conflitos (Cejusc) da Vara da Infância e Juventude de Cuiabá e tenta recuperar, ou mesmo minimizar, os conflitos advindos da falta de estrutura familiar.
Más companhias, rebeldia e falta de gratidão levaram o adolescente João (nome fictício), de 15 anos, a acolher em casa amigos que traficavam drogas. No armário, a polícia encontrou o entorpecente e dai em diante as coisas desandaram. Criado pela avó, de 84 anos, João relembrou que há um ano não pensaria duas vezes para desobedecer. “Hoje sei que minha avó tem uma força extraordinária, me deu todo o apoio possível e desperdicei e não valorizei. Envolvi-me com a ‘gurizada’ e acabei me deixando levar”, contou. Hoje, João, mantém o foco nos estudos e já pensa em empreender como cabeleireiro. Um retrato muito diferente de tempos atrás.
“Nunca pensei que passaria por isso. Todos os meus filhos estão encaminhados, os netos e toda família. Mas, vi que às vezes as coisas saem do controle e nós temos que ter mais força ainda para buscar sair daquela situação. Na dinâmica de hoje pude perceber muitas coisas. Penso que esse trabalho é muito bom e precisa continuar para outras famílias”, disse a matriarca que não quis se identificar.
Para a facilitadora Gianeh Borges, esse trabalho é importante para que as famílias tenham uma compreensão dos conflitos existentes. “Os problemas são inúmeros há, por exemplo, conflitos gerados pelo não reconhecimento da paternidade, uso de drogas, álcool, violência doméstica, crimes como furtos, ou roubos. Então, convidamos as famílias para fazermos essa representação para ilustramos e revivermos todos os lados desses conflitos tentando mostrar o caminho mais correto a ser seguido”, pontuou a facilitadora.
Para Neusa Paiva, também facilitadora de sessões de constelação familiar, colocar-se a serviço desse trabalho é grandioso. “Esses adolescentes buscam ser vistos, pois, geralmente, em grande parte do tempo, estão sob pressões, sob famílias desestruturadas, sem apoio e às vezes sofrendo muita violência. Ai, quando nós nos colocamos no lugar do outro, podemos sentir aquilo que o menor está sentindo, mesmo que de forma inconsciente. As peças do quebra-cabeça se encaixam e tanto o menor quanto o responsável podem voltar a se conectar”, disse.
As oficinas são realizadas de forma contínua, ao menos sete vezes ao ano e coordenadas pela juíza Cristiane Padim da Silva. O juizado conta com o apoio do Núcleo Gestor da Justiça Restaurativa (Nugjur) e o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec).