ECYCLE / ISABELA TALARICO
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O pepino-do-mar equinodermos com corpos tubulares macios que se assemelham ao vegetal homônimo. Ele faz parte de uma classe incomum de animais, que desempenham um papel vital nos ecossistemas oceânicos. À medida que se alimentam dos detritos dos sedimentos, esses seres ajudam a reciclar nutrientes e excretar nitrogênio, amônia e carbonato de cálcio, ingredientes essenciais para os recifes de coral. Sua alimentação também ajuda a desacelerar a acidificação dos oceanos devido à atividade humana.
Os pepinos-do-mar são muito procurados na China e nos países do sudeste asiático, onde são considerados uma iguaria culinária e usados na medicina tradicional. Além disso, são vistos como afrodisíacos por algumas pessoas, especialmente na China (além de sua forma peniana, eles também podem enrijecer e expelir suas vísceras como mecanismo de defesa).
Essa visão distorcida dos pepinos-do-mar tem alimentado um comércio incrivelmente lucrativo – e em expansão – de animais ameaçados de extinção. Na década de 1980, os pepinos-do-mar custavam menos de 50 libras esterlinas o quilo; agora, como relata reportagem do jornal The Guardian, os preços subiram para mais de 200 libras esterlinas o quilo, com espécies mais raras avaliadas em mais de 2.500.
“Pescadores ilegais estão atravessando nossas fronteiras e coletando pepinos-do-mar em lugares onde nós mergulhamos normalmente. Estamos perdendo nossa renda e nossas riquezas para eles”, diz o pescador Anthony Vigrado, de 31 anos, ao jornal.
Agora, a pequena ilha tropical é um ponto crescente de contrabando ilegal e caça furtiva. Assim como Vigrado, mais de 10 mil famílias de pescadores ao longo da costa norte do Sri Lanka estão preocupadas com o estado da pesca.
“As populações estão diminuindo devido à sobrepesca, porque ela afeta biodiversidade e também a subsistência dos pescadores costeiros que dependem dessa atividade”, aponta Chamari Dissanayake, professor sênior de zoologia da Universidade de Sri Jayewardenepura, no Sri Lanka.
Com os barcos ilegais destruindo o equipamento dos pescadores locais para capturar os pepinos-do-mar, Vigrado diz que alguns se suicidaram por não conseguirem pagar os empréstimos.
“Todo o seu investimento estava sendo prejudicado por isso”, diz. “Esses barcos não se importam com eles, e quando eles cruzam para nossas águas, é uma perda completa para nós, pescadores”, lamenta ele.
AM Stanny Lambert, um mergulhador livre de 31 anos de Vankalai em Mannar, diz que está triste e irritado com a quantidade de atividades ilegais. “É antiético e estamos presos, porque eles estão coletando tudo antes de nós”, diz ele, observando que ele e seu pai são pescadores licenciados de pepinos-do-mar há 11 anos e únicos provedores da família.
A maioria das atividades criminosas relatadas tira proveito de regulamentações diferentes entre os países vizinhos. Enquanto o Sri Lanka emite licenças de pesca e permite a exportação de pepinos-do-mar, a Índia proibiu totalmente o comércio de animais desde 2001.
Pepinos-do-mar ilícitos são, portanto, capturados na Índia e contrabandeados para o Sri Lanka, onde são exportados legalmente para o sudeste da Ásia, ou exportados da Índia sob rótulos falsos.
Em agosto de 2020, três homens foram pegos contrabandeando quase mil quilos de pepino-do-mar, com valor avaliado pela Guarda Costeira indiana de 500 mil libras esterlinas no mercado internacional, de Tamil Nadu, na Índia, até o Sri Lanka, através do Golfo de Mannar.
“Se você tem um mercado legal desse tipo próximo a um mercado ilegal, o mercado legal se torna uma grande fonte para a lavagem de peixes”, disse, ao The Guardian, Teale Phelps Bondaroff, diretor de pesquisa da OceansAsia, cujo relatório recente mapeia as prisões e apreensões de pepinos-do-mar nos dois países.
Durante anos, as autoridades do Sri Lanka e da Índia vêm tentando combater esse crime marítimo. Mas, apesar do aumento do número de prisões e apreensões, novos casos mostram que o comércio ilegal está se espalhando para áreas antes intocadas.
Uma ilha desabitada no recife de coral Suheli
Agora, com o aumento do valor dos animais, a exploração está se tornando mais generalizada. A demanda pela iguaria levou à violência mortal no México, ao envolvimento com as organizações criminosas yakuza no Japão e ao contrabando entre o continente da Tanzânia e Zanzibar.
De acordo com a OceansAsia, o crime organizado do pepino do mar está se espalhando cada vez mais longe de Palk Bay e do Golfo de Mannar nas áreas subexploradas do território da união Lakshadweep, um arquipélago na costa sudoeste da Índia.
Na maior apreensão desse tipo, uma denúncia de pescadores locais em fevereiro de 2020 levou as autoridades a encontrar 1.716 pepinos-do mar, no valor de aproximadamente 420 mil libras esterlinas, escondidos em recifes de coral perto de Suheli, uma ilha desabitada.
Percebendo a gravidade dos níveis crescentes de crime em torno do comércio, as autoridades locais intensificaram sua resposta, disse John. Em fevereiro de 2020, a primeira área de conservação de pepinos do mar do mundo foi criada em Lakshadweep, bases anticaça furtiva foram estabelecidas nas ilhas, e a força-tarefa de proteção de Lakshadweep foi formada com a ajuda do Bureau Central de Investigação da Índia.
“O povo de Lakshadweep entendeu a importância dos pepinos-do-mar porque seu sustento depende em grande parte da pesca. Quando esses animais são afetados, outras áreas de pesca também o são”, disse Sivakumar Kuppusamy, cientista do Instituto de Vida Selvagem da Índia.
Entretanto, como a maior parte do comércio ilícito continua a ser contrabandeado para o Sri Lanka, Kuppusamy concorda que, embora interromper a cadeia de abastecimento do crime seja crucial, ajudar os pescadores que capturam pepinos-do-mar ilegalmente a avaliarem a importância desses animais também é crucial para sua proteção.