Com o crescimento da inadimplência e a queda nas vendas de alguns segmentos do comércio, os lojistas estão diversificando as formas de crédito e pagamento para garantir que o consumidor siga comprando. As lojas prometem a liberação da antecipação do saque-aniversário do FGTS para o pagamento de compras. Além disso, para atrair os consumidores, algumas permitem até que o pagamento das parcelas venha na conta de luz, como a da concessionária de energia Enel, que atua na Região Metropolitana do Rio e em cidades do interior do estado. Além disso, as grandes redes do varejo apostam nas facilidades de aprovação de crédito via do celular, pagamento no crediário e Pix.
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Um exemplo disso é a rede de lojas Tubarão, que vende itens de cama, mesa e banho no Rio. Focada nas classes populares, a rede promete facilitar o pagamento.
“Entre as condições de pagamento, estão o cartão próprio do grupo. Além disso, cliente da Enel pode usar a conta de luz para comprar em 24 vezes, como se fosse um carnê para o pagamento. O consumidor também pode verificar o saldo e usar o FGTS para antecipar o saque-aniversário e fazer compras na loja”, explica Eduardo Rocha, diretor Comercial e de Marketing da rede.
Nas grandes redes varejistas, como a Via, dona das marcas Casas Bahia e Ponto, as compras a prazo no crediário podem ser realizadas diretamente na loja e também com aprovação 100% digital, por do site e do aplicativo. Nesta modalidade, a rede promete taxas de juros competitivas e parcelas podem chegar a 24 vezes.
Apesar de toda facilidade, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) recomenda cautela para evitar o superenvidamento.
“São estratégias para trazer a população de baixa renda para dentro desses espaços e usar as últimas fronteiras do crédito e maximizar as garantias”, opina Ione Amorim, economista do Idec.
Saldo do FGTS determina antecipação
A Caixa informou que atua na oferta da linha de crédito de antecipação do saque-aniversário do FGTS diretamente aos clientes, sem a intermediação de varejistas. O saldo disponível no Fundo vai determinar o valor que poderá ser antecipado, descontado os juros da operação de crédito.
Segundo o banco, para os clientes que não querem esperar até o mês de nascimento para sacar ou querem antecipar o saque de anos seguintes, o crédito pode ser solicitado inclusive por negativados. Podem ter acesso ao empréstimo os clientes que fizeram a adesão ao saque-aniversário do FGTS, de contas ativas ou inativas do Fundo. Atualmente, é possível antecipar até cinco parcelas para as contratações. O prazo máximo de contratação realizada no aplicativo Caixa Tem é de três anos. A taxa de juros é de 1,69% ao mês, e o valor mínimo para contratação é de R$ 500.
Como operador do FGTS, a Caixa também cadastra instituições financeiras, que podem ou não estar associadas a varejistas, para realizar a antecipação. Neste caso, é preciso indicar o banco como instituição financeira.
Para a economista do Idec, Ione Amorim, a antecipação do saque-aniversário, sobretudo para compras de consumo no varejo, é um risco para o consumidor:
“Para quem está concedendo o crédito, o pagamento já está garantido, baseado no saldo que o trabalhador tem. Mas ele perde sua poupança numa situação de desemprego.”
Concessionárias de energia
A Enel explicou que oferece a cobrança na conta de energia a empresas, como financeiras e seguradoras, que fazem a intermediação de crédito com as varejistas. Segundo a concessionária, para a autorização da cobrança, o cliente precisa ser titular (ou cônjuge) da conta, que deve estar ativa e sem débitos. As condições são definidas pela financeira, mas a Enel analisa o valor de parcela permitido para cada cliente.
Já a Light informou que não tem esta modalidade de pagamento. A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) não tem números que apontem quantas empresas oferecem esse tipo de serviço, mas afirma que a prática é comum há alguns anos.
“É uma atividade permitida pela legislação e com ganhos importantes para todos os lados. A loja que contrata o serviço amplia a perspectiva de vendas, e quem está ofertando o crédito vai cobrar juros menores, porque terá uma redução na inadimplência, o que é positivo para o consumidor”, defende Marcos Madureira, presidente da entidade.
Para Ione Amorim, associar um divida de consumo à conta de luz é um risco para o consumidor:
“O crediário na conta de energia é uma grande garantia para a financeira, já que energia é um serviço essencial, e a pessoa vai dar tudo para não ficar inadimplente.”
Entrevista – Rejane Tamoto, planejadora financeira da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar)
Como avalia opções de pagamento como antecipação do saque-aniversário do FGTS e parcelamento na conta de luz? Pode ser vantajoso?
Isso está sendo ofertado para quem já não consegue usar formas tradicionais de pagamento, como o cartão de crédito, o que torna tudo ainda mais perigoso. Se for alguém nesse contexto, sem limite no cartão, sem dinheiro ou sem score para aprovação de crédito na loja, comprometer o pagamento da conta de energia ou o saldo do FGTS pode ser um grande risco. Estamos falando de pessoas já endividadas. Não é vantajoso.
Quais são os riscos?
No caso do parcelamento na conta de energia, o risco de acabar ficando sem luz é grande. Para a antecipação do saque-aniversário, o risco é o desemprego. O FGTS é uma reserva de emergência importante quando o trabalhador é demitido. Antes de escolher usar parte desse valor para consumo, é preciso pensar quanto tempo o saldo cobriria as despesas da família em caso de demissão e qual seria o impacto se parte dele estiver comprometido num financiamento do tipo.
O que o consumidor precisa avaliar antes de aderir a essas possibilidades de crédito?
O primeiro passo é entender se aquela compra é de algo urgente, para evitar o consumo por impulso. Se for algo realmente necessário, é preciso consultar outras possibilidades de crédito ou até mesmo outros caminhos, como comprar usado, por exemplo. Quando receber a oferta na loja, não responda na hora. Vá para casa, analise. Esses cuidados precisam ser tomados porque o endividamento é algo que se você não tiver controle ele cresce até a pessoa não ter condição de pagar o básico. É preciso evitar ao máximo e fazer o dever de casa. Se for muito urgente e necessário, analisar outras alternativas, entender os custos, calcular se essa parcela de crédito cabe no orçamentou não, no caso do parcelamento na conta de luz, e se saindo direto do FGTS, vai reduzir muito o saldo e te deixar vulnerável em caso de desemprego.
Além disso, é preciso organizar as finanças. Você pode fazer isso de maneira simples, num caderno, por exemplo, detalhando tudo o que entra, ou seja, todas as receitas da família e todas as despesas. Também é preciso eliminar desperdícios, como um plano de celular, por exemplo, que pode ser trocado por um mais em conta.
Fonte: IG ECONOMIA