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Rap e arte: como Ana Terra Pompeu transformou a fonoaudiologia

Ana Terra Pompeu é fonoaudióloga formada pela PUC Campinas
Foto: Divulgação/Guilherme Assano

Ana Terra Pompeu é fonoaudióloga formada pela PUC Campinas

Música, rap, fonoaudiologia, cultura, sociedade, arte e teatro: foi com base nessa intensa mistura de paixões que Ana Terra Pompeu desenvolveu, em parceria com a artista Bruna Caram, o instituto de saúde vocal e comunicação Cor e Voz.

Atualmente, o instituto conta com dezenas de clientes das mais diversas áreas profissionais. Cantores, rappers, jornalistas, advogados, atores, dubladores e artistas buscam o auxílio de Ana para o aperfeiçoamento da voz e da dicção. Entre os principais clientes estão os artistas Emicida, Vitão, Linn da Quebrada e Rashid.

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Cor & Voz

Natural de Campinas, cidade do interior de São Paulo, Ana Terra cresceu ao redor da arte. “Minha mãe é atriz, e, meu pai, ator. Eles se conheceram no teatro, e, lá, se apaixonaram. Eu nasci e cresci ali mesmo, no meio disso tudo”. 

Na época, a família da profissional passava por muitas dificuldades financeiras, mas sua paixão pela arte a ajudou a superar as adversidades. “Minha infância foi bem complicada. Morávamos em lugares bem perigosos, e eu também cheguei a passar fome. Mas, por conta da arte, eu tinha um caminho para ter uma boa imaginação, então não ficava muito presa ao que eu estava vivendo ali e nem aos perrengues”.

Antes mesmo da faculdade de fonoaudiologia, o som já ocupava um grande espaço na vida de Terra. Por meio da música, ela conquistou seu espaço como artista, se aventurando no teatro e na música com o saxofone.

“Estudar voz rimada é um projeto de vida para mim. Com os MCs, entendi que voz grandiosa é aquela que ressoa pela humanidade e todo o meu trabalho é pautado nesse propósito”, afirma Ana
Foto: Divulgação/Guilherme Assano

“Estudar voz rimada é um projeto de vida para mim. Com os MCs, entendi que voz grandiosa é aquela que ressoa pela humanidade e todo o meu trabalho é pautado nesse propósito”, afirma Ana

A decisão de cursar uma faculdade que se relacionava ao som era clara, mas ser fonoaudióloga não era o objetivo de Ana: “Eu não sabia o que era fonoaudiologia na época”, reflete. “Eu queria insistentemente cursar faculdade de música, mas eu estava no terceiro vestibular sem conseguir conquistar a vaga por míseros meio ponto. Todos os meus amigos entraram na universidade e eu ainda não tinha conquistado minha vaga”.

Foi ao acaso que Terra descobriu sobre a existência do curso. “Lembro até hoje do dia em que eu estava voltando para casa de ônibus e uma menina falou: ‘Olha, tá tendo vestibular social na PUC’. Meus olhos brilharam na hora. O curso de fonoaudiologia oferecia bolsa integral e tinha a ver com o que eu queria, então prestei a prova e passei”.

A faculdade foi o local onde a profissional descobriu sua verdadeira vocação. Ela afirma que, por meio das aulas práticas, percebeu que amava cuidar das pessoas. Ao unir seu amor pelo cuidado e a música, Ana descobriu seu diferencial no mercado de trabalho: “Juntei esses dois universos que parecem distantes, mas, na verdade, não são”.

Empresa

A ideia inicial para a criação do instituto Cor & Voz nasceu em uma tarde na capital paulista. “Vim para São Paulo depois que me formei e fui almoçar com um amigo. No almoço, conheci o rapper Criolo. Eu, que sou muito tagarela, contei que era recém graduada em fonoaudiologia, e ele disse que estava procurando alguém com o meu perfil para trabalhar com ele. Eu trabalhava em três clínicas e o Criolo foi meu primeiro cliente”.

ana
Foto: Divulgação/Guilherme Assano

Ana é pós-graduada em Coach Vocal pelo Centro de Estudos da Voz (CEV), formada nos leveis 1, 2 e 3 do Somatic Voicework TM do The LoVetri Method

Sem a condição de abrir o próprio espaço, Ana começou a atender seus clientes dentro de casa. “Comecei a atender na minha kitnet. Eu não tinha nada na época, minha cama era um colchão no chão”, relembra a fonoaudióloga. “Era tudo bem simples, eu achava bem feio, aliás. Eu tinha um pouco de vergonha, mas todos os meus clientes me tratavam com muito carinho”.

Foi a simplicidade desses encontros que moveu o coração de Ana: “Pensei que devia criar um lugar que fosse sempre assim, onde todo mundo que frequentasse se sentisse à vontade a ponto de trabalhar as suas fraquezas e as suas dificuldades vocais, temas muito sensíveis para cantores em geral”. Desde então, a Cor&Voz tem ajudado centenas de profissionais em todo o Brasil. 

Atualmente, a empresa oferece cerca de nove serviços oficiais, como o método Cor&Voz, realizado por uma fonoaudióloga e uma preparadora vocal; a fonoaudiologia para profissionais; aulas de canto; aulas de violão; práticas de repertório; um coral de MC’s e assessorias vocais. Ana acredita que, por conta dessa ligação com a arte, o Cor&Voz seja “um instituto fora da curva”. 

Rap

Além da fonoaudiologia e da música em geral, um dos motores que mantém o funcionamento do instituto Cor&Voz é o rap. Ana Terra reflete que, desde o início de sua vida, esse ritmo esteve presente: “O rap se manifestou para pacificar as comunidades, e eu vim de lugar muito violento e de muita escassez. Com isso, decidi ser parte dessa mudança que quer levar o rap mais longe”.

“Eu sinto que [o rap] acredita nas pessoas, o rap insiste. Ele vê o que está dando errado, levanta e tenta de novo. Eu gosto muito do Emicida, porque ele coloca a realidade dura e ele propõe uma solução. Isso sou eu, eu sou uma pessoa que quer resolver as coisas”, aponta. 

Ana Pompeu e a cliente e cantora Linn da Quebada
Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Ana Pompeu e a cliente e cantora Linn da Quebada

Para promover a mudança por meio do rap, Ana desenvolveu diversos projetos que auxiliam na propagação do ritmo nas comunidades. O principal deles é a Brigada do Rap, curso criado pela fonoaudióloga para rappers que estão começando e não podem pagar por ajuda vocal. “É meu projeto do coração”, afirma.

De acordo com a profissional, as ciências da voz não contam com uma linha oficial que estude o gênero do rap, e é com a Brigada do Rap que ela quer desenvolver esse estudo para os futuros rappers. “Acontece que se a pessoa não tem o conhecimento do gênero, ela dá uma aula de canto para um MC. É como se você quisesse fazer ele caber em uma roupa que não é dele”.

“Eu formo MC’s no sentido vocal, então eu não vou ensinar a rimar, e sim ensinar a usar a voz para rimar”. A primeira turma da Brigada do Rap foi formada por 12 pessoas escolhidas a dedo por Ana, e cada um dos MC’s trabalhou com diferentes flows e ritmos. O grupo, que aprendeu novas técnicas para melhorar a voz para a rima com Ana, se formou no meio de agosto.

“Eu amo o que faço. O rap, a música e a voz transformam a vida das pessoas, e eu quero fazer sim parte dessa mudança. Por isso, esses projetos são tão essenciais para mim”, finaliza.

Fonte: IG Mulher

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