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Em meio aos altos preços dos alimentos, que continuam subindo apesar da deflação de 0,73% registrada no IPCA-15 , do IBGE, e que atingem principalmente os mais vulneráveis, uma pesquisa aponta que 76% dos beneficiários do Auxílio Brasil deixaram de comprar itens essenciais de alimentação e higiene pessoal.
Para esse grupo, carne bovina (80%), de frango (45,3%), leites e derivados (57%) e produtos de limpeza (43,6%) e higiene pessoal (41%) são as prioridades neste mês de agosto, quando passou a ser depositado o benefício de R$ 600, turbinado em meio a ampliação de benefícios sociais às vésperas da eleição.
O levantamento é da Associação de Supermercados do Estado do Rio (Asserj), que ouviu 425 consumidores nos últimos dois fins de semana em quatro supermercados das zonas Norte e Oeste do Rio. Do total, 41,6% responderam que recebem algum benefício do governo federal, principalmente o Auxílio Brasil.
O calendário de agosto do benefício começou no dia 9 e terminou na última segunda-feira (dia 22). Além do acréscimo de R$ 200 – válido até dezembro – também foi depositado os R$ 110 relativos ao vale-gás, recebido por 5,6 das 20,3 milhões de famílias que recebem o Auxílio Brasil neste mês.
A diferença no valor foi sentida por Luciana Ferreira, de 30 anos, mas não o suficiente para as necessidades básicas dela e dos três filhos, de 5, 7 e 11 anos. Com os R$ 710 referentes ao benefício de agosto, incluindo o vale-gás, a moradora de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, gastou boa parte do valor com alimentos. O gás da casa, no entanto, acabou antes do previsto e ela precisou pegar parte do valor emprestado para comprar outro botijão.
“Comprei um pouco de carne, antes só estava conseguindo pagar pela carcaça, que é mais barata. Também comprei iogurte e uns biscoitos para as crianças e mais feijão e arroz, que antes só conseguia comprar aos poucos, de 1 kg em 1 kg, com o dinheiro que tinha na mão.”
Paola Loureiro Carvalho, diretora de Relações Internacionais e institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica (RBRB), lembra, no entanto, que o alívio sentido pelas famílias com o acréscimo dos R$ 200 é temporário. A partir de janeiro, o benefício volta aos R$ 400. Ela defende que o valor não dá conta da necessidade das famílias. Pelos dados mais recentes do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica no Rio é a quarta mais cara do país, por R$ 733,14, e consome 65,39% do salário mínimo.
“Quando discutimos em 2020 os R$ 600 do Auxílio Emergencial, ao contrário do que o governo federal queria, defendíamos que era o que mais se aproximava do valor da cesta básica, o que hoje não é mais uma realidade”, afirma: “O valor é uniforme dentro do programa, mas as realidades são diferentes. Uma família mais numerosa recebe os mesmos R$ 600 que uma família de duas ou três pessoas. Ele é importante pela situação da inflação e do peso que isso causa aos mais pobres, mas é apenas uma resposta ao mínimo necessário que uma família precisa.”
Valor que sobra paga contas
A pesquisa da Asserj mostrou também que entre os consumidores que recebem algum tipo de benefício, 47% pretendem gastar o valor total em compras nos supermercados, enquanto 26% disseram que vão usar até R$ 300. Já o restante do benefício deve ser usado na compra do botijão de gás (82,4%), no pagamento de contas de consumo, como luz e água (72,1%), e também do cartão de crédito (36,8%).
“Desde maio, o setor de supermercados vem registrando alta, o que deve se manter com o aumento do Auxílio Brasil. A sondagem confirma esta tendência e aponta, principalmente, os produtos que foram mais afetados pela inflação nos últimos meses, caso da carne bovina, e do leite, impactado ainda por fatores sazonais”, avaliou o presidente da Asserj, Fábio Queiróz.