Sentimento de esgotamento, negativismo e falta de realização são alguns dos sintomas do Burnout, síndrome relacionada ao trabalho. Em janeiro deste ano, a condição entrou para a lista de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a OMS, Burnout é “uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. A Organização ressalta que a doença está ligada especificamente a fenômenos laborais, portanto o termo não deve ser aplicado para descrever experiências relacionadas a outras áreas da vida.
Para a OMS, três dimensões definem a síndrome: “1) sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; 2) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho; e 3) uma sensação de ineficácia e falta de realização”.
Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, o Burnout pode se manifestar de diversas formas. Ricardo Chaves, psicólogo especialista em trabalho e saúde mental, afirma que um dos principais sintomas é uma forte sensação de esgotamento de energias, não só psicológica, mas também física.
Como a síndrome é relacionada ao trabalho, o especialista conta que alguns comportamentos também podem dar indícios de Burnout, como evitamento de reuniões, isolamento no ambiente de trabalho, falta de contato visual com os colegas, resistência a mudanças e uso de linguagem depreciativa ao se referir ao próprio trabalho.
De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, os principais sintomas de Burnout são:
- Cansaço excessivo, físico e mental;
- Dor de cabeça frequente;
- Alterações no apetite;
- Insônia;
- Dificuldades de concentração;
- Sentimentos de fracasso e insegurança;
- Negatividade constante;
- Sentimentos de derrota e desesperança;
- Sentimentos de incompetência;
- Alterações repentinas de humor;
- Isolamento;
- Fadiga;
- Pressão alta;
- Dores musculares;
- Problemas gastrointestinais;
- Alteração nos batimentos cardíacos.
Empresas ‘tóxicas’
O Burnout pode ser desencadeado em qualquer pessoa, embora haja alguns perfis comportamentais que ficam mais expostos à síndrome. “Pessoas mais extrovertidas, que muitas vezes assumem a responsabilidade por tudo e por todos e pessoas com dificuldade de falar ‘não’, acumulando muitas responsabilidades sobre si, são exemplos daquelas mais expostas ao Burnout”, explica Ricardo.
Desenvolver a síndrome, porém, não é raro. No Brasil, cerca de 30% dos trabalhadores sofrem com a síndrome de Burnout, de acordo com dados da International Stress Management Association (Isma). Muitas vezes, a condição é desencadeada por problemas dentro das empresas, que muitas vezes são ambientes ‘tóxicos’ de trabalho.
Para Ricardo, alguns exemplos de um ambientes ‘tóxicos’ são aqueles que têm pressão constante por metas, prazos irreais para o cumprimento de tarefas, conflitos interpessoais, excesso de carga de trabalho, lideranças autoritárias e equipes reduzidas.
O psicólogo afirma que, por conta de campanhas relacionadas à saúde mental como a do Setembro Amarelo, algumas empresas têm pensado mais nesses aspectos. “As companhias deveriam disponibilizar espaços especializados nos quais os funcionários possam falar para profissionais sobre os sintomas ou essas emoções, muitas vezes, que eles não sabem nem nomear. Também é importantíssimo trabalhar com conscientização e desmistificação das questões de saúde mental e capacitar os líderes para terem essa escuta e conseguirem conduzir a sua equipe de uma maneira mais saudável”, orienta Ricardo.
O especialista afirma que os próprios funcionários também podem estar atentos a sinais que colegas eventualmente estejam deixando transparecer e que podem indicar Burnout, como chegar sempre atrasado, evitar reuniões e se isolar. Nesses casos, é bom indicar que a pessoa procure por um atendimento especializado.
Somente um profissional é capaz de diagnosticar a síndrome, depois de eliminar outros transtornos, como depressão e ansiedade. O tratamento do Burnout envolve psicoterapia e, dependendo do caso, uso de medicamentos específicos.
Tirar férias ajuda, mas não cura
Ricardo afirma que, em muitos casos, se afastar do trabalho pode ajudar no tratamento do Burnout. Ele pontua, porém, que esse afastamento, seja por atestado médico ou por férias, deve ser de qualidade, com desligamento físico e mental da empresa. Além disso, deve caminhar junto com os demais tratamentos.
Caso o funcionário precise de afastamento médico, é possível solicitar o auxílio-doença junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Assim como em outros casos, os primeiros 15 dias de afastamento são pagos pela empresa e o restante é pago pelo INSS, caso a incapacidade de exercer suas tarefas seja comprovada.
Fonte: IG ECONOMIA