Menos de dois em cada dez (18%) beneficiários do Auxílio Brasil deseja contratar o empréstimo consignado com desconto na folha do benefício, segundo a pesquisa Ipespe divulgada nesta quarta-feira (31). Em paralelo, 69% dizem não estarem interessados no programa sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro no início de agosto . Outros 13% não souberam ou não responderam à pergunta.
A pesquisa aponta que dentre os beneficiários do programa, ou seja, eleitores de baixa renda, Bolsonaro tem 29% das intenções de voto enquanto Lula lidera com 51%.
Segundo o Ipespe, 63% dos beneficiários do auxílio dizem saber sobre a liberação dessa modalidade de crédito, enquanto 37% disseram não ter tomado conhecimento sobre o assunto.
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Previsto para ser liberado em setembro, o crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil deve impulsionar a margem de brasileiros endividados. A União permitiu que bancos ofertem o empréstimo sem estipular teto para os juros e eximindo o governo de responsabilidade em caso de superendividamento.
Cerca de 4 em cada dez eleitores (43%) que recebe o Auxílio Brasil está inadimplente, ou seja, deixou de pagar alguma conta no mês passado, enquanto 48% conseguiram manter as contas saneadas, aponta pesquisa PoderData.
Paola Loureiro Carvalho, assistente social e diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, diz que a medida destoa do ideal de combate à miséria
“As razões que atestam a crueldade dessa medida superam o âmbito econômico e atingem o plano ético. É consenso consolidado que do ponto de vista de política pública de combate à pobreza e aumento de bem-estar, o crédito em geral não deve ser prioridade”, opina.
Segundo a especialista, o crédito consignado funciona quase como um programa de transferência de renda para o sistema financeiro, que se aproveita da situação de pobreza da população para aumentar os juros.
“Os consignados sequestram o caráter de proteção social dos benefícios ao entregar parte dos recursos ao sistema financeiro em prejuízo da dignidade dos beneficiários. Sequestra o direito de se viver o futuro com dignidade ao submeter famílias em situação de desespero, em decorrência da miséria, à armadilha do empréstimo”, afirma.
“A própria lógica de funcionamento dos mercados de créditos, com suas estratégias de marketing, induzirá a população ao endividamento. Maximiza-se o lucro deliberadamente de maneira totalmente descolada do ponto de vista ético quando brasileiros, inclusive aqueles com limitados recursos socioemocionais em decorrência de insegurança alimentar/nutricional, tomam decisões alheias aos próprios interesses”, completa.
Fernando Weigert, diretor da Neoconsig, diz que já existem bancos oferecendo empréstimo com juros anuais de quase 100% em algumas cidades.
Segundo as regras anunciadas pelo governo, o valor da renda que poderá ser comprometida pelos usuários do Auxílio Brasil será de 40%, sendo que até 35% poderá ser utilizado para o empréstimo pessoal e 5% poderá ser utilizado para saques e despesas do cartão de crédito consignado.
A pesquisa do Ipespe, contratada pela XP, entrevistou 2.000 eleitores entre 26 e 29 de agosto. Nesse grupo, 18% diz que recebe ou receberá pagamentos do Auxílio Brasil, ou mora com alguém que seja beneficiário do programa. A margem de erro geral do estudo é de 2,2 pontos percentuais, para um nível de confiança de 95,5%. A sondagem está registrada junto à Justiça Eleitoral sob o código BR-04347/2022.
Fonte: IG ECONOMIA