Um levantamento feito pelo maior site de conteúdo pornográfico da internet do planeta, o PornHub, que conta com mais de 15 milhões de visitantes mensais, mostra o crescimento no número de mulheres que assiste a vídeos de sexo. Elas já representam um terço dos usuários regulares da plataforma, incluindo as brasileiras. Grande parte desse número são de jovens entre 18 e 24 anos.
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É fato que a pornografia pode colaborar para ter uma vida sexual mais saudável, além de contribuir para um melhor conhecimento do corpo e o que dá mais prazer. Entretanto, o excesso causa vício e, consequentemente, pode levar a danos agressivos para a saúde.
“No Brasil, a média de mulheres que acessam a esses canais de pornografia gira em torno de 33%, é um pouco maior do que a média mundial (25%), mas não são todas que tem a predisposição para o vício. Desse número, cerca de 10% têm potencialmente a capacidade de se tornar dependentes”, explica a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da USP.
No Reino Unido, berço do Pornhub, as mulheres se tornaram maioria na procura de serviços de saúde sexual em decorrência de não conseguirem se livrar do vício de vídeos eróticos. A maioria reclama de problemas na intimidade do sexo na vida real, como diminuição na libido e dor durante a relação.
A holandesa Kristel Koppers, 29 anos, se transformou em uma das principais vozes dessas mulheres. Koppers criou recentemente um canal no Youtube, onde fala abertamente sobre o assunto – o endereço já conta com mais de dois milhões de visualizações. Ela se autodenomina uma “ex-dependente de pornografia” espera ajudar outras mulheres a sair desse ambiente virtual prejudicial. “Sou uma ex-dependente de pornografia. Usava a pornografia como válvula de escape e me sentir melhor momentaneamente, porque na maior parte do tempo eu tinha problemas com meu corpo e com a autoaceitação, mas chegou em um ponto que isso começou a atrapalhar a minha vida pessoal e amorosa. Não tinha mais vontade de sair de casa, zero animação para fazer coisas corriqueiras. Ficava constantemente comparando cada detalhe do momento real com o que eu tinha visto online e nunca correspondia as minhas expectativas. Fui criando camadas de ansiedade que foram sabotando o meu prazer sexual. Se tornava tenso, desconfortável e até doloroso às vezes”, explica Koppers.
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Calcula-se que um em cada dez consumidoras de material pornográfico não consegue interromper o hábito de forma alguma. Além desses sintomas, outros sinais que mostram que o ato se tornou compulsivo é a dificuldade de se excitar com parcerias reais, ereções instáveis, crises de ansiedade, o que faz o praticante acessar pornografia de lugares impróprios, a falta de energia para fazer atividades cotidianas, fobias sociais e baixa autoestima.
“As pessoas que abusam do uso de pornografia, geralmente fazem parte de grupos que já tem a predisposição de excesso por outras coisas, seja no alcoolismo, no consumismo, em jogos. Tem uma base genética para isso. Podemos desconfiar que a pornografia está causando mais malefícios do que benefícios para a nossa saúde quando o usuário começa a abrir mão de outras atividades do cotidiano, não dorme direito, interrompe a hora do trabalho para acessar conteúdos pornográficos, não há mais convívio social, tudo isso mostra que o acesso deixou de ser natural”, definiu Abdo.
Uma manifestação que já é conhecida, mas que está cada vez mais relacionada com esse aumento em excesso no uso da pornografia em mulheres, é o crescimento em materiais fetichistas chamados de “perturbadores”. Estudo publicado no final de agosto no British Medical Journal, mostra que houve uma expansão no número de lesões íntimas e infecções relacionadas a um aumento na popularidade de atos sexuais arriscados e agressivos entre mulheres jovens. Os autores do artigo são decisivos ao destacar o conteúdo adulto como motivo principal para isso.
Na internet, protegidas pelo anonimato, dezenas de mulheres relatam em fóruns da internet e redes sociais como o uso abusivo da pornografia, aliado a atos agressivos prejudicaram a saúde física e mental de cada uma. “Comecei a assistir pornografia com o meu marido e passei a concordar com alguns atos sexuais agressivos, pois acreditava que somente assim ele continuaria interessado por mim”, escreveu uma usuária. Outra disse: “depois de consumir pornografia, me sinto deprimida, inútil, triste e sem energia”.
Conteúdos violentos
A garota afirma que, em uma tentativa de encontrar a excitação perdida, passou a assistir conteúdos violentos e extremos. “Quanto mais eu assistia, mais extremo o conteúdo tinha que ser para eu achar empolgante. No final, eu estava assistindo coisas que nunca escolheria na vida real, como homens sendo agressivos com mulheres”, diz.
Pesquisadores da Universidade de Durham analisaram centenas de milhares de vídeos nos sites adultos mais populares do Reino Unido, que são gratuitos e facilmente acessíveis por meio de uma pesquisa rápida na Internet, e encontraram 10.000 conteúdos em destaque tão extremos que são ilegais no país. O grupo descobriu ainda que um em cada oito títulos anunciados para usuários iniciantes no Reino Unido descreve conteúdo sexualmente violento, coercitivo ou não consensual. Pelo menos 40% do conteúdo adulto gratuito online apresenta algum tipo de agressão verbal ou física direcionada a uma mulher. Os autores ainda associaram a crescente popularidade desses vídeos a um aumento nos casos de agressão sexual.
Assim como acontece durante o sexo, assistir a vídeos explícitos desencadeia na liberação do hormônio do prazer, a dopamina, que ajuda na regulação do humor, diminui o estresse, controla funções motoras, estimula memória e comportamentos relativos a raciocínio e concentração, além de melhorar o apetite e o sono, porém, se ela for estimulada em excesso, assim como outras drogas, o cérebro começa a ficar sensível aos efeitos dela, o que significa que os usuários desses conteúdos precisam procurar cada vez mais para se satisfazer e buscar aquela excitação que já não é encontrada com facilidade.As mulheres acabam se viciando naquelas imagens, sejam elas agressivas ou não, e resulta, também, em menor satisfação durante os encontros reais.
Uma pesquisa feita pela Virginia Commonwealth University, nos Estados Unidos, envolvendo 700 mulheres com idades entre 18 e 29 anos, apontou que observadoras de pornografia experientes muitas vezes se lembram de imagens que viram durante momentos íntimos com parceiros e admitem que lembram dessas memórias para manter a excitação. Mais da metade preferem a pornografia do que o ato sexual.
Não à masturbação
Em meio ao crescimento de mulheres que assiste a pornografia de modo excessivo, o mês de setembro é o mês para o desafio da abstinência, conhecido nas redes sociais pela hashtag #NoFap. Trata-se de um desafio no ambiente digital que tem como objetivo combater a prática da masturbação excessiva motivada pelo consumo de pornografia. É formado majoritariamente por homens heterossexuais, mas também engloba mulheres e membros da comunidade LGBT+.
Ele foi criado para incentivar homens a abandonar o vicio na pornografia e a aderirem à mudança de hábito, principalmente no mês de setembro, mas fora dele também. O anúncio da plataforma diz que o conteúdo serve para “se curar de disfunções sexuais induzidas por pornografia, melhorar seus relacionamentos e, ultimamente, viver suas vidas de modo mais gratificante”. Ultimamente, o NoFap é replicado principalmente nas redes sociais, como o Twitter, e engloba majoritariamente jovens de 15 a 25 anos.
Koppers foi uma dessas jovens que aderiu ao desafio, porém ela foi um pouco mais além, e ao invés de ficar apenas o mês de setembro sem acessar conteúdos pornográficos, ela se prontificou a ficar 90 dias de abstinência e hoje já completa mais de oito meses sem ver este tipo de assunto.
“Me mudou totalmente. Eu acordo sempre com um sorriso gigante no rosto, tenho motivação e energia que me faltava para fazer as tarefas do dia a dia. Passo a viver no presente, me vi menos estressada e com menos ansiedade também. Saio na rua, converso com estranhos e tenho uma vida social, que até então era algo impossível para mim. Eu me tornei mais atrativa, mais confiante, foi algo mágico para mim. Não estou falando que as pessoas devem parar de ver pornografia, mas se sente sem saúde, depressivo, sem uma vida social, é melhor dar um tempo, pois ela está mexendo com o seu cérebro”, diz a garota.
Além do desafio, a medicina elenca outras medidas para tratamento contra a dependência da pornografia, como a prática de exercícios físicos regulares, táticas de relaxamento como Yoga e meditação. Se isso não funcionar, há ainda a ajuda de um psicoterapeuta para ajudar a focar mente do paciente no que é importante e necessário.
“Em último caso, podemos entrar com o uso de medicamentos para controlar esses hábitos, como os antidepressivos, mas em doses para tratar compulsão, incluindo por sexo e pornografia”, diz a psiquiatra.
Fonte: IG Mulher