No século XIX, em vista da amplitude das possessões do Império Britânico pelo mundo, dizia-se que os ingleses possuíam um “Império no qual o sol nunca se põe”. Várias ilhas e territórios ultramar deram à Inglaterra recursos suficientes para ampliar seu poderio industrial, aposentando as máquinas à vapor e investindo na energia elétrica, na expansão das ferrovias e melhorando sua frota naval. Estávamos no esplendor da chamada “Era Vitoriana”, em homenagem à Rainha Vitória que, de tão longeva, viveu entre 1819 até o alvorecer do século XX, em 1901.
Em 21 de abril de 1926, nasceu, em Londres, a tataraneta da Rainha Vitória, a pequena Elizabeth Alexandra Mary Windsor, primogênita do futuro Rei George VI e da Rainha Elizabeth. Seu pai subiu ao trono da monarquia britânica em 1936, transformando a menina de dez anos em princesa e herdeira do trono do Reino Unido. Educada dentro dos muros do palácio, vivendo uma juventude enclausurada no Castelo de Windsor, a jovem princesa adquiriu os conhecimentos necessários à uma futura monarca.
No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, Elizabeth era ainda uma garota de 13 anos e, mesmo assim, resolveu ajudar o seu país. Sua função era participar de transmissões da Rádio BBC, mandando mensagens com o objetivo de tranquilizar outras crianças britânicas. A princesinha também usava o microfone para falar diretamente aos homens e mulheres que serviam nas forças armadas do Reino Unido, como forma de fortalecer o moral do seu povo.
No final da guerra, em 1945, já com 19 anos, Elizabeth tinha se alistado no Exército. Após concluir um curso de mecânica de automóveis, a futura rainha estava apta a dirigir caminhões, ambulâncias e jipes e a fazer reparos nas viaturas e trocar pneus. O filme “A Rainha”, de 2006, mostra a monarca (interpretada pela atriz Helen Mirren) dirigindo um jipe por estradas acidentadas nas propriedades da família.
Aos 21 anos, em 1947, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, casou-se com um primo de segundo grau, o príncipe grego Philip Mountbatten, na Abadia de Westminster. Tiveram quatro filhos: o herdeiro do trono, príncipe Charles, a princesa Anne e os príncipes Andrew e Edward.
Em 1948, grávida do futuro príncipe Charles, Elizabeth estava na tribuna de honra do estádio de Wembley, quando seu pai fez a abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Londres. Certamente não imaginaria que, 64 anos depois, fosse ela quem declararia aberta outra edição das Olimpíadas na capital britânica, em 2012.
Com a morte do Rei George VI em fevereiro de 1952, Elizabeth, aos 25 anos, tornou-se a Rainha do Reino Unido (Inglaterra, Irlanda do Norte, País de Gales e Escócia), Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Paquistão e Ceilão (uma colônia asiática que deu origem ao atual Sri Lanka), embora a coroação só ocorresse mesmo em junho de 1953.
Visita ao Brasil
Entre 1º e 11 de novembro de 1968, a Rainha Elizabeth II e seu marido, ordenado Duque de Edimburgo, visitaram seis cidades brasileiras: Recife, Salvador, Brasília, São Paulo, Campinas (SP) e Rio de Janeiro. Por aqui, inaugurou o Museu de Arte de São Paulo, ao lado do seu idealizador Assis Chateaubriand, presenciou o início das obras da ponte Rio-Niterói e foi ao Maracanã ver em ação o “nosso Rei”. Pelé brindou a Rainha com uma de suas costumeiras exibições de gala, marcando um gol na vitória dos paulistas sobre os cariocas por 3 a 2. Ao término da partida, ocorreu o encontro entre as “realezas”:
– Majestade, este é o jogador Pelé, famoso mundialmente, disse o chefe do cerimonial.
– Ah, eu sei! Já o conheço de nome. E me sinto muito feliz em cumprimentá-lo, disse a Rainha.
Longevidade
Desde sua coroação, a Rainha Elizabeth II já presenciou o governo de 15 primeiros-ministros britânicos (de Winston Churchill até Liz Truss) e sete papas já passaram pelo Vaticano enquanto a monarca se manteve no poder. Em 2014, foi recebida pelo Papa Francisco na sede do governo pontifício.
Em 1997, a morte da princesa Diana, ex-esposa do príncipe Charles, em um acidente de carro em Paris, desencadeou uma onda de críticas pelo silêncio da família real ante o ocorrido. Muitos ataques foram dirigidos contra a rainha pessoalmente, já que grandes setores da sociedade britânica exigiam que ela se juntasse à dor que assolava o país. A monarca ficou em sua residência em Balmoral, na Escócia, onde tradicionalmente passava o verão. Elizabeth II ignorou os telefonemas do então primeiro-ministro Tony Blair, para que ela se dirigisse ao país. Somente seis dias após a morte da princesa de Gales, ela voltou a Londres e falou ao vivo para a nação, vestida de preto fúnebre.
Em abril de 2021, aos 99 anos, a Rainha Elizabeth ficou viúva. Seu marido de toda a vida, o príncipe Philip de Edimburgo, faleceu no Palácio de Windsor, de causas naturais.
Em junho de 2022, ao completar 70 anos no poder, os ingleses comemoraram por quatro dias o Jubileu de Platina da Rainha, com desfile militar, sobrevoo da Força Aérea Britânica, missa em ação de graças e um show no Palácio de Buckingham com a participação de grandes nomes da música inglesa.
O falecimento da Rainha Elizabeth II, no Palácio de Balmoral, na Escócia, em 8 de setembro de 2022, aos 96 anos, ocorre um dia depois de ela felicitar o Brasil pelos 200 anos de independência. A mensagem real foi veiculada por meio da embaixadora do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, em publicação no Twitter. Elizabeth II dizia que se lembrava “com carinho da minha visita ao país, em 1968” e vislumbrava o futuro: “que continuemos trabalhando com esperança e determinação para superar os desafios globais juntos”. O trabalho ficará para o seu filho, Charles, o príncipe de Gales, de 74 anos, que se tornará o novo rei da comunidade britânica.
Edição: Claudia Felczak
Fonte: EBC Internacional