Começou hoje (8), no Rio de Janeiro, o 13º Seminário Internacional de Energia Nuclear, que debaterá até sexta-feira (11), as contribuições do setor como fonte sustentável eo papel da tecnologia nuclear na transição energética do país, para matrizes que reduzam as emissões de gases do efeito estufa.
Ao longo da semana, serão abordados temas como mais tecnologia com menos emissões de CO2, segurança da sociedade e das plantas de geração nucleares, as obras da usina de Angra 3, oportunidades de negócios e as aplicações da tecnologia nuclear no meio ambiente, medicina, agricultura e indústria.
Na mesa de abertura, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, destacou que a energia nuclear tem papel estratégico na transição para uma matriz limpa no país, bem como para garantir a soberania energética do Brasil.
“Ao discutir fissão e fusão, estamos trabalhando exatamente nessa linha. Nós já temos uma estratégia de recursos que começaram neste ano e, para o ano que vem, já tem todo um conjunto de encaminhamentos, seja que governo for, porque nós estamos falando de política de Estado. Estamos falando de uma capacidade científica e tecnológica, de uma competência empresarial e de uma teia de atores que formam um ecossistema irreversível que nós temos. E precisamos de previsibilidade e continuidade”, afirmou o ministro.
De acordo com o relatório Balanço Energético Nacional, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2021, o Brasil utilizou 44,7% de energias renováveis e 55,3% de não renováveis. A energia nuclear corresponde a 1,3% do total da matriz brasileira e chega a 5% no mundo.
A produção de energia elétrica por tecnologia nuclear consiste em aproveitar propriedades naturais das reações nucleares de elementos químicos como o urânio, em usinas termonucleares. A principal forma é a fissão, onde o núcleo atômico se divide em duas ou mais partículas, liberando energia.
Essa energia é usada para aquecer a água que passa pelo reator, chegando a uma temperatura de 320 graus Celsius. A água que entra em contato com o urânio é mantida isolada e sob pressão, para trocar calor com outro circuito de água, onde se forma o vapor que move a turbina de geração elétrica. A matriz nuclear é considerada limpa por não queimar combustível fóssil, como petróleo, carvão ou gás, para a produção de energia elétrica, não emitindo gases de efeito estufa.
Catástrofe climática
Também no Seminário, o professor de Física Aplicada da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo, ressaltou a urgência com que o mundo precisa agir para evitar uma catástrofe climática irreversível. De acordo com Artaxo, que é membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), equipe ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 2007, o mundo debate o tema desde 1972, mas nada foi feito até o momento para frear o aquecimento global, e o planeta caminha para uma emergência climática, com aumento das emissões em cerca de 2% a 4% ao ano.
“Essas emissões se traduzem no aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. No caso do CO2, já aumentamos a sua concentração atmosférica em 66%, comparado com o período pré-industrial. De metano, 259%, e de dióxido nitroso, 123%. A nossa espécie está mudando a composição da atmosfera terrestre e os impactos no clima são muito significativos”.
Segundo o professor, o IPCC já alertou que evidências científicas apontam para o aquecimento do planeta em 3ºC até 2100, o que vai modificar o regime de chuvas e secas e elevar 1 metro no nível do mar. Com isso, o país passará a ter grandes secas na Amazônia e no Brasil Central, além de aumentarem as chuvas no Sul e de toda a costa ser afetada.
Para Artaxo, a energia nuclear não é a melhor opção, por causa do alto custo de instalação das usinas e do tempo de construção, acima de 15 anos, além da proliferação dos rejeitos radioativos que essa matriz pode gerar.
“Como temos urgência na questão climática, e a energia eólica e solar hoje podem ser aplicadas rapidamente com custos iniciais muito baixos, a energia nuclear vai ter que resolver essas dificuldades. Além disso, tem um preço alto de operação, pelas próprias questões de segurança e de usar combustível enriquecido na operação, que não estão ainda totalmente resolvidos. A proliferação de materiais físseis, com meias vidas de milhares de anos, é um problema que ainda não foi totalmente resolvido”, disse Artaxo.
Edição: Nádia Franco
Fonte: EBC Economia