O setor que engloba atividades de prestação de serviços e comércio foi um dos mais atingidos durante a pandemia. Faltando alguns meses para completar três anos, o cenário é outro, e a retomada econômica já é realidade. O ramo está 11,8% acima do nível pré-pandêmico, ponto mais alto da série histórica, e teve crescimento de quase 1% somente em setembro. O resultado é o quinto positivo seguido, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no último dia 11.
No mesmo mês, foram criados 278.085 vagas com carteira assinada no país, de acordo com números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O saldo foi positivo em todas as capitais e nos cinco grupos de atividades econômicas pesquisadas. O setor de serviços teve o maior número de contratações no período, totalizando 122.562 postos de trabalho. Com a chegada da Copa do Mundo e das confraternizações de fim de ano, os resultados podem ser ainda melhores.
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“As expectativas são muito boas. Nós esperamos um crescimento de até 30% da demanda no setor e, se o Brasil avançar na competição, essa porcentagem pode aumentar. Os resultados dos jogos farão toda diferença“, avalia Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
O executivo explica que a Copa costuma lotar os bares e reduzir o movimento dos restaurantes, mas, nesta edição, ambos podem comemorar. “Neste ano, estamos observando uma mudança muito interessante: os restaurantes estão fazendo reservas para novembro e dezembro, período da competição. Podemos dizer que as expectativas têm sido positivas para os dois”, aposta.
Solmucci acredita que um dos principais motivos dos jogos impulsionarem a economia é a data inusitada. A competição costuma acontecer entre os meses de junho e julho. “O período é um diferencial. Além disso, nós também teremos a primeira parcela do 13º salário sendo paga durante a Copa do Mundo, no dia 30 de novembro, e o Auxílio Brasil, turbinando os gastos e fazendo com que a economia gire”.
O Brasil só começa a participar do torneio na próxima quinta-feira (24) mas Alex Apter, CEO da Worc, plataforma de empregabilidade, já vê o reflexo nas oportunidades de trabalho. “Em 2022, observamos um aumento de mais de 1.000% no volume de vagas disponibilizadas no site. Com isso, nós impactamos mais de 300 mil famílias. Este número tende a triplicar com a proximidade da Copa e das festas de fim de ano”, analisa. A tecnologia está disponível no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
“O setor do foodservice é um dos que mais cresceram de maneira sustentável nas últimas décadas, mesmo durante crises”, completa Apter. Na Worc, as principais chances para o ramo de bares e restaurantes são de bartender, sushiman e chef de cozinha. Essas e outras oportunidades podem ser acessadas pelo site. As contratações variam entre temporárias ou formais.
De acordo com um levantamento realizado pela Abrasel, quase metade (45%) dos empresários do setor de alimentação fora do lar em todo o país afirmam ter a intenção de admitir funcionários até o fim do ano. Pelo menos 25% revelaram já ter aumentado o quadro de colaboradores em setembro.
Entre os que pretendem contratar, 63% apontam como motivo o aumento da demanda. Também chama atenção o número de empresas que atribuem a contratação à intenção de ampliar o negócio com novos produtos/serviços (11%) ou de abrir filiais (9%). Além disso, 25% procuram profissionais para recompor o quadro e readequar a empresa à nova configuração de mercado pós-pandemia.
No entanto, nem todos os recrutadores estão encontrando os profissionais desejados. Entre os que querem ampliar o número de funcionários, cerca de 99% afirmam ter algum grau de dificuldade na seleção. É o caso de cargos como padeiro e sommelier: mais de 70% dos empresários dizem sofrer para encontrar mão de obra qualificada. A procura por prestadores de serviço também deve crescer. É o que afirma Francisco Belda, co-CEO da Parafuzo, plataforma que conecta faxineiras, passadeiras e montadores(as) de móveis aos clientes. “Nós acreditamos que a partir desta semana vai haver um aumento da demanda, e, consequentemente, da oferta, porque muita gente vai receber amigos e familiares em casa com os jogos, festas e férias escolares”.
De olho na alta procura pelos clientes, a startup já se prepara para divulgar campanhas específicas para a Copa, que devem beneficiar os colaboradores, os quais têm uma remuneração maior aos domingos e feriados. “Para atender a demanda, vamos lançar a ‘Limpeza pré e pós-jogo’, e a ‘Faxina da Vitória’, caso o Brasil ganhe“, explica o diretor. Continua após a publicidade Os profissionais que desejarem se cadastrar na plataforma devem acessar o site. Segundo Belda, os ganhos podem ser de duas a três vezes mais do que os prestadores costumam faturar normalmente. A tecnologia está disponível em 17 estados e no Distrito Federal, com exceção do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Piauí, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins.
Especialistas dão dicas para conquistar vagas
Os sites e aplicativos são cada vez mais escolhidos pelos empresários para divulgar oportunidades. Mesmo o setor de serviços, que costumava anunciar vagas presencialmente, se rendeu ao avanço tecnológico. Os currículos que antes precisavam ser entregues de porta em porta, são cada vez mais enviados pela internet. Muitos contratantes já não aceitam mais as versões em papel.
Para Ana Chauvet, especialista em recrutamento e CEO da I9hunter, o candidato que quiser se destacar no mercado de trabalho deve apostar no digital. “A primeira coisa que ele deve fazer é estar no LinkedIn, que é um mundo de oportunidades. Além disso, as pessoas também precisam utilizar a plataforma. Quanto mais você está participando na rede, mais visível fica”.
“Se a pessoa não estiver lá dentro, está em desvantagem porque perde oportunidades”, acrescenta. Chauvet é ‘Top Voice’ do LinkedIn, iniciativa da empresa que visa a dar reconhecimento e visibilidade a perfis que compartilham conteúdo relevante e geram engajamento. Para quem é carioca, ela indica os sites RioVagas e Indeed, que costumam trazer bastante oportunidades, inclusive para o ramo de serviços.
As plataformas, no entanto, podem gerar um estranhamento em pessoas de mais idade, que tendem a preferir buscar oportunidades por meios físicos. Chauvet acredita, porém, que candidatos de todas as faixas etárias precisam estar on-line e classifica a questão do acesso como “educativa”.
A inscrição nos sites de emprego costuma ser semelhante às de redes sociais, com a diferença de requerer dados profissionais. Aristella Lemos, psicóloga organizacional, alerta para a importância de ter cuidado com as publicações nas redes corporativas.
“Tem pessoas que não sabem diferenciar o LinkedIn, por exemplo, de outras mídias sociais, e acabam postando de tudo. Isso pode prejudicá-la quando um recrutador for avaliar esse perfil. Outra coisa é quem fala mal de chefes e empresas. Se eu estou querendo contratar alguém, a tendência é descartar esse candidato“, ressalta.
A foto de perfil, segundo a especialista, também requer cautela “Para as mulheres, cuidado com decotes. Os homens também vestir uma roupa adequada, que transmita profissionalismo“.
Lemos ressalta os benefícios que as redes trazem se comparadas ao currículo físico. “A partir do momento que você está nas plataformas, tem a possibilidade de mostrar algo a mais do que o seu currículo. Ele é apenas um resumo das experiências profissionais, mas nem sempre você tem a possibilidade de colocar o que você pensa ou como os líderes com quem você trabalhou recomendam seu perfil“.
Edson Durão, gestor de carreira, avalia que o nível de formação, geralmente visto como outro empecilho, não limita os interessados de estarem nas plataformas corporativas. “Se o candidato tem apenas o Ensino Médio, por exemplo, ele tem que se preocupar basicamente com os resultados que é capaz de entregar. Não é questão de formação, é questão de inteligência”, destaca.
“Todos nós estamos preparados para resolver inúmeros problemas, ele tem que ver quais está habilitado a solucionar. A partir disso, deve procurar as empresas que tenham essas demandas a serem resolvidas. Nenhum recrutador contrata para executar uma tarefa, mas para solucionar uma questão, independente do mercado“, completa Durão.
Durante o processo seletivo, chega a hora da temida entrevista. Com a pandemia, ela também passou a ser on-line em muitas empresas, o que pode causar ainda mais nervosismo. Para o psicólogo, isso pode ser resolvido de forma simples: “O candidato precisa saber contar a própria história. Ele tem que focar naquilo que interessa para o selecionador, mostrando como pode ser útil, de acordo com as competências dele“.
Fonte: IG ECONOMIA