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Bulimia: “Eu busquei um médico para começar a tomar anfetamina”

A empresaria e escritora, Leka Begliomini, de 47 anos, decidiu escrever o livro
Divulgação/Instagram

A empresaria e escritora, Leka Begliomini, de 47 anos, decidiu escrever o livro “LOKA eu?”, para abordar sua vivencia com a bulimia

“Antes de tudo, acredito ser importante falar que a bulimia é um conjunto de fatores. As pessoas imaginam a bulimia apenas quando acontece a questão do vômito, penso que é porque o vômito tem um forte impacto, até mesmo algo meio cênico, que acaba chamando a atenção das pessoas. 

Entretanto, a bulimia não é apenas isso, ela é a necessidade excessiva de querer emagrecer, de querer tirar de você alguma coisa que você acredita que vai te fazer mal. Combinada com a compulsão alimentar, em que você ingere uma quantidade excessiva de comida, mas ainda com o pensamento de ‘Eu preciso ficar magra, eu preciso me manter magra’. 

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Dito isso, não foi um único fator que causou a minha doença, inclusive no meu livro ‘LOKA eu?‘, eu mergulho nesse questionamento, ‘O que desencadeou a minha bulimia?’ e são muitas questões. Eu, como muitas mulheres da minha idade, somos de uma geração em que a cobrança pela magreza era muito agressiva. 

Desde muito nova, eu desenvolvi um relacionamento errado com a comida. Cresci em um ambiente em que a magreza era referência de sucesso, em uma época que a sociedade descaradamente te cobrava isso. Não que nos dias de hoje ainda não cobre, no entanto, me parece que as pessoas estão começando a pensar de uma forma diferente. 


Enfim, foi por volta dos meus 16 anos, que os meus traços de bulimia começaram a surgir. Nessa época, eu tomava laxantes e diuréticos, por indicação de uma amiga, com a ideia de que esses remédios me impediriam de engordar. Fazendo isso, por várias vezes, eu comia de forma compulsiva, para tomar laxante depois. 

O que era uma ideia complementante idiota e ignorante, de uma pessoa que estava passando por um transtorno na mente e não consegue pensar de maneira natural e saudável. Até hoje eu tenho problemas sérios de intestino devido a esse comportamento. 

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E essa visão distorcida sobre mim mesma me acompanhou pela maior parte da vida, piorando com o tempo. Um momento muito emblemático para mim foi quando trabalhei, durante a noite, em uma agência de produção de eventos em São Paulo. Foi uma época em que eu me cobrei muito, porque nesse lugar a magreza era um valor importante. E depois, com a exposição do Big Brother, a minha relação com a minha imagem só piorou. 

Com o passar dos anos, além dos laxantes e diuréticos, eu busquei um médico para começar a tomar anfetamina, com o intuito de emagrecer e, por estanho que pareça atualmente, ele me permitiu usar a medicação. Antigamente, a anfetamina era vista como uma pílula mágica, que te dava energia e acabava com a fome. O que era exatamente o que eu estava buscando. 

Nos anos 90 era algo muito comum tomar anfetamina, os médicos prescreviam e a gente tomava. Era muito normal, todas as minhas amigas faziam isso, se nós fossemos a uma festa e achassemos que o vestido estava apertado, tomávamos um diurético, para nos sentirmos desinchada e essa sensação de ‘bem estar’ fazia com que nós continuássemos dependo desses remédios. Contudo, hoje, nós vemos as consequências desse comportamento, muitas pessoas, têm, agora, problemas renais e de fígado como resultado disso. 

Continuei consultando este médico durante anos e anos, sempre tomando medicamentos fortes. Até eu finalmente procurar tratamento, antes de ter a minha saúde ainda mais prejudicada, do que já estava.  

O que acabou me fazendo abrir os meus olhos foi a minha filha. Logo após o nascimento dela eu tive uma crise de pânico terrível, era como se eu realmente fosse morrer e isso foi apavorante. Tudo o que eu conseguia pensar era ‘Meu Deus, eu tenho uma filha, eu não posso morrer’.  

A essa altura da minha vida, eu sabia que o que tinha causado esse episódio foram os meus remédios para emagrecer. Quando você usa um remédio, com o tempo você vai entendendo o que ele provoca em você. Eu tinha plena certeza do que estava desencadeando a crise  e não queria ter uma próxima. E desde então eu nunca mais tomei os tais remédios. 

Porém, as sequelas que ficam, o tempo que você passou destruindo o seu corpo não se apaga. Quando a gente é supernova, a gente acha que a conta nunca vai chegar, mas uma hora ela chega. As dietas e os remédios me causaram, como já citei antes, problemas de intestino e de rins, que precisaram ser reestimulá-dos. Porque eles já não estavam mais trabalhando sozinhos, na frequência que deveriam. 

Além disso, também precisei buscar um tratamento neurológico, para estimular o meu cérebro com uma alimentação natural, o mesmo foi preciso fazer com o meu intestino, voltar acostumá-lo com uma boa relação com a comida.   

Outro problema que eu desenvolvi foi a insônia. É realmente muito difícil para mim conseguir dormir, geralmente apenas consigo umas quatro horas por noite. Tem vezes que eu literalmente passo dias sem dormir. 

E é esse o grande problema da beleza, sou super a favor da gente se cuidar, mas essa busca por um padrão de aparência e aprovação dos outros a qualquer custo, trilhando um caminho perigoso, é loucura e se torna prisão. Todo mundo tem que se sentir bem pelo que realmente é e não pela sua aparência ou qualquer traço físico. 

Motivação para escrever o livro 

A ideia de escrever o livro veio da mesma pessoa que me abriu os olhos sobre o meu transtorno alimentar. Durante a pandemia, passando mais tempo em casa com a minha filha, eu via como ela se relacionava com as amigas, com os filtros do Instagram e todas as questões da adolescência, eu percebi que essa geração vive problemas muito maiores do que a minha.  

Até então, eu acreditava que essa era uma geração melhor do que as anteriores, mais tolerante sobre o peso. E, de repente, eu vi que as questões deles eram muito mais intensas. Porque a imagem se tornou ainda mais importante, devido às redes sociais.  

Além de tudo, ainda por ser pandemia, eu também estava trabalhando menos  e ficando mais em casa, a minha empresa reduziu muito o giro de produção. O que me possibilitou me dedicar ao meu livro. Sempre gostei de escrever e ter a escrita como uma forte forma de comunicação. Por isso as coisas foram acontecendo com muita naturalidade. 

Com essa nova percepção da realidade, eu comecei a me questionar como uma pessoa que tinha as mesmas inseguranças e conflitos que eu vivenciava tudo isso. Motivada por esses questionamentos iniciei uma profunda pesquisa sobre esse tema. Não me restringindo em olhar apenas para a doença, mas também me debruçando para o contexto social, cultura e politico entorno dela. 

Isso me fez entender o ambiente social em que eu cresci, que me motivou a ter bulimia e o meu comportamento durante aqueles anos. A cada descoberta que eu fazia, sentia querer compartilhar com um maior número de pessoas. 

Creio que o grande questionamento do meu livro é a loucura, que é exatamente o sentimento que eu sentia durante a minha luta contra os transtornos alimentares. Desde a nossa infância somos inundados com a ideia de que a chave do sucesso é a magreza e que estar ‘acima do peso’, é algo horrível. Entretanto, quando nós desenvolvemos algum tipo de transtorno, após passarmos a vida inteira recebendo esse tipo de informação, somos tratadas como loucas”. 

Fonte: IG Mulher

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