Nos últimos anos, diversos regimes alimentares se tornaram presentes no dia a dia da população brasileira. Entre a eliminação de alimentos cozidos com o crudivorismo até a exclusão da fonte animal com o vegetarianismo, as dietas não-onívoras buscam se afastar do consumo de carne por completo.
Entre no canal do iG Delas no Telegram e fique por dentro de todas as notícias sobre beleza, moda, comportamento, sexo e muito mais!
Mas, para quem ainda não consegue abandonar o consumo de carne animal e ainda deseja priorizar os vegetais e ajudar o meio ambiente, existe uma outra opção: o flexitarianismo.
Conhecido também como ‘semivegetarianismo’, o flexitarianismo promove a ingestão de alimentos à base de plantas e o consumo casual de carne animal. Isso significa que, por mais que o flexitariano consuma carne algumas vezes na semana, sua dieta é realmente centrada em vegetais.
Esse método alimentar está em constante crescimento no Brasil: um levantamento da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC) revelou que 46% dos brasileiros acima dos 35 anos cortaram o consumo de carne animal pelo menos uma vez por semana por vontade própria.
“[O flexitarianismo] é um estilo de vida que busca uma maior flexibilidade no consumo de alimentos de origem animal quando comparada à uma dieta vegetariana estrita, que exclui totalmente esses alimentos”, explica a nutricionista da clínica Nutree, Sabrina Marcelo.
Segundo a especialista, uma refeição flexitariana é constituída de aproximadamente meio prato de legumes, verduras e frutas e meio prato de grãos integrais, fontes de proteína vegetal (leguminosas/feijões), e opcionalmente quantidades modestas de carnes, ovos e laticínios.
Não existe uma porcentagem exata de consumo de carne animal que defina o flexitarianismo, mas a maioria dos guias alimentares considera que um flexitariano deixa de comer proteína animal pelo menos duas vezes na semana. Esse é o caso de Rafaela Pires (21), designer que aderiu ao flexitarianismo no início do ano.
“Eu sempre quis ser vegetariana. O problema, é claro, é eu almoçar sempre com minha família e com pressa por conta do trabalho. Isso me deixa com poucos dias onde posso realmente cozinhar o que quero”, explica a jovem.
Nos quatro dias da semana em que consegue cozinhar, Rafaela opta pela dieta flexitariana: “sei que não é muito, mas já é alguma coisa. Não deixei a carne animal de lado, é claro, mas consumo muita carne vegetal durante metade da minha semana. Descobri, nesses produtos, uma forma muito prática de melhorar minha alimentação e ainda ajudar o meio ambiente.”
O motivo de tantos brasileiros, como Rafaela, apoiarem essa mudança? Para os especialistas, as razões são diversas. “São diversos fatores hoje bastante discutidos na mídia, na ciência e em eventos. Muitas pessoas são impactadas por questões ambientais, uma vez que hoje já é mais do que sabido que a produção de alimentos de origem animal utiliza muito mais recursos naturais do que a de vegetais”, explica Alessandra Lulgio, nutricionista consultora da N.ovo, empresa que produz alimentos apenas à base de plantas.
O impacto ambiental do consumo de carne é extenso: dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) destacam que pelo menos 14,5% das emissões de gases poluentes vêm da agropecuária.
Além disso, Alessandra aponta que um fator muito significativo para quem reduz o consumo de carne é a questão da saúde. “Muitos especialistas recomendam a redução dos alimentos de origem animal por serem, em sua maioria, ricos em gorduras saturadas e colesterol, além de pobres em fibras e diversidade de micronutrientes, e essa dobradinha está relacionada ao desenvolvimento de doenças crônicas, como as cardiovasculares”, explica.
De acordo com a profissional, a dieta flexitariana pode ser considerada benéfica à saúde, uma vez que a redução dos alimentos de origem animal convida o consumidor a refletir sobre seus hábitos de consumo e se abrir para novas opções, que por sua vez significa consumir mais vegetais.
Sabrina também explica que as dietas atuais adotam um grande consumo de alimentos processados, açúcares refinados, carnes e gorduras. Esses alimentos contribuíram para que 2,1 bilhões de pessoas no mundo apresentassem sobrepeso ou obesidade – e essa mudança na composição corporal aumenta também a incidência de doenças crônicas.
“As dietas com redução de alimentos de origem animal contribuem para um impacto positivo na saúde, devido à redução nos riscos de doenças crônicas. Os benefícios ocorrem pelo aumento na ingestão de legumes, vegetais e frutas, e uma diminuição na ingestão de carne vermelha.”, declara.
A nutricionista Sabrina também cita outros fatores que ajudam na redução do consumo da carne, como o ato de repensar sobre a cultura da dieta ocidental, que só considera uma refeição completa quando há proteína animal, e também o desejo de descobrir novos sabores, novas receitas e novas formas de preparo.
“A redução no consumo da carne tem se tornado uma prática cada vez mais comum, podendo ser justificada pela crença, princípios morais, cuidados ambientais, afeto aos animais ou por manifestar aversão quanto à textura, sabor e cheiro, já outros por acreditarem ser a forma mais saudável de manter o estado nutricional”, aponta.
O flexitarianismo é, então, uma ótima porta de entrada para quem deseja reduzir o consumo de alimentos de origem animal, e a consulta com um nutricionista é essencial para quem deseja melhorar esses hábitos.
Para a nutricionista, a adoção da dieta flexitariana garante um estilo de vida equilibrado e saudável, atendendo as necessidades de grande parte dos nutrientes. Entretanto, devido ao consumo flexível de alimentos de origem animal, alguns nutrientes, principalmente a vitamina B12, devem ser avaliados e suplementados por profissionais.
“Eu aconselho que as pessoas que querem cuidar melhor da própria saúde e ter uma alimentação com mais baixa pegada ambiental iniciem a jornada flexitariana, reduzindo no geral o consumo dos alimentos de origem animal, se abrindo para conhecer e provar novos sabores”, diz Lulgio.
A nutricionista também reconhece que comer vai além da nutrição. “Para quem ainda não consegue se desvincular do gosto da carne animal, existem opções no mercado que podem substituir esse sabor. Existem alimentos vegetais que são análogos aos animais como carnes, leite e derivados e ovos, como os da N.ovo, que podem preencher o espaço da proteína animal fazendo receitas iguais às tradicionais.”
Quando perguntada sobre o principal conselho para os futuros flexitarianos, a profissional afirma que o tempo e as experiências com novos alimentos podem levar a uma dieta saborosa e saudável. “Vá no seu tempo, mas caminhe para frente! Informe-se e curta muito essa descoberta imensa de opções, cores e sabores vegetais. Essa jornada é muito mais simples e gostosa do que a maioria imagina”, finaliza.
Fonte: IG Mulher