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DEU NO JN

VLT para Copa de 2014 que já consumiu mais de R$ 1 bi é desfeito para dar lugar a BRT em Cuiabá

Reprodução

Na Região Metropolitana de Cuiabá, as obras de um projeto que deveria ter ficado pronto oito anos atrás e que já custou mais de R$ 1 bilhão agora estão sendo demolidas. Os 280 vagões que transportariam 160 mil pessoas por dia vieram da Espanha, avaliados em quase R$ 500 milhões, e continuam no mesmo lugar, preservados pelo consórcio que implantaria o VLT.

“A gente faz toda a manutenção nos veículos, tanto a parte de zeladoria, manutenção preventiva, testes, engraxes, lubrificações, e a gente passa todos esses relatórios, protocola no governo do estado de Mato Grosso”, diz o engenheiro de teste José Raimundo dos Santos.

O ferro que veio da Polônia e a borracha da Itália usados nos trilhos estão sendo retirados por máquinas pesadas. De dia, de noite e de madrugada, e se misturam a montanhas de entulho.

“É tanto ferro ali que arrancaram, tanta coisa ali que estragaram, gente, o que é isso? Isso aí é um dinheiro que nós vamos pagar”, afirma a cuidadora Raquel Souza Silva.

Dos 22 quilômetros de trilhos previstos no projeto, seis já estavam prontos na Região Metropolitana de Cuiabá. Agora quase tudo isso, segundo o consórcio responsável pela obra, deve ser jogado fora. Com a destruição, já são quase R$ 89 milhões desperdiçados só em trilhos, pelos cálculos do consórcio.

O VLT era uma das obras para Copa do Mundo no Brasil. A construção parou ainda em 2014, depois que a Polícia Federal e o Ministério Público denunciaram corrupção e desvio de dinheiro. O então governador Silval Barbosa chegou a ser preso e fez delação premiada.

A obra já custou R$ 1 bilhão, e o consórcio, numa estimativa feita cinco anos atrás, calculava que precisaria de mais R$ 922 milhões para terminar.

O governo do estado rompeu administrativamente o contrato com o consórcio em 2017, na gestão de Pedro Taques. O consórcio recorreu na Justiça e teve o recurso negado. Em 2020, o atual governador, Mauro Mendes, decidiu fazer a substituição do modal, de VLT para BRT, que era a escolha inicial do estado, dessa vez com ônibus elétricos.

O governo disse que a mudança para o BRT está baseada em um estudo técnico. O VLT, Veículo Leve sobre Trilhos, é um trem de superfície movido a energia elétrica. Já o BRT é o serviço de ônibus que usa corredores exclusivos.

“Fizemos um estudo muito profundo com a participação de entes federais, do estado, de prefeituras, e chegamos à conclusão de que o BRT é moderno, eficiente e vai custar praticamente a metade do preço que nós gastaríamos só para terminar o VLT”, diz o governador Mauro Mendes.

O coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, Rafael Calabria, diz que a troca de VLT para BRT é um retrocesso.

“Os benefícios que o trilho traz em sustentabilidade, em capacidade de passageiros e na diversidade de opção que a cidade vai ter são muito melhores do que no BRT. Então investimento um pouco maior se justificaria. Ainda mais no caso de Cuiabá, que já começou a obra, seria só finalizar. Então o BRT, além de uma opção errada, vai ter um desperdício de dinheiro público”, afirma.

A licitação do BRT já foi feita, mas o Ministério Público de Mato Grosso investiga supostas irregularidades na licitação. A denúncia foi feita pela prefeitura de Cuiabá, a qual é contra a mudança.

“Não há o menor bom-senso em dizer com BRT que está começando do zero é mais barato que o VLT, que já tinha 70% das obras executadas e boa parte dos seus recursos pagos”, ressalta o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro.

Quem usa o transporte coletivo, hoje feito apenas por ônibus, reclama.

“Tem que ter qualidade. A gente entra no ônibus assim, aquele calor, a gente, com pressão alta, tem tudo, estou vendo a hora da gente ter um ‘piripaque’”, diz a aposentada Eugênia Joaquina da Cruz.

“Eu espero que saia logo, para a gente poder usar, ter mais um pouco de conforto”, afirma a cuidadora Raquel Silva.

O que dizem o governo e o consórcio

O governo de Mato Grosso declarou que o contrato previa que o VLT seria entregue pronto, que os equipamentos comprados são do consórcio responsável pela obra e que entrou na Justiça para receber indenização de todo o valor que o estado investiu.

O consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande afirma que o desmonte do projeto não encontra amparo de ordem técnica ou econômica, que mantém a guarda e manutenção dos trens até uma decisão da Justiça e que sempre esteve à disposição do estado para uma solução legítima e viável para concluir o projeto.

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