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Por meio da comparação entre comunidades de insetos presentes em riachos do Brasil e dos Estados Unidos, um grupo de pesquisadores busca compreender os impactos das mudanças climáticas na organização da biodiversidade aquática, algo ainda pouco conhecido.
O projeto é liderado por cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e envolve colaboradores da Nova Zelândia (University of Canterbury) e dos Estados Unidos (University of California, Virginia State University e University of Maryland).
Apoiada por FAPESP e National Science Foundation (NSF), a equipe é coordenada por Victor Satoru Saito, docente no Departamento de Ciências Ambientais da UFSCar.
Com duração de três anos, o projeto prevê estudar em comunidades biológicas de riachos insetos que possuem fase de larva na água e que se tornam terrestres quando adultos, como é o caso das libélulas. O intuito é entender se a organização dessas comunidades ao longo do tempo é diferente em locais tropicais e temperados.
“As espécies são sempre as mesmas ou mudam de mês a mês? Qual a magnitude dessas variações? Há a troca de todas as espécies do verão para o inverno, ou permanecem as mesmas?”, exemplificou Saito à Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar.
Para responder a esses questionamentos, os cientistas produzirão amostragens mensais dessas comunidades em riachos nos dois países, de forma coordenada e uniforme. Com isso, eles pretendem estudar todo o ciclo de vida desses insetos, da vida aquática à saída da água, como adultos alados, até a reprodução e a inserção de ovos novamente nos riachos. Também estarão no foco as suas demografias, considerando a dinâmica da população, com informações como quantidade de indivíduos, natalidade e mortalidade.
O desconhecimento ainda existente sobre como a biodiversidade de insetos responde diretamente às mudanças climáticas é devido, sobretudo, à falta de estudos coordenados em diferentes latitudes, que permitam uma comparação direta do efeito da temperatura nos organismos.
“Com os dados coletados, vamos buscar construir modelos que permitam prever como cada comunidade pode responder a futuras mudanças climáticas”, detalhou o docente da UFSCar.
Os locais de análise ainda estão em definição, mas Saito adianta que, aqui no Brasil, serão potencialmente os riachos dentro do Parque Estadual de Intervales, localizado no sul do Estado de São Paulo. “Essa unidade de conservação abriga uma Mata Atlântica muito bem preservada e uma bacia hidrográfica bem inserida e conhecida”, justificou.
O professor conta que os insetos aquáticos costumam ser utilizados como indicadores ambientais. Assim, o estudo também é uma forma de tentar prever como os ecossistemas vão responder a mudanças, para pensar em precauções diante de alterações ecossistêmicas indesejadas, como a perda de espécies de interesse pesqueiro ou a diminuição da qualidade da água.