Vinte anos de carreira, uma coleção de medalhas, um título mundial, participação em Jogos Olímpicos e muita experiência dentro das quadras. É com esta bagagem que Maria Elisa decidiu colocar um ponto final em sua trajetória no vôlei de praia. A atleta disputará seu último torneio profissional nesta sexta-feira, em Saquarema, pelo Circuito Brasileiro. Ela vai sair de cena da modalidade – mas nem tanto.
Multicampeã e referência no esporte, Maria Elisa, de 39 anos, terá mais tempo livre para se dedicar ao filho Lucca, de dois anos e nove meses, ao seu CT na praia da Barra da Tijuca, e à faculdade de Psicologia, área que pretende trabalhar no futuro – no ramo esportivo.
– Foi uma decisão muito planejada. Fui me preparando muito ano passado, me formei em Educação Física, fiz cursos, investi no meu CT. Nesta rotina de jogadora e de mãe, comecei a perceber que eu não estava dando tanta atenção para o meu filho. Entendi que a vida dele é muito mais completa e saudável estando perto de mim todo dia – disse a jogadora, que será comentarista de vôlei de praia do Sportv, em entrevista exclusiva ao ge.
– E a minha saúde psicológica, desde que ele nasceu, estava ficando muito abalada. Eu me dei esses quatro meses (sem jogar) pra ver se eu ia sentir falta. Quando eu comecei a faculdade de psicologia, vi que a minha vida estava muito boa. Estava conseguindo pensar no meu futuro, na psicologia, com o meu centro de treinamento e ser mãe. Estava no vôlei por causa do meu passado e não por causa do meu futuro.
Ser mãe de Lucca foi uma das maiores realizações de Maria Elisa, realização essa que também foi essencial para deixar um legado para as grávidas do vôlei de praia. Após um desabafo de Maria, a CBV e a FIVB mudaram o regulamento, impedindo a perda de pontos no ranking de jogadoras durante o período de afastamento por gravidez.
– Eu mudei a regra do esporte, nacionalmente e mundialmente. Isso é uma medalha de diamante, que não é palpável, mas representa muito mais que todas que eu conquistei na minha vida, porque ela mexe na vida de todas as mulheres. Foi muito importante para mim ter voltado da gravidez e ter lutado por aqueles pontos.
A maternidade, inclusive, foi um dos pontos cruciais para Maria Elisa ao decidir pela aposentadoria.
– A única vida que é impossível eu administrar com filho é a de jogadora. E eu tenho essa certeza de que eu dei tudo dentro de quadra. Já perdi o que eu tinha que perder e ganhei o que tinha que ganhar. Eu não quero conquistar a próxima medalha que tiver no próximo torneio. Eu quero um futuro é que me deixe feliz, realizada com meu filho do meu lado.
Campeã mundial em 2014 ao lado de Juliana, bicampeã brasileira em 2009 e 2017/2018, Maria Elisa acumula títulos e conquistas desde 2004, quando começou a jogar profissionalmente. No currículo, apenas uma medalha faltante: a olímpica. Mas se antes isso era uma questão, hoje, graças à psicologia, os objetivos são outros.
– Eu fiquei muito mal um ano depois dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, por não ter ganhado uma medalha. Em 2013, eu tive uma depressão. Mas quando eu tive ajuda de um psicólogo, fui campeã mundial em 2014. Fiquei muito mais madura depois que a psicologia entrou na minha vida. Faço psicologia, porque eu não tive psicólogo na Olimpíada. E a minha felicidade hoje é passar isso para frente. Não tenho mágoa da medalha. Tenho muita gratidão por ter vivido uma experiência olímpica, pela minha equipe, por quem investiu em mim, quem esteve comigo desde o início até o final – garantiu.
Antes de virar a chave, definitivamente, Maria Elisa viaja para Saquarema para atuar o lado de Fernanda Berti para disputar uma etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia. E, pela primeira vez, o foco não estará no resultado, e sim, em se despedir do esporte que foi seu sustento e paixão nesta jornada de duas décadas.
– Eu vou para me divertir, não estou visando ir para as finais. Não me preparei para isso. Meu corpo já se despediu faz tempo. Esse agora é para minha alma se despedir, então é mais profundo. Eu choro só de pensar – encerrou.