Os grupos de Transportes (-0,57%) e de Artigos de residência (-0,23%) foram os únicos a registrarem queda no IPCA de maio. No primeiro, destacam-se os recuos nos preços das passagens aéreas (-17,73%), além do resultado de combustíveis (-1,82%), por conta das quedas do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%).
A desaceleração do índice em maio também foi influenciada pelo resultado do grupo de Alimentação e bebidas, que passou de 0,71% em abril para 0,16% em maio, explica André Almeida, analista da pesquisa, em nota à imprensa. “Trata-se do grupo com maior peso no índice, o que acaba influenciando bastante no resultado geral”.
O principal destaque foi na alimentação no domicílio, que passou de 0,73% no mês anterior para uma estabilidade em maio. O grupo registrou queda nos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%).
Por outro lado, a alta teve como destaque a inflação do tomate (6,65%), do leite longa vida (2,37%) e do pão francês (1,40%). “Nos casos do tomate e do leite, os aumentos de preço estão relacionados a uma menor oferta”, explica Almeida.
Entre os demais seis grupos, todos apresentaram alta nos preços. A inflação em Saúde e cuidados pessoais teve o maior impacto (0,12 ponto) e a maior variação (0,93%) com destaque para plano de saúde (1,20%) e itens de higiene pessoal (1,13%), com especial influência para a alta do subitem perfumes (3,56%).
Também os produtos farmacêuticos, com alta de 0,89%, contribuíram para o resultado, após a autorização do reajuste de até 5,60% no preço dos medicamentos, a partir de 31 de março.
Já o grupo Habitação, com alta de 0,67%, contribuiu para a alta IPCA de maio. “Houve influência dos preços da água e esgoto e da energia elétrica, que registraram reajustes em algumas capitais”, justifica o analista da pesquisa.
A maior contribuição (0,05 ponto) veio da taxa de água e esgoto, com variação de 2,67%, devido a reajustes aplicados em seis áreas de abrangência do índice (Recife, São Paulo, Aracaju, Curitiba, Belém e Goiânia).
Já a variação de energia elétrica residencial, de 0,91%, contribuiu com 0,04 ponto, muito por conta de reajustes aplicados em seis áreas capitais (Salvador, Recife, Fortaleza, Campo Grande, Belo Horizonte e Aracaju).
Em relação aos índices regionais, somente uma área apresentou deflação no IPCA de maio: São Luís (-0,38%), influenciada pelas quedas de 7,63% no frango inteiro e de 5,87% na gasolina. A maior variação foi em Fortaleza (0,56%), com especial contribuição dos subitens jogos de azar (12,18%) e de energia elétrica residencial (3,71%).
Também foi divulgado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A variação em maio foi de 0,36%, abaixo do registrado em abril (0,53%). No ano, o INPC acumula alta de 2,79% e, nos últimos 12 meses, de 3,74%. A taxa de maio de 2022 foi de 0,45%.
O INPC mostra que os produtos alimentícios subiram 0,16%, após alta de 0,61% em abril. Já os produtos não alimentícios registraram alta de 0,43%, desacelerando em relação ao resultado de 0,50% de abril.
Projeções do mercado
Os economistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central para o Boletim Focus desta semana, divulgado na segunda-feira (5), revisaram suas expectativas para a inflação deste ano, de 5,71% para 5,69%. Foi a terceira revisão seguida para baixo. Para 2024, a média das projeções para o IPCA foi reduzida de 4,13% para 4,12%. Já para 2025 e 2026, a inflação ficou estimada em 4%.
Apesar de revisar para baixo as projeções para o IPCA, o Boletim Focus manteve estáveis as projeções para a taxa básica de juros, com perspectiva de Selic em 12,5% ao fim de 2023, 10% em 2024 e 9% em 2025. Para 2026, a projeção aumentou de 8,75% para 9%.
Também na segunda-feira o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o Brasil tem índices de inflação menores que a média dos países do mundo desenvolvido pela primeira vez na história.
“Pela primeira vez na história, o Brasil tem uma inflação muito menor que a média do mundo desenvolvido. Temos que entender que a inflação é perversa para a transferência de renda. A inflação afeta muito mais quem não consegue se proteger do aumento de preços”, disse.
Embora Campos Neto tenha defendido a manutenção do índice em patamares baixos, ele destacou que a queda dos núcleos da inflação ainda é lenta no Brasil. “A queda da inflação tem sido associada a uma melhora do crescimento, não piora. Então quando digo que o cenário clareou um pouco é porque a gente tem uma revisão de crescimento para cima e, ao mesmo tempo, tem uma revisão de inflação para baixo, enquanto o mundo está indo no caminho contrário”, afirmou.
Ao comentar a taxa básica de juros — atualmente em 13,75% —, Campos Neto rebateu o argumento de que os patamares elevados sejam “para o rentista”. Ele afirmou que a Selic alta se deve ao algo grau de endividamento do governo.
“Outra coisa que eu escuto muito é que o juro alto é para o rentista. Juro alto não é para o rentista. Juro alto acontece porque o governo deve muito, se o governo devesse menos, o juro era mais baixo”, disse.
Ainda ao comentar o assunto, o presidente do BC brincou ao comentar a popularização da discussão sobre a Selic. “Virou um pouco como a Seleção Brasileira na Copa do Mundo, o que é juros. Todo mundo tem uma opinião, e eu acho que o debate é super importante, até para o Banco Central explicar seu trabalho”, completou.