PEDRO FRAGA
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Com uma estratégia de marketing arriscada, de provocação aos internautas e apostas pretensiosas em relação ao conteúdo do seu mais novo álbum, no dia 29 de agosto, Luísa Sonza lança o fortemente aguardado “Escândalo Íntimo”.
Em uma sequência de faixas que escrachadamente fazem referências a outras obras já existentes, Luísa soa pedante ao querer mostrar a todo o tempo, tanto na promoção do álbum como nas próprias músicas, sua grande vontade de provar ao povo brasileiro que sua obra é mais do que somente “pop”.
Inegavelmente, a cantora além de portar um grande currículo de sucessos nas paradas brasileiras, também é dona de uma das vozes mais marcantes dos últimos tempos no meio pop brasileiro. Com sua estreia no mainstream “Boa menina”, nos últimos 4 anos, Luísa tem lançado ao longo desse tempo diversas músicas que marcaram a indústria, cita-se sucessos como “Modo turbo”, “Braba”, “Penhasco” e “sentaDona”.
Para além disso, o nome de Sonza também foi citado muitas vezes na mídia, não só por parcerias com grandes artistas nacionais e internacionais, como pelas polêmicas envolvendo seus relacionamentos anteriores, e também sua “ficha criminal”, já manchada por uma acusação de racismo à qual tentou esconder por 2 anos, mas somente em 2023 assumiu seu erro e tomou as devidas medidas legais.
Em meio a todo esse cenário de polêmicas, ao qual a artista também não parece ter feito grande esforço para acalmar, Luiza anuncia seu novo álbum, com a promessa de querer “provocar o Twitter” (cômicamente, quem mais a defendeu de suas polêmicas nos últimos anos na rede).
Ao afirmar na mesma rede que seus fãs deveriam “escutar música brasileira, artistas brasileiros, como Cássia Eller, Cazuza e etc.”, as polêmicas e comentários irônicos acerca de seus próximos lançamentos só aumentaram.
Então, chegamos ao momento atual, onde a internet se dividiu em dois lados: aqueles que amaram o disco e o defenderão até o fim como uma promessa de revolução da música pop brasileira, e aqueles que afirmam o álbum ser um poço de pretensiosidade e falta de conteúdo lírico realmente original, e de alguma forma, verdadeiramente profundo sobre os temas em que se propõe comentar.
Algumas faixas como a colaboração com a norte-americana Demi Lovato “Penhasco2” (momento mais aguardado do álbum pelo público), e “Principalmente Me Sinto Arrasada”, de fato, mostram alguma sofisticação em relação à produção. Na sua parceria com Lovato, os vocais e sentimentalismo são fortemente explorados com grande visceralidade e força, carregados de uma composição relativamente coesa, porém, a atmosfera da música “amarga” por alguns segundos quando surge a infame frase “saudade não tem tradução”, cantada pela colaboração. Em um momento de ápice emocional da música, essa passagem surge de repente e acaba com a atmosfera criada, assumindo um papel, de certa forma, caricato, fazendo uma óbvia alusão ao fato de que realmente não existe tradução em inglês para a palavra saudade.
Outro momento relevante a ser comentado é a música “chico”, onde Luísa parece ter conhecido pela primeira vez o conceito de se parafrasear uma obra, sendo uma referência mais do que clara, óbvia, à música “folhetim” composta por Chico Buarque. Nesse mesmo ritmo de fazer referências nada discretas, conhecemos “Lança menina”, música que poderia ter sido muito mais sofisticada se não fosse pelo refrão literalmente igual ao sucesso quase homônimo de Rita Lee “Lança perfume”.
É consenso no meio artístico que a citação e a referência são muito mais sobre sutileza do que sobre objetividades. Duvidar da capacidade do seu público ou tentar explicar demais aquilo que você traz em um projeto normalmente demonstra um certo desespero de se provar para algo ou alguém.
Portanto, “Escândalo Íntimo” não agradou a gregos e troianos, mas cumpriu seu objetivo: ser polêmico e provocativo, rendendo à artista uma estreia histórica, sendo o terceiro álbum da América Latina com o maior número de acessos em seu primeiro dia de lançamento.
Ainda sim, nos resta a dúvida: As pessoas escutaram o álbum realmente pelas músicas e sua aposta artística, ou somente pela polêmica em seu entorno?
*Pedro Fraga é artista visual, ator, bailarino e ativista jovem. Atualmente, trabalha com redes sociais no grupo RDM Online.