Mato Grosso possui o maior rebanho bovino do país, com mais de 30 milhões de animais, sendo 90% dele Nelore ou ‘anelorado’. Com uma trajetória peculiar iniciada na metade do século 19, quando os primeiros zebuínos desembarcaram no país, o Ongole indiano hoje é considerado um patrimônio nacional: a raça Nelore.
É importante destacar a excelente adaptação desses animais às condições de manejo e ao clima do país, por isso, quando falamos na qualidade da carne que chega à mesa dos brasileiros (e nos mercados internacionais), automaticamente estamos nos referindo ao rebanho Nelore, que é produzido tradicionalmente a campo e em condições naturais.
Apesar de uma gigante em produção, a pecuária de corte tem enfrentado uma crise sem precedentes nos últimos anos em razão de inúmeros fatores, entre eles, a alta carga tributária e a estagnação no preço da arroba. Mas, mesmo diante deste cenário difícil, tivemos uma boa notícia no dia 14 deste mês, pois a Friboi anunciou uma parceria com a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) para fomentar a raça.
Essa cooperação vai ser fundamental para o produtor, que terá seu esforço reconhecido e recompensado financeiramente. Com o Protocolo Nelore Natural (PQNN), que trata sobre a produção e a gestão das carcaças, todas as 36 unidades produtivas da marca, em 10 estados, entre eles, Mato Grosso, passarão a receber incentivos diferenciados pela criação de animais dentro de padrões estabelecidos.
Além disso, haverá estímulo para a ampliação do Circuito Nelore de Qualidade, que visa fomentar ações para a melhoria dos indicadores no campo, por meio da adoção de protocolos de identificação da origem e do controle da qualidade dos animais.
Ganha o produtor, que vai ser valorizado pela produção de carne saudável, dentro de normas de sustentabilidade ambiental, bem-estar animal e social. Também ganha o consumidor final, que terá acesso a uma fonte de proteína animal muito rica, saborosa, macia e certificada, com total transparência do processo produtivo.
Para ter uma ideia da seriedade do programa, as exigências incluem que o rebanho tenha acesso a um ambiente amplo, arejado e sombreado, água limpa e fresca, manejo feito por profissionais capacitados e exposição ao menor estresse possível, além de uma dieta natural, a base de forrageiras.
É feito ainda o acompanhamento do controle de endo e ectoparasitas, do uso de antibióticos e respeito aos períodos de carência de vacinas e medicamentos, tudo em busca de animais fortes e saudáveis. No manejo pré-abate, são verificadas as instalações de embarque, como curral, embarcadouro e estadas de acesso. O objetivo é efetivamente promover o melhoramento do rebanho.
Popular pela rusticidade, adaptabilidade e resistência, a raça vem a se consolidar a partir da continuidade e avanço desse programa, agora com uma importante parceria. Em Mato Grosso, aliás, já existem inúmeros pecuaristas investindo nos últimos dez anos em pesquisas, novas tecnologias e manejo diferenciado; e eles vêm obtendo bons resultados.
O Nelore gourmet já é uma realidade para vários produtores mato-grossenses que, a partir de ferramentas de avaliação da qualidade de carcaça, descobriram, por exemplo, que uma média de 3 a 5% dos animais do rebanho apresentam bons números de marmoreio (gordura entremeada no músculo da carne). Isso em condições naturais de manejo.
No senso comum, o gado Nelore, que é mais rústico, não possuiria característica genética que confere maciez extra à carne. Por isso, avaliamos como muito positivos os resultados que mostraram índices de marmoreio próximos às raças angus (entre 3 e 3.5) e wagyu (4 a 6.0 no Brasil/ 6 a 10 no Japão).
Longe de buscar competir com as outras raças, a proposta Nelore é melhorar continuamente a qualidade da sua carne, que possui um tradicional ‘sabor do campo’, e com isso oferecer mais uma boa opção premium ao consumidor nas gôndolas dos supermercados do Brasil e do mundo.
Breno Molina é presidente da Associação dos Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT), pecuarista em Poconé e empresário em Cuiabá.