Nesta quinta-feira (8), a ex-presidente Dilma Rousseff fez uma crítica ao tom eleitoral dos discursos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) nas comemorações do bicentenário da Independência do Brasil.
A petista afirma que o chefe do Executivo sequestrou a data histórica em “benefício de sua própria candidatura eleitoral”, o que configurou “uma afronta à democracia”.
“Desafortunadamente, o Brasil assistiu ao chefe de Estado sequestrar a data histórica que é de todo o povo em benefício de sua própria candidatura eleitoral, desafiando as leis e ignorando o rito sagrado da função institucional de quem está no comando do País. É grave o que assistimos ontem. Uma afronta à democracia, um desrespeito aos brasileiros”, disse.
Dilma encaminhou uma mensagem ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com um pedido de desculpas por não comparecer à comemoração realizada pelo Congresso Nacional pela Independência.
A ex-presidente afirmou ainda que o uso político que Bolsonaro fez da data comemorativa marcou “de maneira indelével e vergonhosa o calendário”. Ela disse também que o atual presidente não teve compromisso com o Estado Democrático de Direito.
Em discurso logo depois o desfile oficial do 7 de Setembro em Brasília, Bolsonaro fez referências aos governos do PT, repetiu que há uma “luta do bem contra o mal” no país e disse que os petistas “não voltarão” ao poder. Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são os principais adversários na disputa presidencial, com o petista na frente, de acordo com pesquisas eleitorais.
“Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. O mal que perdurou por 14 anos em nosso país, que quase quebrou a nossa pátria e que agora deseja voltar à cena do crime. Não voltarão. O povo está do nosso lado, o povo está do lado do bem, o povo sabe o que quer”, disse o mandatário.
Pela tarde, o chefe do Executivo fez um discurso mais enfático contra Lula ao participar de ato no Rio de Janeiro. Ele afirmou que o petista precisa ser “extirpado” da vida pública.
“Comparem o Brasil com os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Venezuela e compare com a Nicarágua. O que em comum esses países têm? […] São amigos entre si. Todos os chefes de Estado dessas nações são amigos do 9 dedos que disputa a eleição no Brasil. Não é voltar apenas à cena do crime. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública”, disse.
Leia a íntegra da mensagem de Dilma ao Senado:
“Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado,
“Quero pedir desculpas por não poder comparecer ao evento neste 8 de Setembro, por ocasião da solenidade em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil, que o Senado gentilmente me convidou. Compromissos prévios me impedem de deslocar-me a Brasília, e sinto-me compelida a deixar uma mensagem a esta importante Casa da República.
“O Feriado Nacional de 7 de Setembro é uma data de orgulho e celebração histórica do nosso povo e a formação da nossa Nação. Este ano, as comemorações tiveram uma característica única, que marca de maneira indelével e vergonhosa o calendário.
“Desafortunadamente, o Brasil assistiu ao chefe de Estado sequestrar a data histórica que é de todo o povo em benefício de sua própria candidatura eleitoral, desafiando as leis e ignorando o rito sagrado da função institucional de quem está no comando do País. É grave o que assistimos ontem. Uma afronta à democracia, um desrespeito aos brasileiros.
Mas, ainda é pior. A Autoridade Máxima da Nação fez isso de maneira desabrida e sem compromisso com o Estado Democrático de Direito, que jurou honrar e respeitar ao ser empossado presidente da República.
“Que as autoridades institucionais reajam a mais essa afronta do Presidente da República, que continua a golpear diuturnamente o Judiciário e o Legislativo, em nome de um projeto de poder autoritário e profundamente desvinculado dos anseios do nosso povo. Que a sociedade acorde e reaja antes que o império do arbítrio recaia sobre o Brasil e faça terra arrasada do estado democrático de direito.
“Que o Senado da República, que já foi palco de grandes momentos, mas também de atos de injustiça, alguns bem recentes em nossa história, desta vez permaneça atento e não nos falte neste momento decisivo, quando entramos na reta final da campanha eleitoral que culminará na eleição geral de 2 de outubro de 2022.
Dilma Rousseff
Ex-presidenta da República”.