DA REDAÇÃO
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A Polícia Civil concluiu o inquérito que apurou a queda de uma aeronave em Alta floresta (789 km de Cuiabá), em 2019. O avião em questão transportava mais de R$ 4,6 milhões, e era pilotado por um homem de nacionalidade italiana. Além dele, foram indiciados também dois empresários – um de São Paulo e outro de Minas Gerais – pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e falsidade ideológica.
As investigações apontaram que os indiciados se uniram para dissimular, reiteradamente, valores de origem ilícita e fizeram uma declaração falsa, em um documento particular, visando alterar a verdade sobre o dinheiro apreendido.
Interrogados no inquérito policial, os indiciados apresentaram diversas contradições em suas versões, desmentidos pelas testemunhas ouvidas. A equipe de investigação analisou os aparelhos eletrônicos apreendidos e foi possível perceber que os indiciados conversavam diversas vezes sobre a compra e venda de ouro, sem nota, sempre se referindo a grandes quantidades, além de mostrar interesse em sempre conversar pessoalmente e apagar as conversas, por receio de monitoramento.
Ainda, foram encontradas conversas entre o piloto e um empresário mato-grossense, denunciado no ano passado pelo Ministério Público Federal, por constituir uma organização criminosa que comprava ouro ilícito, proveniente de garimpos ilegais no sul do Pará e no norte do Mato Grosso e exportava o minério para a Itália.
Outra conversa analisada pela equipe da Delegacia de Alta Floresta, flagrou os envolvidos com medo da abordagem policial após a queda da aeronave. Naquela ocasião, o empresário paulista sugeriu ao piloto falar com um empresário com negócios no ramo do ouro para pegar um comprovante do dinheiro. O empresário foi preso ano passado pela Polícia Federal por comprar ouro de garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, e nas TI Munduruku e Kayapó, no Pará. Em um ano, a empresa desse empresário chegou a movimentar mais de R$ 2 bilhões com a venda de ouro.
Com apoio do Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil de Mato Grosso e dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), foi possível identificar elevada movimentação em espécie e de forma fragmentada, forma utilizada para burlar o sistema de identificação do real depositante/sacador e o valor total da movimentação. O delegado André Victor de Oliveira Leite explica que foi ainda identificado um alto fluxo financeiro com empresas que apresentaram características de negócios de fachada, sem empregados registrados, constituídas com capital social elevado, cadastradas em endereços iguais e incompatíveis com a capacidade econômica-financeira do registro da empresa.
O procedimento e o relatório final foram encaminhados para o Ministério Público e ao Poder Judiciário.
Aeronave e os milhões
O avião modelo Cessna, de prefixo PR-RMH, fez um pouso forçado no dia 30 de junho de 2019, em uma pista na zona rural de Alta Floresta, após a aeronave sofrer uma pane.
O dinheiro estava em seis malas com o piloto, que já tinha embarcado em um táxi quando foi abordado pela Polícia Civil, que foi acionada para atender a ocorrência com o avião. As malas estavam na carroceria do veículo.
O piloto, que disse morar no Brasil há mais de 30 anos, em princípio, não soube explicar a origem do dinheiro, mas posteriormente alegou na delegacia que o valor era proveniente da venda de um avião em São Paulo, de sociedade com um parceiro de negócio.
O avião saiu da cidade de Sorocaba (SP) com destino a Itaituba (PA). O plano de voo tinha previsão de duas paradas para abastecimento, uma em Jataí (GO) e outra em Alta Floresta (MT). Segundo o piloto, ele percebeu problemas na aeronave em Jataí, mas mesmo assim decidiu seguir a viagem. Em Alta Floresta, ele precisou fazer um pouso forçado na pista rural.
O avião foi localizado no final da pista em uma área de pastagem, aberta e sem nenhuma bagagem. Questionado, o piloto informou aos policiais que a bagagem estava na caminhonete, onde foi descoberto o dinheiro.
A aeronave e os R$ 4.679.750,00 foram apreendidos pela Polícia Civil. O dono da aeronave conseguiu na Justiça a restituição do bem, mas os valores apreendidos continuam bloqueados, sendo que os envolvidos tentaram até a última instância judicial a devolução.