DA REDAÇÃO / MATO GROSSO MAIS
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O vereador Sargento Vidal (MDB) anunciou durante a sessão ordinária desta quinta-feira (04), na Câmara de Cuiabá, que irá realizar uma audiência pública no final de junho para debater formas de combater o alto índice de pessoas com hanseníase no Distrito Nossa Senhora da Guia. Além de buscar a normatização da doença junto a Secretaria Municipal de Saúde.
Na semana passada, Vidal se reuniu com lideranças do Distrito da Guia e profissionais de saúde para debater sobre o alto índice de hanseníase que há entre os moradores do local, visando buscar políticas públicas para encontrar formas de conscientizar, diagnosticar e iniciar o tratamento evitando maiores contaminações e sequelas.
“Pedi uma audiência para o final do mês que vem de algo que está muito grave em Cuiabá, estamos liderando o ranking nacional há 14 anos sobre a hanseníase. Eu trouxe aqui [Comissão da Saúde] uma professora que é mestra nesta situação, participei de reunião com eles na Guia, em Várzea Grande, que o foco está também alto e pedi uma audiência pública para trazer para a sociedade à importância da discussão e de políticas públicas voltadas a hanseníase que pode vir a ser uma das doenças que mais vai atingir a sociedade. Aonde tem uma criança ou um adulto com hanseníase comprovada, toda a família deve ser tratada. Pois se há uma pessoa com a doença, pode ter certeza que todos estão sob suspeição pelo alto índice de transmissão dessa doença que pode ficar até 20 anos encubada. No Distrito da Guia, infelizmente, a cada 10 família que passam pelo teste, nove estão infectadas e em poucos dias isso pode vir a ser um caso nacional por estar se agravando cada vez mais. O Ministério Público ficou 10 dias na Guia acompanhando o pessoal da hanseníase e constatou que o caso é realmente grave e isso não pode ficar aquém dessa discussão. Então, o Conselho de Saúde dessa Casa vai apresentar logo após a audiência pública, a normatização da hanseníase para a Saúde Pública Municipal”, declarou o parlamentar.
A coordenadora da Rede Universitária Estadual para Enfrentamento de Hanseníase, Closeny Maria Cardoso, destacou que o diagnóstico precoce da doença ajuda a evitar sequelas, pois a hanseníase tem cura, mas as sequelas são mutilantes. Ainda destacou que ela é uma doença de alta infectividade, mas de baixa patogenicidade, ou seja, demora muito para que a pessoa apresente os sintomas, podendo ser de dois a cinco anos. Já no caso da hanseníase virchowiana, que é a mais transmissível, pode demorar até 20 anos para a pessoa começar a apresentar os primeiros sintomas. “Então, é importante o que chamamos de busca ativa de contatos, assim como a utilização de ferramentas de suspeição da hanseníase, que é um questionário de 14 perguntas voltado para busca de sintomas. Se a pessoa tiver apenas um, já deve procurar uma unidade de saúde para ser avaliada, pois o diagnóstico é clinico”, destacou a coordenadora.
Closeny acompanha os diversos casos da doença no Distrito da Guia que vem causando um impacto significativo, pelo fato de a hanseníase ser considerada uma doença negligenciada. Segundo ela, em 1010 a.c. já existiam relatos dessa doença na Índia e até hoje não há avanço no controle dessa doença que não existe se quer vacina, pois não se consegue fazer cultivo in vitro desse bacilo em laboratório e os recursos são poucos, principalmente pelo alto número de diagnósticos tardio.
“A importância da ação na Guia é pelo fato de ser uma área endêmica, temos 14 comunidades rurais que se quer são cadastradas na unidade de saúde. Não tem acesso por falta de ônibus para estarem se deslocando, uma vez que o transporte escolar que buscava as crianças não traz mais essas pessoas que estão adoecendo e morrendo sem o mínimo de assistência. Temos casos de família inteira doente, inclusive, com recém-nascidos já adoecidos, isso sem falar no senso do IBGE que não coletava informações de todos os moradores, então não sabemos ao certo o número dessa população, apenas sabemos que é em torno de seis mil votantes, mas quem mora lá diz que a população é mais de 10 mil habitantes. A Guia necessita de uma unidade de saúde equipada, com ambulância e demais necessidades para atender àquela população”, pontuou.
A representante da comunidade, Maria Aparecida Araújo Pinheiro (Cida), pontuou que é necessário o Poder Público olhar mais para os moradores do Distrito e buscar um atendimento em massa para tentar minimizar o Máximo possível essa doença na região. Além de defender a necessidade de fazer mais divulgação de informações sobre a hanseníase para que a população possa se prevenir.
“É muito importante uma ação referente a essa doença, a ampla divulgação de informações também é uma importante forma de prevenir a doença. Aqui no Distrito da Guia já houve um índice muito alto sobre a hanseníase, na verdade, ainda temos. Muitas pessoas vieram a óbito, outras convivem com sequelas da hanseníase, o que é muito triste. O atendimento deve ser imediato para que não haja proliferação da doença. Aqui no Distrito já houve ação referente à hanseníase, o Poder Público sempre tem tratado desta questão, já houve até visita do Dr Dráuzio Varela que fez uma reportagem sobre esta doença aqui no Distrito. E foi dito por ele que a Guia é um local com grande índice de pessoas com a doença. Muitas pessoas procuram o atendimento, mas ainda há muitos que sentem vergonha. Mas o pessoal da saúde sempre está informando a comunidade sobre métodos de prevenção e tratamento. Porém, acredito que seria interessante uma ação em massa para minimizar o máximo possível essa doença aqui no Distrito”, disse a moradora.
Já Judinalva Ferreira Faria, também representante dos moradores do Distrito da Guia, pontuou haver uma grande vulnerabilidade no local quando se trata de profissionais da Saúde por questões salariais. Ainda analisou que é necessário o Poder Público voltar mais o olhar para essa população que sofre diariamente com o grande índice de contaminação da doença.
“A hanseníase é uma doença transmitida pela saliva ou pelo espirro, altamente contagiosa e precisa de uma conscientização, de um tratamento imediato, pois sabemos que a população não tem conhecimento dessa situação no Distrito. Então tem uma porcentagem muito grande, temos crianças e adolescentes contaminados aonde os pais ou parentes não estão fazendo o tratamento, até por uma questão de ignorância. Então precisamos conscientizar as pessoas sobre esta questão aqui no Distrito. Há necessidade de fazer esse diagnóstico, essa busca ativa em toda a região. Dentro do Distrito, há mais ou menos 14 comunidades hoje e precisamos desse diagnóstico o quanto antes. O Poder Público nunca fez nenhuma ação nesse sentido, ou seja, capacitam profissionais que por questões salariais acabam não ficando aqui, então há uma vulnerabilidade por conta disso. O Distrito da Guia fica há 34 km de Cuiabá, não é fácil. Então temos que verificar isso com bastante carinho, pois esse profissional tem que ter uma gratificação a mais por ser da zona rural. Precisamos capacitar a todos, desde os agentes até o médico com bastante seriedade, além de fazer palestras em escolas, igrejas e demais lugares. Precisamos levantar a bandeira”, disparou.