DA REDAÇÃO / MATO GROSSO MAIS
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Donatto Aquino
No dia 15 de novembro de 1973 os moradores de Cuiabá amanheceram para aproveitar e festejar o feriado nacional em comemoração aos 84 anos da República e, ainda, a inauguração de um monumento único na praça Moreira Cabral, que serviria de símbolo da confraternização dos povos da América do Sul, um obelisco de 20 metros de altura, sob o marco do centro geodésico desse subcontinente americano.
A história desse monumento inicia-se em 1966. Registros das atas das sessões legislativas da Câmara Municipal de Cuiabá nos informam que no dia 10 de junho de 1966 o engenheiro Cássio Veiga de Sá, na época, Secretário de Aviação e Obras Públicas da Prefeitura de Cuiabá, compareceu a uma sessão extraordinária da Câmara a fim de explanar acerca da construção da nova sede do Poder Legislativo Estadual.
Na oportunidade, o engenheiro solicitava que os vereadores autorizassem a doação da área da praça Moreira Cabral para a construção da sede da Assembleia e de um vistoso monumento. A doação foi oficializada no dia seguinte à sessão.
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Cássio Veiga de Sá disse aos vereadores que desejava tornar o local mais vistoso, criar um ambiente de amizade e confraternização pan-americana, sendo ali, o centro geodésico da América do Sul. Disse que, então, resolveu edificar um monumento à Confraternização das Américas, um vistoso obelisco, simbolizando aquele clima onde as guerras desaparecem e as fronteiras se tornaram definidas. Pedro Arnaldo Paschoiotto apresenta as características físicas do monumento: “formato de uma estrela de 4 pontas, revestido em mármore branco, com altura total de aproximadamente de 20 metros, já inclusos 4 pilastras de sustentação com 2,52 metros de altura, que tem ao seu centro o Marco, preservado e protegido em sua integralidade”, e destaca serem os senhores Cássio Veiga de Sá e o arquiteto Dirceu da Costa Soares os idealizadores do projeto.
Como referido no início do artigo, a solenidade de inauguração deu-se no dia 15 de novembro de 1973, e é esta data que comemoramos atualmente, os 50 anos do monumento, seu meio século de história. A inauguração teve um caráter internacional, afinal, era o monumento um símbolo de união entre os 13 países da América do Sul.
O evento iniciou-se às 15h sob o costumeiro sol escaldante da cidade, com a presença do governador do Estado, deputados estaduais, prefeito municipal, arcebispo metropolitano, comandantes militares, presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, representantes dos demais países sul-americanos, diversas autoridades, personalidades locais e populares.
O jornal O Estado de Mato Grosso registou os discursos de dois oradores, inicialmente o Governador José Fragelli. Este disse aos presentes que aquele monumento era um ideal de união, de paz e congraçamento, patrimônio moral e cívico das nações sul-americanas, tendo mais um adendo, uma missão comum, que é superior à pobreza, o atraso, o subdesenvolvimento, que era o de atingir o desenvolvimento e fazer mais felizes os povos daquele subcontinente. Já o embaixador do Uruguai, Carlos Manini, declarou que Cuiabá era o centro do coração do Brasil Novo, do Brasil da integração territorial e, sendo o coração do Brasil, é o coração da América do Sul. Disse que conheceu o rio Cuiabá, cujas águas rolam velozes pelo chão brasileiro, indo desaguar no Paraguai, banhando a Bolívia, até desaguar no Rio da Prata, vinculando os países de forma efetiva, como se fosse o próprio sangue do coração da América, a unir a todos pelos princípios da fraternidade.
Seguiu-se ao hasteamento de 11 bandeiras, içadas pelos representantes de países presentes e as faltantes por personalidades locais, cada um ao som do seu hino, orquestrado pelas bandas do 16º Batalhão de Caçadores e 1º Batalhão Policial Militar de Mato Grosso. O Suriname e a Guiana Francesa não tiveram as suas bandeiras hasteadas por não serem independentes. Após a cerimônia seguiram para o prédio da Assembleia Legislativa, oportunidade na qual o prefeito Villanova Torres entregou às autoridades internacionais as medalhas alusivas ao evento.
Muito embora presente, o vereador Joaquim Lobo Duarte, presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, não discursou, gerando insatisfação dentre os vereadores, a que foi manifestada na sessão do dia seguinte ao evento. O vereador Lino Miranda teceu críticas aos representantes do governo do estado e à Assembleia Legislativa que, segundo ele, teriam deixado o parlamento cuiabano em segundo plano.
O parlamento cuiabano continua em segundo plano, mas agora tão somente no aspecto arquitetônico, porque em primeiro plano está o obelisco de confraternização dos povos sul-americanos, erguido sob o marco do centro geodésico da América do Sul, no nostálgico Campo D’Ourique, um dos mais famosos, se não o mais famoso, ponto turístico de Cuiabá. A Câmara Municipal de Cuiabá ocupa esse espaço desde 2005 e orgulha-se de zelar por este obelisco, símbolo dos povos sul-americanos.