ALMT - Posto TRE - Abril

Nós usamos publicação científica, não balela, diz ex-diretor do Inpe

Em meio ao descontentamento do governo com os números publicados sobre o desmatamento da Amazônia, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), trocaram acusações no programa Painel, da GloboNews, comandado por Renata Lo Prete, exibido na noite de sábado, 10.

Alvo de duras críticas do presidente Jair Bolsonaro por seu trabalho à frente do Inpe, Ricardo Galvão voltou a defender os dados e a metodologia do instituto. “Um programa de desenvolvimento sustentável tem que ser articulado entre a academia, empresas e governo. O que nós usamos é publicação científica. Fui ver trabalho científico, não balela, não coisa de jornalzinho, de Twitter”, afirmou.

O ex-diretor do Inpe voltou a condenar a postura do presidente afirmando que “qualquer dirigente de um país tem que entender que, quando se trata de questões científicas, não existe autoridade acima da soberania da ciência. Nem militar, nem política, nem religiosa”. O ministro Ricardo Salles criticou a declaração de Galvão. “O problema é quando a ideologia está disfarçada dentro da ciência”, respondeu. “O que nós vemos há muito tempo é a ciência se arrogando do direito de dizer isso ou aquilo”.

Ministro do Meio Ambiente e ex-diretor do Inpe discutem no programa Painel
Ministro do Meio Ambiente e ex-diretor do Inpe discutem no programa Painel

“Há um grau de aparelhamento dessas instituições. A sua postura com o presidente mostrou isso, a forma como o senhor se referiu ao presidente da República”, disse Salles, afirmando que Galvão havia sido desrespeitoso com Bolsonaro. “Desrespeitoso foi o presidente da República com a ciência brasileira”, rebateu o ex-diretor do Inpe. “Ele falou categoricamente que os dados do Inpe são mentirosos. Ele está acusando todos os cientistas do Inpe de terem cometido crime de falsidade ideológica”.

O programa também teve a participação de Marcello Brito, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), que opinou sobre os rumos da política ambiental e o impacto no seu setor. “Se a gente pega a detração contra o agro brasileiro lá fora, uma parcela vai vir daqueles que concorrem diretamente conosco. Agora você tem uma parte que vem da mídia especializada, de dados e de estudos, e isso é um problema muito forte”, disse ao comentar as repercussões negativas que os últimos acontecimentos tiveram na imprensa internacional.

Empresa privada na monitoração

No debate, Salles reafirmou a intenção do governo de contratar uma empresa privada para apurar com mais tecnologia dados sobre o desmatamento da Amazônia. Galvão rebateu que é preciso usar a “ciência brasileira” para isso, porque já existem, segundo ele, ONGs e institutos capacitados no país para colher essas informações. Salles criticou a postura do ex-diretor dizendo que era “ufanista” e afirmou que não se pode utilizar um sistema técnico que não seja avançado “só porque é brasileiro”.

Renata Lo Prete media o debate entre Ricardo Salles, Ricardo Galvão e Marcello Brito
Renata Lo Prete media o debate entre Ricardo Salles, Ricardo Galvão e Marcello Brito

Crise no Inpe

Em 19 de julho, Bolsonaro acusou o Inpe de mentir sobre dados de desmatamento e de estar “agindo a serviço de uma ONG”. As críticas do governo aos dados e à direção do instituto continuaram durante o início do mês de agosto. O presidente chegou a afirmar que os responsáveis pela divulgação das informações agiram de “má-fé para prejudicar o governo atual e desgastar a imagem do Brasil”.

Depois de trocar acusações com o presidente, Ricardo Galvão, diretor do Inpe, foi exonerado do cargo. No dia 5 de agosto, o ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, anunciou o militar Darcton Policarpo Damião como diretor interino do instituto.

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