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MAUS TRATOS

Pai do ex-ministro Blairo Maggi escravizou trabalhadores, diz PF

DA REDAÇÃO / MATO GROSSO MAIS
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Acervo Amaggi

André Maggi na Fazenda Carolina

No início de maio de 1988, exatamente cem anos após a abolição da escravidão, André Antônio Maggi esteve à frente de um episódio de escravidão moderna no município de Aripuanã, no noroeste de Mato Grosso ( 949 km da capital).

O livro, financiado pela Amaggi, multinacional liderada pelo filho do pioneiro, não registra esse episódio da vida do “Seo André” que, até aqui, havia passado batido.

Um documento obtido pela reportagem do De Olho Nos Ruralistas mostra que, naquele ano, técnicos do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal (IBDF), órgão mais tarde substituído pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), encontraram trabalhadores doentes, trabalhando contra a própria vontade e sofrendo “maus tratos”.

O documento, classificado na época como “confidencial”, é um relatório do Departamento da Polícia Federal (DPF) em Mato Grosso, que acompanhou o IBDF em uma fiscalização sobre desmatamento ilegal na propriedade. Registrado em junho de 1988, o relatório mostra que um destes trabalhadores escravizados, chamado José Laerton da Rocha, foi chicoteado por um empreiteiro de André Maggi.

O caso ocorreu nas terras da Agropecuária Maggi, na chamada Gleba Jarinã. Com sede no município de Rondonópolis, a empresa foi a antecessora da Amaggi, herdada anos depois por Blairo.

Na época, André era sócio majoritário da empresa e um dos responsáveis por abrir fazendas nos rincões de Mato Grosso.

“Um dos trabalhadores, José Laerton da Rocha, fora açoitado com um chicote de couro, por um dos sócios de NILCEU na empreitada, conhecido apenas por “SÉRGIO”, fato este comprovado quando os policiais apreenderam o chicote descrito por José Laerton na própria área do desmate”, diz trecho do relatório.

Segundo o documento, Nilceu Reis da Silveira era empreiteiro de André Maggi.

Ele foi preso em Sinop, a 647 quilômetros de Aripuanã, onde ocorreu o registro de escravidão, logo depois da fiscalização do IDBF e da Polícia Federal.

Os agentes apreenderam com ele quatro revólveres, três rifles e nove espingardas, entre outras armas, além de uma série de munições.

Testemunha do episódio ainda está viva

Na biografia de André Maggi, o empresário pioneiro é lembrado como um sujeito humilde, que também pegou no cabo da enxada antes de enriquecer, que saiu do nada e alcançou tudo.

São vários os relatos da “simplicidade” do Seo André, que enriqueceu com a soja produzida no Cerrado mato-grossense e deixou ao filho um patrimônio enorme, mais tarde multiplicado.

Mas não são todos que viam o fazendeiro desta forma.

Para alguns, que se tornaram inimigos, André era o vilão da história. Pelo menos é o que contam familiares do fazendeiro José Leonel Franco, homem que denunciou o caso de escravidão na Gleba Jarinã. Franco, que disputava a área com Maggi, fez a denúncia ao IDBF de Sinop.

A esposa de José Leonel Franco, Mercedes Abegão, que ainda está viva, relata que episódios como esse fizeram a família viver acuada.

Mercedes falou com a reportagem por meio do filho, Moisés Leonel Franco, que tinha 4 anos na época da denúncia.

Minha mãe me contou que meu pai fez denúncias a respeito de várias pessoas na época, inclusive eles tiveram que se esconder para não serem mortos”, explicou Moisés. “Naquele período todo mundo matava todo mundo”

Mercedes Abegão, talvez a única testemunha viva do episódio, mora atualmente em um abrigo no município de Presidente Venceslau, em São Paulo. Mercedes tem 83 anos, sofre de Alzheimer e está debilitada.

A AMaggi Commodities ficou no nono lugar em lista da Exame, publicada em abril de 2019, sobre as 400 maiores empresas do agronegócio no Brasil.

Entre as empresas brasileiras, a quinta, com US$ 4 bilhões em vendas líquidas

em 2018. O lucro naquele ano foi de US$ 89 milhões. Número de trabalhadores, 7.838.

Blairo Maggi foi ministro da Agricultura durante o governo Temer.

O outro lado: Empresa diz que desconhece ocorrência.

Veja abaixo a íntegra da resposta da Amaggi sobre o relatório:


“O teor do relato contido no documento anexo nunca ensejou instauração de inquérito ou mesmo medida judicial contra a companhia, que desconhece a ocorrência de abusos ou de situação análoga à de trabalho escravo em qualquer uma de suas unidades. A companhia se posiciona veementemente contra tais práticas e desde 2004 é signatária do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, iniciativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil.

Já o mencionado auto de infração por irregularidade no desmate foi invalidado mediante comprovação de que, à época, a companhia (Agropecuária Maggi) detinha a devida autorização. Tanto que a área foi desembargada para a retomada da atividade produtiva em 31 de maio de 1988, pelo então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) de Mato Grosso. A fazenda em questão, entretanto, há mais de 20 anos não pertence mais à AMAGGI”.


Com informações De Olho Nos Ruralistas

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