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Região que abriga mais de 42% dos 156 milhões de eleitores brasileiros, o Sudeste foi o palco central das duas primeiras semanas de campanha dos principais candidatos à Presidência.
Desde 16 de agosto, quando foram autorizados pela Justiça Eleitoral a pedir votos, ir às ruas e fazer comícios, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), os quatro que pontuam no agregador de pesquisas Locomotiva/CNN, intensificaram suas agendas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em seus primeiros atos, Lula discursou em frente à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, Bolsonaro visitou Juiz de Fora (MG), onde foi alvo de um atentado nas eleições de 2018, Ciro participou de uma caminhada na zona leste de São Paulo e Tebet encontrou representantes do setor da cultura no Alto de Pinheiros, também na capital paulista.
O Sudeste tem mais de 66 milhões de eleitores. A região Nordeste é a com o segundo maior número de eleitores. Seus nove estados somam 42.390.976 brasileiros aptos a votar, o que representa cerca de 27% do total do eleitorado.
No sábado (27), Bolsonaro foi pela primeira vez ao Nordeste desde o início oficial da campanha, em 16 de agosto. Ele participou de uma motociata e discursou em Vitória da Conquista, na Bahia. O presidente tenta reduzir sua rejeição na região.
Pesquisa TV Bahia/Ipec divulgada na sexta-feira (26) mostra Lula com 61% das intenções de voto no estado, contra 20% de Bolsonaro. Ciro tem 7%, e Tebet, 1%. O Ipec ouviu 1.008 pessoas entre 23 e 25 de agosto. Registrado na Justiça Eleitoral sob os números BA-02873/2022 e BR-00575/222, o levantamento tem margem de erro de 3 pontos percentuais.
O peso de cada estado
Para Renato Dorgan, cientista político e especialista em pesquisas qualitativas e quantitativas, a vantagem de Lula no Nordeste pode ser “compensada” nacionalmente por Bolsonaro por seu desempenho “na região Sul e em estados fronteiriços, como o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia e Roraima”.
O Rio Grande do Sul, por exemplo, é o quinto maior colégio eleitoral do país, com mais de 5% do eleitorado nacional. Junto de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, eles reúnem mais da metade dos votos do país.
Três desses estados (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) tiveram a preferência na fase inicial das campanhas. “Você pode até não ganhar na região [Sudeste], mas se sair muito mal dela, não conseguirá se eleger”, avalia Dorgan.
Lula esteve em São Paulo, Minas e Rio. Ciro também participou de uma caminhada na capital fluminense, e teve agenda em Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Juiz de Fora (MG) e Fortaleza (CE), onde fica seu berço político. Tebet tem priorizado o estado de São Paulo (além da capital, esteve em Barretos e Ribeirão Preto), mas já visitou Joinville e Itajaí, em Santa Catarina, e o Rio de Janeiro.
Em busca dos indecisos
Além de fatia relevante do eleitorado, o Sudeste ainda é explorado pelos candidatos pelo alto grau de indecisão dos eleitores locais. Na pesquisa Genial/Quaest publicada em 11 de agosto — 5 dias antes do início das campanhas —, 47% deles se declararam indecisos quanto ao voto espontâneo para a Presidência.
Tal como no mapa dos eleitores, o Nordeste vem em seguida, com 27% de indecisão. Ainda que a dúvida sobre em quem votar não represente a maioria dos eleitores, a avaliação de Renato Dorgan é que, neste ano, há uma “polarização definitiva”, na qual qualquer vantagem conquistada pode definir o resultado da eleição.
“Em outros anos, havia uma ‘terceira via’, o que diminuía a preocupação com uma resolução em primeiro turno e permitia uma campanha mais focada nos principais colégios eleitorais. Em 2022, todo o território importa, como nas eleições norte-americanas”, comenta o cientista político. Nos Estados Unidos, o pleito se define entre dois partidos e a contagem de votos é ainda mais decisiva.
No Brasil, mesmo os estados de menor peso eleitoral deverão ter espaço nas agendas dos concorrentes à Presidência até o início de outubro.
Casos como Roraima, Amapá, Acre, Tocantins e Rondônia, colégios com até 1% do total de votos, poderiam ser “menosprezados” em outras eleições, opina Dorgan, que conclui: “Em 2022, eles poderão ser imprescindíveis para um desempate”.