O total de brasileiros com fome atualmente ultrapassou a marca de 33 milhões de novembro de 2021 a abril de 2022, segundo estudo sobre insegurança alimentar foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), com execução em campo do Instituto Vox Populi. O projeto conta com o apoio das organizações não-governamentais Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Sesc.
Nesse período, cresceu em 14 milhões o número de pessoas sem o que comer todos os dias, o que fez com que o país retomasse o patamar da década de 1990, ou seja, retrocedendo 30 anos.
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O levantamento também revela que mais da metade (58,7%) dos brasileiros convive hoje com algum grau de insegurança alimentar, fazendo com que o Brasil figure no Mapa da Fome da ONU, posição que havia deixado em 2014, ano do seu pior nível. O número representa um aumento de 7,2% desde a edição de 2020, e de 60% em comparação com 2018.
Em 2020, primeira edição da pesquisa, a fome no Brasil estava no patamar de 2004. Agora, volta para 1993, quando, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 32 milhões de brasileiros estavam em situação de fome, embora sob outra metodologia.
O período da pesquisa coincide com o pagamento do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família, mostrando que, mesmo com valor maior, o programa não foi capaz de superar a fome.
Vergonha
Ainda de acordo com o estudo, 15,9 milhões de pessoas, ou 8,2% das famílias entrevistadas, dizem sentir vergonha, tristeza ou constrangimento pelo uso de meios que ferem a dignidade para conseguir colocar comida na mesa.
Onde o chefe de família está desempregado a fome é ainda maior (36,1%), entre quem tem emprego informal é de 21,1% e entre os que trabalham na agricultura familiar é de 22,4%.
O endividamento anda lado a lado com a fome. Dentre os entrevistados que possuem alguma dívida, quase metade (49,1%) convive com restrições alimentares.
O risco de fome atinge 37% dos lares onde vivem crianças menores de 10 anos. Em comparação, nos domicílios do Brasil esse índice é de 30,7%.
O Maranhão é o estado onde os números são mais preocupantes, onde 63,3% das casas com crianças nessa condição, enquanto no Espírito Santo, a parcela é de 13,9%.
“Por trás da fome, temos o flagelo sobre as crianças, as mulheres e a população negra, acrescido a isso o negacionismo frente ao problema climático, que tanto prejudica a produção agrícola e tem relação direta com a Insegurança Hídrica”, afirma o estudo.
Negros, menos escolarizados e mulheres são mais afetados
De 202 para 2022, subiu de 11,2% para 19,3% o número de domicílios em que a fome é presente e a mulher é a pessoa de referência. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9% no mesmo período.
Entre os com menor escolaridade, ou seja, quatro anos ou menos de estudo, são 22,3% enfrentando a fome. Em 2020 o percentual era 14,9%.
A cor também é fator agravante para a fome no país. Em mais da metade (53,2%) dos lares onde a pessoa de referência se autodeclara branca há segurança alimentar. Esse índice cai para 35% quando os responsáveis são pretos ou pardos.
Na comparação com a última edição da pesquisa, a fome saltou de 10,4% para 18,1% em 2022 entre os lares comandados por pretos e pardos.
Graus da insegurança alimentar
A pesquisa da Rede Penssan leva em conta a segurança alimentar, quando há certeza de que haverá alimentação de qualidade na mesa, algo que só ocorre em quatro estados do país. E também classifica os domicílios de acordo com graus de insegurança alimentar, quando não há garantia de que haverá alimentação suficiente e de qualidade para todos.
Segurança alimentar – A família tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades básicas, como moradia.
Insegurança alimentar leve – Há preocupação ou incerteza se será possível ter acesso a alimentos no futuro. A família acaba contando com uma qualidade inadequada de alimentação para ter quantidade suficiente de comida para todos. Ou seja, troca qualidade por quantidade.
Insegurança alimentar moderada – Em razão da falta de alimentos para suprir a todos, as famílias reduzem a quantidade de comida ou há uma ruptura no padrão de alimentação, ou seja, na quantidade de refeições por dia, na qualidade do que vai para a mesa.
Insegurança alimentar grave – A família passa fome (sente fome por falta de dinheiro para comprar alimentos, faz apenas uma refeição ao dia ou fica sem comer um dia inteiro).
Foram feitas entrevistas em 12.745 lares brasileiros, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. O nível de insegurança alimentar foi medido pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), metodologia também utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: IG ECONOMIA