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Aos 33 anos de idade, Bruno Fagundes colhe os louros de um trabalho intenso como produtor e protagonista da peça “A Herança“, em cartaz em São Paulo. Porém, nem sempre foi assim.
O ator, que assumiu uma relação homoafetiva com Igor Fernandez em janeiro deste ano, revela que enfrentou muitos obstáculos até conseguir o seu espaço na carreira artística.
Em entrevista ao gshow nos bastidores da peça, que estreou há pouco mais de uma semana e já esgotou seus ingressos para a parte 1, o intérprete do protagonista Eric – jovem escritor que enfrenta dilemas em suas relações homoafetivas na década de 1980 – diz que a vida toda foi cobrado para ser igual ao seu pai, Antonio Fagundes.
“Senti a pressão dos agentes de celebridades, dos empresários, diretores, do próprio mercado estruturado com homofobia, infelizmente”, conta.
“Sempre colocaram essa expectativa de ser como o meu pai em cima dos meus ombros. Se o pai é um cara reconhecido como galanteador e pode incitar desejos nas mulheres, o filho tem que ser igual e corresponder a isso. É uma pressão absurda”.
Apesar de conviver com o preconceito fora de casa, no âmbito familiar, Bruno sempre foi reconhecido como pessoa única.
“Durante a minha pré-adolescência e adolescência, sofri muito porque sabia que era diferente do meu pai, minha família sabia também e, de repente, tinha que corresponder à expectativa das outras pessoas”, relata.
Ao ser questionado se os seus pais conseguiam blindá-lo, para que ele não ficasse tão exposto aos ataques, o artista lamenta:
“Não tinha como. Todas as existências LGBTs são desprotegidas do Estado, da família. Meus pais não tiveram um exemplo saudável do que é ser gay, eles não sabem lidar, é algo estrutural, ainda mais vindo de uma geração anterior”.
Apesar disso, Bruno só tem elogios aos dois: “Ele [Antonio Fagundes] e minha mãe [Mara Carvalho] foram meus aliados. Os dois têm uma relação muito saudável e sou um elo para sempre. Então, sei que isso é um privilégio e pouquíssimas famílias agiriam como a minha agiu, que realmente me deu acolhimento e amor. Foi uma sorte”.
Protagonistas gays na TV
Após seu trabalho na novela “Cara e Coragem“, da Globo, Bruno Fagundes comemora o espaço que a teledramaturgia tem dado para que atores assumidamente homossexuais possam interpretar personagens de peso.
Assim como aconteceu com Jesuíta Barbosa, que foi protagonista em “Verão 90“, após revelar ser gay, e Johnny Massaro, que protagonizará “Terra e Paixão“, próxima trama das nove.
“Celebro essa mudança. O Jesuíta e o Johnny, que são meus amigos pessoais, assim como tantos outros que fizeram isso antes de mim. Eu reconheço. Esses homens me incentivaram a isso. O [Marco] Pigossi também, ele é meu amigo desde pequeno. Me inspiro neles”, afirma.
“A gente se ajuda nesse sentido. Se um quebra um pedacinho do muro, o próximo que vier quebrar vai ser a partir dali. Isso é muito bom e tem que ser assim”, comemorou.