SANI RAQUEL
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O dia 10 de setembro é oficialmente o dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a campanha iniciada nos Estados Unidos após o suicídio cometido por um jovem, Myke, em seu Mustang amarelo ganha força a cada ano, e aqui no Brasil, o tema escolhido pela ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina, é: – Se precisar, peça ajuda!
Na Grécia Antiga, o suicídio era considerado uma ofensa ao Estado (Minois, 2001), na Idade Média era considerado um ato criminoso e até egoísta, para o indivíduo que decidisse colocar fim à própria vida era-lhe recusado o direito de ser enterrado no cemitério e seus bens eram confiscados e dividido entre os nobres e a coroa (M, Murphy, 91), nos séculos XVII e XVIII os filósofos em sua maioria condenavam o comportamento suicida e alguns já reconheciam que poderia existir uma forte relação entre o suicídio e a melancolia ou outros distúrbios mentais, (Minois, 2001). No quesito religioso o suicídio sempre foi considerado um pecado contra DEUS sendo que em 1995 o Papa João Paulo II trouxe a oposição da igreja em relação ao suicídio e à eutanásia e bem como o aborto, considerando-os crimes contra à vida!
Para Carvalho et al (2017) as pessoas da sociedade atual vivem com um sentimento de fracasso por não obter a tão almejada sensação de felicidade, vivem com a sensação de felicidade, vivem com a sensação de alguma coisa está errada na sociedade. O mal-estar social resulta de alguma experiência instalada na consciência humana, como uma angústia, que faz com que muitos vivam como um andante sem rumo.
E aqui faço uma pausa para uma pergunta: – e você, o que pensa sobre o comportamento suicida?
Falo em comportamento porque o suicídio, ao contrário do que muitos pensam, não é um diagnóstico nem um transtorno mental, é um comportamento caracterizado pela ideação e o ato deliberado de auto aniquilação, ou seja, matar-se. A ideação se caracteriza por pensamentos sobre a morte como única via em momentos de crise, e uma crise pode ser desencadeada por ‘n’ fatores, tais como: morte de um ente querido, prejuízos financeiros, falências, desemprego, separação conjugal, adoecimento e dores crônicas, vícios, entre tantas outras situações da vida que podem ocorrer a qualquer momento e convida a pessoa a oferecer um comportamento e resposta para algo que ela não foi preparada! É como se de uma hora para outra à colocassem em um saguão escuro e ela descobrisse que além de não ver a saída, precisasse caminhar por um labirinto para talvez sair o mais breve possível! E aqui é importante refletir que, para cada pessoa a crise terá um peso e uma medida totalmente diferentes! Uns encontrarão a saída com calma, resiliência e bons sentimentos, como por exemplo: fé, esperança e tranquilidade. Já para outros será tão desesperador que o relógio parecerá parar, enquanto muito assustadas e desesperadas elas demorarão muito mais tempo para encontrar saídas e soluções além de precisarem da ajuda de outras pessoas!
Pausa para mais uma pergunta: – Você já passou por uma crise severa ao ponto de sentir vontade de desistir?
Os fatores que estão por trás do ato suicida são múltiplos e multifacetados, e envolvem uma interação única dos fatores biológicos, psicossociais e culturais para cada pessoa, ou seja, um suicídio não é um evento que ocorre num vácuo, de uma hora para outra, mas a consequência final de um todo. Um somatório que se essa pessoa não pedir ou receber ajuda, poderá ser trágico! Como podem ver, nem sempre um transtorno mental estará presente!
E por fim, a pergunta que fará a diferença e poderá contribuir para uma ação preventiva: – Se alguém próximo necessite de apoio, você saberia como ajudar?
É uma pergunta desafiante, eu sei, e acho natural pois ainda estamos caminhando à passos lentos em prol de uma sociedade que compreenda que praticar psicofobia é crime e poderá impedir ou atrasar a busca por ajuda profissional para pessoas que estão no seu limite!
Que Deus e religião não têm relação direta com essa pauta que é da esfera da saúde mental e emocional e deve ser tratada como tal.
Que silenciar, ignorar, julgar é pior e poderá levar o outro a se sentir ainda mais sozinho, incompreendido, podendo inclusive pensar que terminar com a vida para não sofrer ainda mais, é a única saída!
Que quem avisa, poderá se matar sim, e todas as precauções devem ser tomadas sempre que alguém falar em suicídio e uma delas e não a deixar sozinha!
Que o suicídio e um ato impulsivo e não é possível evitá-lo, o que não procede, pois, as pesquisas confirmam que na maioria dos casos de suicídios as pessoas deram algum sinal, que pode ser desde uma mudança de comportamento, fazer doações e testamentos até mensagem nas redes sociais!
Que o suicídio é hereditário, isso também não é totalmente verdadeiro e é sempre necessário avaliar outros fatores que possam estar presentes na vida da pessoa, por exemplo o histórico de doenças mentais em outros membros da família e o não tratamento associado à outros fatores.
Por fim, respondo que você poderá ajudar sempre que colocar as críticas e a indiferença de lado e oferecer apoio através de uma escuta livre de julgamentos, confirmando que naquele momento, sentada ao lado, segurando nas mãos ou oferecendo um abraço se a relação permitir, você estará com ela para apoiar, buscar ajuda, compreendendo a sua dor!
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, através do número 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Sani Raquel de Souza Neves Paixão. CRP 18ª/01332. Psicóloga, especialista em Gestão em Saúde (UAB/UFMT), Especializanda em Trauma e EMDR pelo INTCC. (RS), Formação em Terapia Familiar, Dependência Química, Prevenção ao Suicídio, Suicídio e Crise.