Essa frase, quase um pedido, soa mais como uma proposta de articulação contra um inimigo tão imaginário quanto a boa intenção de quem a difunde. Ela pode ter sido o motivo pelo qual a maior rede de comunicação do país e uma das maiores do mundo iniciasse a campanha “a globo não mostra” a algumas semanas em seu programa dominical de atualidades.
As cenas finais daquele programa foram no mínimo uma declaração de intenção e o reconhecimento de que já vivem a desesperança do declínio. Reflexo que se verifica quando de sua posição ambígua frente a quem se atreva a não lhes estender a mão pedindo cartas como se fossem eles os crupiês do jogo de pôquer da imprensa brasileira.
A mesma situação é vivida pelo que resta da politocracia em que se tornou o país nas últimas três décadas, desde a Constituição de 1988, aquela que a princípio conhecemos como a constituição cidadã, mas que de tão manipulada foi transformada na constituição dos políticos. A começar pelas mudanças em seu Artigo Primeiro, Parágrafo Único, alterado para permitir os privilégios do poder a quem o exerce. Onde se lia “todo poder emana do povo e em seu nome é exercido” lê-se desde então “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos direta ou indiretamente, nos termos desta Constituição”. Assim, uma nova constituição foi sendo reescrita por políticos para os políticos e para tornar-se sua própria tábua de salvação.
E o povo? O povo que se dane? O que nossos representantes eleitos menos fizeram até agora foi prestar contas a nós, seus representados eleitores, do que dizem fazer em nosso nome e que em verdade só a eles beneficia.
Dai, como se fossemos replicadores autômatos recebemos o tempo todo mensagens que dizem traduzir a verdade, que mostram a crueza dos fatos, que apresentam fatos incontestáveis, que prometem reverter situações irreversíveis e outras esperanças mais, bastando para tanto que vocês repassem sem dó seu conteúdo.
Ora bolas, isso é como tentar abraçar o vento. Um impropério tão grande como aquele que certa presidenta pensou poder ser feito ao sugerir estocá-lo como fonte de energia.
Marcelo Portocarrero é Engenheiro Civil/UFMT.