Apesar de revoltante, o cenário já não surpreende mais. As péssimas condições da BR-163 no Pará há anos causam transtornos aos motoristas que percorrem o principal corredor para o escoamento dos grãos que saem do Mato Grosso rumo aos portos do norte da país. Um problema recorrente, que expõem ao risco quem precisa passar pelo trecho, encarece as despesas com o transporte (numa matemática em que ninguém sai ganhando) e ameaça o ritmo dos embarques – e da colheita – da soja produzida no Centro-Oeste.
Quem achou que os atoleiros na estrada eram coisa do passado, se enganou. Bastou a chuva mostrar a cara na região, para que os pontos mais críticos do trajeto voltassem a causar problemas. E eles estão concentrados entre os municípios de Novo Progresso e Moraes Almeida. São os trechos ainda sem asfalto, com subidas íngremes e escorregadias que vencem a todos que tentam desafiá-los nestas condições.
O resultado é o de sempre: tráfego parado, filas gigantescas e uma imensa dúvida sobre quando será possível dar sequência na viagem. Nesta quinta-feira, dia 28, informações extra-oficiais indicam que as filas de caminhões “presos” na BR ultrapassem os 40 quilômetros.
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), são três os pontos de interdição onde há atoleiros. O Batalhão de Engenharia do Exército tem interditado os trechos para evitar que o transtorno fique ainda maior. Na Serra da Anita, a pista está parcialmente interditada e, pela manhã, apenas uma carreta de sete eixos e outros dois caminhões conseguiram seguir no sentido norte. A região de Riozinho das Arraias também está com a pista parcialmente interditada. Já na Serra do Moraes, a situação é ainda pior. Como a pista está muito escorregadia, o trânsito foi totalmente interrompido.
Quem possui caminhões presos nesse trecho relata a dificuldade dos motoristas. É o caso do empresário Marcos José Prodosimo, que possui uma frota de 25 caminhões. Destes, 17 estão desde domingo, dia 24, parados nos trechos críticos da estrada. Indignado com a repetição do problema “ano a ano”, ele cobra atitude e solução por parte do governo.
A distância entre a divisa com Mato Grosso e o porto de Miritituba-PA é de 707,4 quilômetros, segundo o DNIT. Atualmente, 658 quilômetros já estão pavimentados. Os 49 restantes foram divididos em dois lotes de obras, sendo que os três quilômetros ao sul da Vila do Caracol permanecem sob responsabilidade do DNIT. Os outros 46 quilômetros estão sob responsabilidade do Exército Brasileiro. A previsão – ou promessa – é que perspectiva é de que até o final deste ano todo o trecho esteja pavimentado.
Para o diretor-executivo do Movimento Pró-logística, Edeon Vaz, o cenário ainda precário da BR-163 vai pesar no bolso de quem produz. Com a falta de logística, o preço do frete tende a aumentar e o tamanho desta conta impressiona. A expectativa é de que este ano algo em torno de 12 milhões de toneladas de grãos (entre soja e milho) sejam escoados pela BR-163 rumo aos terminais instalados em Miritituba-PA. O custo adicional com o frete, segundo Vaz, pode chegar a R$ 600 milhões. Uma despesa elevada, de 3 vezes mais do que o valor necessário – segundo o Ministério da Infraestrutura – para custear a conclusão do asfaltamento da estrada.
Além do impacto no bolso, como a colheita da soja ainda está em andamento no médio-norte de Mato Grosso, outra preocupação é com o efeito-cascata que pode ser gerado caso a trafegabilidade da BR-163 permaneça comprometida por muitos dias. Como são muitos os caminhões “presos” na estrada, a expectativa é de que em alguns dias o cronograma de retirada dos grãos dos armazéns fique comprometida, aumentando o risco de faltar espaço para guardar a safra e, consequentemente, podendo forçar a interrupção da colheita em algumas propriedades.