Dias atrás, no silêncio da noite, como costumeiramente procuro fazer, me peguei em um sincero momento de profunda reflexão em minha residência.
Deitado em minha cama ou até mesmo no sofá, o que mais me chamou atenção e me motivou a redigir esse artigo, foram os últimos acontecimentos que assolam à nossa capital, e que, infelizmente, nos últimos dias parecem ter se intensificado ainda mais.
Para nós, que vivenciamos à política diariamente, é comum nos depararmos com certos questionamentos por parte do cidadão. Nesse momento, em especial no que tange a gestão pública municipal, que ultimamente vêm estampando Cuiabá nos principais veículos de comunicação, quando o assunto é referência em corrupção e má administração do dinheiro público, em especial na área da saúde.
Os questionamentos abrangem desde um clamor por um “pedido de ajuda/socorro” ou até mesmo um “até quando passaremos por isso? ”
São palavras de cidadãos honestos, de bem, que acordam cedo, trabalham duro para garantir o sustento da sua família e que somente querem poder gozar de um serviço público que supra às suas necessidades, na hora em que precisarem.
É desanimador, se deparar com amigos, colegas ou até mesmo conhecidos que se dedicaram anos ao exercício da saúde pública, mas que hoje se sentem desmotivados e exaustos, diante da situação de colapso em que nossa capital sobrevive.
“Falta o básico, desde os materiais de expediente, como caneta e papel ou até mesmo os medicamentos mais comuns e simples, como a dipirona”. Essa foi a fala que pude ouvir de um jovem amigo, de ensino médio, que recentemente se formou médico e já atua nas unidades básicas de saúde de Cuiabá.
É muito triste tudo isso. É desalentador todas as semanas abrir um jornal e ficar se questionando qual será a operação policial que a nossa querida capital sofrerá em mais uma semana, enquanto a população segue sofrendo.
Os mais de 10 secretários afastados ou presos por suspeita de corrupção, os milhares de medicamentos encontrados vencidos e que poderiam estar salvando a vida de centenas de cuiabanos, os salários atrasados dos profissionais não é mais novidade para ninguém e Cuiabá pede socorro.
À bem da verdade, esse é um dos momentos mais difíceis e sofridos que Cuiabá enfrenta e o tempo nos encarregará de mostrar os verdadeiros protagonistas desse amargo período.
Para tentar ajudar, em uma tentativa de respeito aos cuiabanos, o Ministério público estadual (MPE), buscou decretar a intervenção do Estado na saúde pública de Cuiabá. A primeira nos quase 304 anos de existência da capital de Mato Grosso.
Intervenção essa, que fora também aprovada, em sua grande maioria, pelos nossos Deputados Estaduais, e que em menos de 15 dias de exercício, já pôde reacender um pouco da esperança no coração dos cuiabanos em poder usufruir de uma saúde pública de qualidade e que respeite o cidadão.
A ideia é clara, objetiva e baseada nos anseios do cidadão, “identificado os problemas que não são poucos, busque-se IMEDIATAMENTE a solução. ” Nossa gente não pode esperar! Vidas não esperam! O cidadão merece respeito!
Com isso, em poucos dias, os resultados já começam a ser visíveis.
Os leitos de UTI pediátrica do HMC e do antigo Pronto Socorro já voltaram a funcionar e podem abrigar os nossos “cuiabaninhos” que possam precisar desse espaço, bem como outros leitos e espaços que estavam inativos também.
A convocação imediata de médicos REAIS e não fantasmas, como ocorria, preparados para suprir às necessidades das unidades básicas de saúde, aos poucos, começa a ser realizada, assim como a compra de diversos medicamentos que já estão sendo direcionados às unidades de saúde de Cuiabá.
E, assim, aos poucos as coisas começam a se ajeitar.
“Essa intervenção não é um desejo do Governador ou do Governo do Estado. Isso é fruto de uma decisão judicial baseada no caos administrativo em que o nosso município passa”. Essa foi a fala de um jovem deputado novato, Beto Dois a Um (PSB), em um de seus pronunciamentos na Assembleia legislativa.
E, é isso, Deputado. Em poucas palavras, você descreve o que nós cuiabanos sentimos angustiadamente em nossos corações.
O momento não é de holofotes ou de expor quem possa ser melhor, ou pior. As decisões não podem ser tomadas pensando em possíveis futuros dividendos eleitorais. A sociedade, no momento certo e oportuno, saberá fazer esse julgamento. O intuito agora é o de priorizar e pensar na vida dos cuiabanos.
Enfim, talvez, esse artigo possa soar como um desabafo, mas que somente se dá pelo simples fato, de como um cidadão comum e de bem, acreditar que esse é um momento de muita união, não só entre nós, mas, principalmente, entre os poderes instituídos também.
No entanto, uma pergunta não pode deixar de ser dita. O poder judiciário está agindo. A Assembleia Legislativa e o Governo do Estado também. Todavia, e a nossa Câmara Municipal? E os Vereadores cuiabanos, onde estão?
É abominável se deparar com o posicionamento de alguns Vereadores, que na tentativa desesperadora em defender o indefensável, buscam sugerir que o chefe do executivo municipal pode estar sendo vítima de uma suposta perseguição, nesse momento.
Ora, francamente! Perseguição?
Realmente, posso até concordar! Perseguição da corrupção, iniciada e defendida por ele mesmo, a partir do momento em que optou por tapar os seus olhos, perante todos os desmandos que sempre ocorreram na Secretaria de saúde de Cuiabá.
Enfim, é difícil dizer, mas necessário. É muito triste acompanharmos uma Câmara totalmente alienada às vontades do executivo municipal. É desanimador se deparar com Vereadores que trocam um parágrafo importante da sua história de vida pública por meros “penduricalhos” na máquina pública municipal.
Para ser bem fiel à verdade dos fatos, a Câmara, mais uma vez, perde a oportunidade de se tornar protagonista de um dos momentos mais importantes da história, e novamente, cede espaço ao verdadeiro ambiente dos horrores. Justiça seja feita e o total respeito aos Vereadores cuiabanos, Dilemário Alencar (PODEMOS), Dr. Luiz Fernando (REPUBLICANOS), Michelly Alencar (UNIÃO), Eduardo Magalhães (REPUBLICANOS), Demilson Nogueira (PP), Sargento Joelson (PSB), Robinson Cireia (PT), Maysa Leão (CIDADANIA) e Fellipe Correa (CIDADANIA), que não se omitiram, lutaram o bom combate e ficaram ao lado da população cuiabana. Como diria um renomado escritor e sociólogo brasileiro, “na vida nem tudo é sobre ganhar ou perder, mas sim sobre tentar. Sinceramente, eu detestaria estar no lugar daqueles que me venceram por um momento. ”
(*) GABRIEL GUILHERME é Suplente de Vereador por Cuiabá, bacharel em Direito e pós-graduado em Direito eleitoral.