A GAZETA
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Líder de esquema criminoso desmantelado pela Polícia Federal já foi denunciado por fraude milionária por sonegação de impostos. Ary Flávio Swenson Hernandes integrava o grupo que causou um prejuízo acima de R$ 600 milhões aos cofres públicos com um esquema de falsas exportações. Agora, o suspeito é apontado como a liderança da organização criminosa desarticulada na Operação “Grão Branco”, que atuava no tráfico internacional de drogas.
A PF de Mato Grosso deflagrou, nesta quinta-feira (6), operação para desarticular grupo que agia no tráfico interestadual e internacional de drogas, trazendo cocaína da Bolívia em aviões e caminhões carregados de soja e milho para a distribuição.
Os criminosos compravam as aeronaves em nome de pessoas e empresas laranjas e usavam pistas de pousos clandestinas no Estado para descarregar o entorpecente, de onde seguia em caminhões para a distribuição. De acordo com a PF, os funcionários eram recrutados por uma grande quantia em dinheiro. Para um voo de 3h a 4h, por exemplo, eram pagos cerca de R$ 100 mil aos pilotos. Considerada a maior operação da PF no Estado, foram cumpridos ontem mais de 200 mandados, entre prisão e apreensão, também em Mato Grosso do Sul, Tocantins, Amazonas, Maranhão, Pará, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Desde o início das investigações, em 2019, quando o esquema foi descoberto após apreensão de 495 quilos de cocaína em Nova Lacerda (546 km a oeste de Cuiabá), os trabalhos possibilitaram a apreensão de
aproximadamente 3,8 toneladas de cocaína, além da identificação de diversos associados e suas tarefas. Há indícios de que, depois da distribuição no país, parte da droga ainda era enviada para a Europa. Durante as apurações, não ficou comprovada a participação de fazendeiros ou produtores no esquema.
38 prisões
Entre os mandados expedidos pela 1ª Vara da Justiça Federal de Cáceres havia 38 de prisão e 72 de busca e apreensão, além do sequestro de todos os bens de 103 pessoas físicas e jurídicas investigadas. Entre as apreensões feitas estão 10 aeronaves, armas, carros e imóveis de luxo, além de drogas. Em uma residência de alto padrão em Várzea Grande, os agentes prenderam um dos alvos e apreenderam proximadamente R$ 60 mil em notas de R$ 100 e dois carros.
Ary, apontado como o líder da organização, já estava preso por tráfico em Corumbá (MS) e foi novamente alvo de mandado de prisão por causa da operação. Agora, a PF solicitará a transferência para um presídio de segurança máxima. Isso porque há suspeita de que mesmo de dentro da unidade ele mantinha a liderança no esquema. Em São Paulo, foi preso um homem considerado o braçodireito do líder criminoso.
Delegado da PF, Adair Gregório, afirma que o bando movimentava muito dinheiro e o objetivo da operação não era apenas as prisões e apreensões, mas também a “descapitalização” do grupo por meio de sequestro de bens e contas. Ele diz que a quantia movimentada durante os anos está sendo levantada, mas aponta, por exemplo, que só em um dos carregamentos interceptados em uma aeronave a carga estava estimada em R$ 8 milhões.
O nome da operação se deve ao transporte de grãos (soja, milho) do Estado para São Pauo que o grupo utilizava para justificar as viagens das carretas que transportavam a cocaína. De acordo com Gregório, para camuflar o crime, o transporte de grãos era “legal” e atendia a todas as normas.
O delegado lembra ainda que em razão da complexidade da operação, foi necessário o apoio de instituições locais, como Grupo Especial de Fronteira de Mato Grosso, Polícia Judiciária Civil e Militar, além de militares de MS e SP. A Força Aérea Brasileira (FAB) e Polícia Rodoviária Federal também integraram a ação.
Início e prisão
As investigações iniciaram em 2019, após a apreensão de 495 quilos de cocaína em Nova Lacerda pela PF e o Gefron. Em toda a investigação, houve a apreensão de quase 4 toneladas de cocaína, aeronaves e veículos de transporte da droga, além da prisão de 20 pessoas.
O líder do esquema criminoso, Ary, já condenado por tráfico de drogas, enquanto foragido da Justiça brasileira, controlava a logística do transporte da droga. O monitoramento era feito de uma mansão em um condomínio de luxo em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
No ano passado, por meio da cooperação internacional com a Polícia Boliviana (CERIAN-Centro Regional de Inteligência Antinarcóticos), Ary foi expulso do país e entregue às autoridades brasileiras, iniciandoo cumprimento da pena do crime. Seus familiares e outros integrantes da organização criminosa continuaram a comandar a logística de transporte da droga.
Vulcano
Ary é um dos 32 denunciados por envolvimento em um esquema de importações e exportações ilegais de produtos através da fronteira do Brasil com a Bolívia. A ação era praticada em Cáceres (225 km a oeste)
e Corumbá (MS). A prática causou um prejuízo acima de R$ 600 milhões e o grupo foi desarticulado em 2008 pela PF, na operação Vulcano, realizada em 8 estados.
O grupo era formado por importadores que prestavam declarações falsas aos órgãos de controle, empresários que, por meio de fraudes, simulavam exportações a países vizinhos, e servidores públicos da Receita Federal corrompidos, que recebiam propina em troca de facilitar o funcionamento do esquema.
De acordo com as investigações, Ary era um dos proprietários do recinto alfandegado em Cáceres e recebia propina para não realizar a devida fiscalização das importações feitas.
A denúncia foi feita 8 anos depois pelo Ministério Público Federal. Ary foi denunciado por facilitação de contrabando ou descaminho.
O processo ainda tramita. A última movimentação foi em 2020, do julgamento de uma apelação de um dos envolvidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).