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“Não tem como voltar a ser o que era”, diz especialista

O bioma Amazônia está em chamas. Composto por nove Estados, o que representando 40% do território nacional, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, a região se tornou o centro das atenções do Brasil e do mundo por enfrentar uma grande onda de incêndios que se intensificou neste mês.

O número de focos ativos registrados na área aumentou 359% de julho para agosto deste ano, alcançando 24.417 focos nesta quinta-feira (22), conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Somente a Amazônia concentra 52,6% dos pontos de queimadas. O município de Altamira, no Pará, carrega o desolador título de campeão em focos de incêndio, com 2.481 pontos. Os dados são fruto de medições feitas até quinta-feira pelo Inpe.

Pedro Ferreira, coordenador do Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que os impactos do que vem ocorrendo nas florestas tropicais são difíceis de ser calculados e que a área pode até ser recuperada, mas não será igual ao que era:

— Não tem como voltar a ser o que era. Mas é possível trabalhar com a via da restauração passiva, que é quando a gente deixa a natureza encarregada pela sua própria renovação. O problema é que temos muitos focos de incêndio e esse processo poderia levar um período incalculável, porque depende dos estragos sofridos por cada região.

Se for adotada esta opção, é preciso que haja floresta matriz ao redor, porque o processo de restauração se torna mais rápido. Contudo, a área devastada é muito extensa. Sozinha, ela não volta a ser o que era.

O especialista aponta, então, que é preciso apostar na restauração ativa, ou seja, a que requer investimento em equipe técnica para promover o reflorestamento e também a compra de muitos insumos agrícolas. Ele ressalta que as florestas tropicais são marcadas e reconhecidas por sua biodiversidade e que a perda de um hectare na Amazônia corresponde à morte de milhares de indivíduos das mais variadas espécies e envolve ainda a liberação de toneladas de carbono na atmosfera. Vale lembrar que as altas concentrações de gases do efeito estufa podem potencializar o aquecimento natural causado pela atmosfera terrestre e levar a mudanças climáticas e ao aumento das temperaturas.

Impacto na vida selvagem

Ao portal NBCNews, dos EUA, Robin Chazdon, professor emérito da Universidade de Connecticut, que estudou ecologia de florestas tropicais, disse que “os efeitos da destruição da floresta na Amazônia não permanecem na Amazônia. Eles afetam a todos nós (…) já que os incêndios contribuem para as emissões de carbono”. E destacou que se as florestas tropicais “não puderem se regenerar ou ser reflorestadas, elas não serão capazes de recuperar seu alto potencial de armazenamento de carbono”.

Em entrevista ao site norte-americano National Geographic, Mazeika Sullivan, professor associado da Escola de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade Estadual de Ohio, que realizou um trabalho de campo na Amazônia colombiana afirma que o impacto na vida selvagem dos animais será sentido em um curto espaço de tempo.

Ele explicou que, em situações extremas como esta, os animais têm poucas escolhas: “Eles podem tentar esconder-se ao cavar ou entrar na água. Eles podem ser deslocados. Ou eles podem perecer. Nessa situação, muitos animais morrerão por causa das chamas, do calor das chamas ou da inalação de fumaça”.

— A Amazônia é um importante rio aéreo. É este bioma que viabiliza a existência das nossas cidades, porque é ele quem traz chuva para o Centro-Oeste e Sul. Outras regiões que estão no mesmo paralelo desta área do território do Brasil são desertos e elas só são desérticas, porque não tem quem desempenhe o papel da Amazônia. Esta é a importância deste bioma, é por isso que precisamos preservá-lo — afirma Ferreira.

O coordenador do Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata da PUCRS afirma, por fim, que o cenário é complexo e exigirá grandes esforços para ser revertido.

— O problema pode ter solução, mas esse é o típico caso em que é melhor prevenir do que remediar. O que vimos foi o Ministério do Meio Ambiente cortar em 95% o orçamento previsto para a implantação de políticas sobre mudanças climáticas. Não é o Executivo nem as ONGs que fazem as queimadas, mas foi o governo quem cortou os repasses que tinham como objetivo minimizar as queimadas — diz Ferreira.

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